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forma, para Freire, a escola deve estar pautada em um modelo de “pedagogia fundada na
ética, no respeito à dignidade, à própria autonomia do educando”.
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Nas palavras de Freire,
nas diferentes realidades educacionais, a prática docente deve procurar aguçar a
curiosidade dos educandos, principalmente por meio de pesquisas na troca de saberes. No
ensino/aprendizagem por meio das atividades lúdicas, o conteúdo interage com os
objetivos a serem trabalhados no momento oportuno. Na troca de saberes entre o
professor e os educandos, estes constroem e reconstroem seus saberes desenvolvendo sua
autonomia. “Os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da
reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo”
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.
Este mesmo problema se revela nos processos de evangelização. Desde a América
Latina e Caribe, a Teologia da Libertação percebeu que ao julgar a realidade com os valores
do Evangelho, precisava superar os abismos entre as classes sociais. Na visita ao Brasil, do
Papa Bento XVI, no ano de 2007, por motivo da Conferência de Aparecida, referendou a
opção pelos pobres e denunciou o crescente distanciamento “entre pobres e ricos e se
produz uma inquietante degradação da dignidade pessoal com a droga, o álcool e as sutis
miragens de felicidade”
16
.
A pergunta feita por Gutiérrez, anos atrás (2003), de “onde dormirão os pobres?” segue ainda
atual e ela deve ser pronunciada insistentemente como denúncia profética, pois a existência de
estruturas de pobreza, o aumento do número de pobres em nossas cidades e entornos, com
vários rostos, como disse o Documento de Aparecida, rostos que doem em nós (DAp 407-430),
exige de nossa parte uma postura crítica pela teologia, uma postura de denúncia à sociedade e às
estruturas religiosas que não se posicionam de maneira firme contra esta realidade.
1.3 AGIR: a fé que age pelas obras (Tg 2,20)
O agir está intrinsecamente ligado ao conceito de “práxis” em sua forma germinal,
isto é, como “palavra-ação”. Para Paulo Freire, “produzida pela ‘práxis’, palavra cuja
discursividade flui da historicidade – palavra viva e dinâmica, não categoria inerte (...).
Palavra que diz e transforma o mundo”.
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Em termos teológicos, o agir é a encarnação do
julgar, dentro do ver. De certa forma, se fecha o círculo hermenêutico, comprometendo
essas pessoas como sujeitos de um processo de intervenção e transformação da realidade.
A primeira questão, em termos da luta por essa “educação”, cujos critérios foram
analisados no julgar, é quais são as pessoas que se apresentam como sujeitos do processo. O
“senso comum” pode levar a visualizar o círculo “docente-discente”, ou, um pouco mais
ampliado, o conjunto das pessoas cujas atividades profissionais são exercidas no meio educativo
(incluindo funcionários e funcionárias das mais diversas áreas) e, ainda mais ampliado, os
núcleos familiares dos e das estudantes. Mas, se olharmos para a proposta freiriana de
“desvelamento” ela sempre é aberta, destinada não apenas a uma parte do processo de transformação
(seja esta a educação), mas ao processo como um todo a partir desta parte. Segue Freire:
Aqui, propriamente, ninguém desvela o mundo ao outro e, ainda quando um
sujeito inicia o esforço de desvelamento aos outros, é preciso que estes se
tornem sujeitos do ato de desvelar. O desvelamento do mundo e de si mesmas,
na práxis autêntica, possibilita às massas populares a sua adesão
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.
14 Paulo FREIRE, Pedagogia da autonomia, p.16.
15 Paulo FREIRE, Pedagogia da autonomia, p.26.
16 Sessão inaugural dos trabalhos da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, na sala de
conferência do Santuário de Aparecida – discurso (13 de maio de 2007).
17 Paulo FREIRE, Pedagogia do Oprimido, p.13.
18 Paulo FREIRE, Pedagogia do Oprimido, p.104.
ZANINI, Rogério L.; GONÇALVES, Humberto Maiztegui
Fraternidade e educação: A Campanha da Fraternidade numa abordagem freiriana do método Ver-Julgar-Agir
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 10-18, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.