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A METODOLOGIA
HISTÓRICO-EVANGELIZADORA
1
THE HISTORICAL-EVANGELIZING
METHODOLOGY
Ivanir Antonio Rodighero*
Ivanir Antonio Rampon**
Resumo: A metodologia constitui-se uma preocupação constante no
processo formativo da Itepa Faculdades. A Instituição busca no diálogo
permanente entre a teoria teológico-pastoral e prática pastoral
evangelizadora possibilitar a formação acadêmica que contemple as
características desta região com suas comunidades eclesiais. uma tensão
permanente devido às provações dos contextos, perspectivas da
comunidade, do/a agente e da graça de Deus, em vista de novas respostas. A
Metodologia Histórico Evangelizadora se remete a esta dinâmica na medida
em que provoca para a observação, o registro, a partilha e aprofundamento
na sala aula durante o estudo da disciplina de Metodologia e Prática Pastoral
e o reencaminhamento. Este, por sua vez, passa a ser o recomeço do
processo de observação, registro e de aprofundamento teórico. É uma
metodologia que requer a mística do seguimento a Jesus Cristo.
Palavras chaves: Metodologia. Teoria. Prática. Mística. Formação.
Participação. MHE.
Abstract: The methodology constitutes a constant concern in the training
process of ITEPA College. The Institution seeks in a permanent dialogue
between practical-pastoral theory and evangelizing pastoral practice to
enable an academic training that contemplates the characteristics of this
region with its ecclesial communities. There is a permanent tension due to
the trials of the contexts, to the perspectives of the community, the agent
and the Grace of God, in view of new answers. The Historical Evangelizing
Methodology refers to this dynamic, insofar as it provokes the people for
the observation, the recording, sharing and deepening in the classroom
during the status of the disciplines of Methodology and Pastoral Practice
and their forwarding. This, in turn, becomes the restart of the process of
observation, recording and theoretical deepening. It is a methodology that
requires the mystique of following Jesus Christ.
Keywords: Methodology. Theory. Practice. Mystic. Formation.
Participation. MHE Historical Evangelizing Methodology.
v. 39, n. 133, Passo Fundo,
p. 61-71, Jul./Dez./2022,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v39i133.111
* Possui graduação em Filosofia pela
Universidade de Passo Fundo, graduação em
Teologia pelo Instituto de Teologia e Pastoral
de Passo Fundo, especialização em
Epistemologia das Ciências Sociais pela
Universidade de Passo Fundo e mestrado em
Teologia Dogmática pela Pontifícia
Faculdade de Teologia Nossa Senhora da
Assunção.
E-mail: ivanirantonio.itepa@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-2195-3252
** Possui graduação em Filosofia pela
Universidade de Passo Fundo, graduação em
Teologia pela Itepa Faculdades, mestrado em
Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e
Teologia, doutorado em Teologia Espiritual
pela Pontifícia Universidade Gregoriana de
Roma.
E-mail: iarampon@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0003-2882-440X
Recebido em 23/07/2022
Aprovado em 29/10/2022
1 Este texto tem sua origem no artigo de: RAMPON, Ivanir Antonio; RODIGHERO,
Ivanir Antonio. A eclesiologia do Papa Francisco e a Metodologia Histórico-
Evangelizadora. In ZANINI, Rogério Luiz; REIS, Ari Antonio dos (Org.). Eclesiologia
perspectivas teológica-pastorais. Passo Fundo: Berthier, 2022.
62
A presente reflexão é desenvolvida a partir da experiência metodológica realizada na
Faculdade de Teologia e Ciências Humanas, Itepa Faculdade, durante os 40 anos (1982-
2022) de atuação. Neste percurso ocorreram muitas práticas, reflexões e produção de
registros, relatórios e textos documentados, também, em livros e revistas. Trata-se, aqui,
de recorrer ao caminho percorrido, tentando escutá-lo atentamente para visualizar as
lacunas e acertos e, principalmente, descrever a Metodologia Histórico-Evangelizadora
(MHE) da Itepa Faculdades.
Este processo foi descrito em duas obras que tentam relatar a teoria e a prática da
MHE
2
e mais recentemente foi resgatado o legado deixado pelo Pe. Elli Benincá, um dos
mentores da MHE, em duas obras: Formação de educadores-pesquisadores: contribuições de Elli
Benincá e Itepa Faculdades: 40 anos reetindo sobre EvangELLIzação
3
.
1 A METODOLOGIA DA ITEPA FACULDADES
A perspectiva metodológica da Itepa Faculdades fundamenta-se na Palavra de Deus,
na Tradição Eclesial, especialmente aquela oriunda Concílio Vaticano II, das Conferências
Latino-americanas, da CNBB e da reflexão de nossas igrejas locais, mais recentemente, no
magistério do Papa Francisco. Este referencial remete-nos a um “fazer pastoral” que
procura contemplar o processo participativo, provocando um diálogo permanente entre a
“teoria pastoral” e a prática pastoral realizada pelos discentes e docentes. O nome da Itepa
Faculdades, na sua origem, era “Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo”
4
sugerindo que a pas toral necessitava ocupar um espaço significativo. As Constituições
apresentam a pastoral como um eixo inte grador da formação teo lógica numa perspectiva
metodológica participativa, que envolve o estudo da teologia e a ação pastoral.
A Instituição, desde sua origem, procura refletir metodologicamente sobre a
pastoral a par tir de suas espe cificidades: “preparar os futuros sa cer dotes da região [...] ser
cen tro de pesqui sa e reflexão teológica”
5
. As metas contemplam significativamente a
dimensão pasto ral exercida de forma consciente, participativa e reflexiva. Este quesito
explicita-se quando se refere à metodolo gia pas toral: “A pastoral deverá ser desenvolvida ao
longo de todo o perí odo de preparação teológica. O engaja mento pastoral será uma exi ncia
para o ingresso no curso
6
. E no currículo encontram-se oito disciplinas que tratam diretamente
sobre vários ramos da pas toral, porém, todas as disciplinas precisam ter cunho pasto ral.
Esta postura, também, fundamenta-se no Concílio Vaticano II. Este aponta com
nitidez que nos estudos teológicos: “A solicitude pastoral, [...] deve penetrar toda formação
dos estudantes[...]” (OT 19). O Decreto Optatam Totius (OT) pede que os seminaristas
tenham formação em todos os aspectos, incluindo a formação intelectual... e estes possuem
por finalidade formar pastores: “por isso, todos os aspectos da formação, o espiritual, o
intelectual e o disci plinar, em ação conjunta, devem ordenar-se a esse fim pastoral” (OT 4).
O Decreto desafia os estudantes “procurar as soluções dos problemas humanos sob a luz da
Revelação; aplicar suas verdades eternas à mutável condição das realidades humanas; e a
comunicá-las de modo adaptado aos homens de hoje” (OT 16).
2 Neri MEZADRI; Rodinei BALBINOT (Org.). MHE: metodologia da ação evangelizadora. Uma experiência no fazer
teológico-pastoral. Passo Fundo: Berthier, 2008. Elli BENINCÁ; Rodinei BALBINOT. Metodologia pastoral: mística
do discípulo missionário. 3ª ed. São Paulo: Paulinas, 2012.
3 Elton Henrique MÜHL; Telmo MARCON (Org.). Formação de educadores-pesquisadores: contribuições de Elli
Benincá. Passo Fundo: EDIUPF, 2022. Selina Maria DAL MORO; Ivanir Antonio RODIGHERO (Org.) Itepa
Faculdades 40 anos reetindo sobre EvangELLIzação. Passo Fundo: EDIUPF, 2022.
4 ITEPA, Constituições do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo - RS, p.6.
5 ITEPA, Constituições do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo - RS, p.6.
6 ITEPA, Constituições do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo - RS, p.8.
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
A Metodologia Hisrico-Evangelizadora
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 61-71, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
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A pastoral, por ser o “agir da Igreja no mundo”
7
, vem impregnada de conflitos. O
testemunho e o anúncio do Reino de Deus constituem-se em denúncia e ameaça ao
antirreino e aos acomodados. Porém, isto o é para a outra pessoa, mas serve também
e permanentemente para o evangelizador/a. Todos necessitamos de evangelização e de
conversão continuada. Por isso, a partilha da prática pastoral provoca reflexões sobre te
mas vi tais
8
. A apreensão dos pro blemas reais tais como desemprego, miséria,
desigualdade..., a partir da pastoral, nos primei ros anos de vida da Instituição, revelou-
se profundamente conflitiva. Os acadêmicos, que se engajavam e se com prometiam com a
prática pasto ral e com as comunidades onde atua vam, revelavam-se interessados pela
reflexão, o que, normalmente, não acontecia com os que encontravam dificuldades de
optar pela prática pastoral.
Um dos quesitos fundamentais é o planejamento pastoral, segundo o Pe. Jair
Carlesso, pois “planejar é um processo permanente de tomada de decisões. O plano de
ação, quando feito de forma comunitária e participativa, torna-se aglutinador de forças”
9
.
O Pe. Elli também destacava a importância do projeto:
Uma condição sica para que a metodologia pastoral possa construir seu processo
evangelizador é a existência de um projeto de pastoral. Este servirá como guia
para a prática pastoral dos agentes e comunidade. É um instrumento simples,
mas incorporado a consciência dos agentes de pastoral. Um projeto com mais
acadêmicos pode não ser prático nem construir-se em consciência disponível, e
por isso torna-se inútil. O projeto de pastoral passa a ser a mística do agente
10
.
Um dos constantes dilemas que perpassa a vida da Itepa Faculdades é o desafio de
como refletir sobre a prática pastoral. Como ajudar os acadêmicos a optarem pela pastoral,
pelas pessoas e pelas comunidades? Como auxiliar os estudantes de teologia para que
realizem a pastoral, elaborando um plano de pastoral? Como ajudar a refletir sobre a
prática pastoral (método, instrumental...)? Como fazer o elo entre a teologia e a pastoral?
Estas perguntas provocaram muitas reflexões, muitos sonhos e projetos, muitas que das,
mas no final desponta um sinal de esperança. É o que veremos a seguir.
1.1 Caminho Percorrido na Tentativa de Compreender a Prática Pastoral
Como vimos acima, uma das inquietações que tem perpassado a Itepa Faculdades é a
refle xão sobre a prática pastoral dos acadêmicos. Esta, por ser ação orga nizada dos
membros da Igreja no mundo, vem permeada de confli tos, ten sões, inseguranças,
impasses, divisões que requerem um pro cesso de reflexão constante.
Neste sentido, ao longo dos anos, foram criadas rias estratégias para refle tir sobre
a prática pastoral dos acadêmicos. A primeira postura do Itepa, na sua origem (1983-1984),
foi a de ini ciar um processo de reflexão sobre a prática pastoral dos acadêmicos nas
comuni dades seminarísticas. Cada comunidade era assessorada pelo padre as sistente. O
Instituto assumia a função de for necer um currículo numa perspectiva pastoral e
disciplinas espe cíficas (Pastoral I: análise da conjuntura da região - social, econômica,
cultural e religiosa; Pastoral II: princípios de evangelização e catequese; Pastoral III:
catequese de iniciação e catequese escolar; Pastoral IV: catequese de adultos; Pastoral da
família e dos jovens; Pastoral V: movimentos de Igreja; Pastoral VI: ecumenismo, seitas
7 João Batista LIBANIO, O que é pastoral?, p.11.
8 COMUNIDADE DE TEOLOGIA, Livro de Crônicas, p.7.
9 Jair CARLESSO, Planejamento pastoral, in Selina Maria DAL MORO; Ivanir Antonio RODIGHERO, Itepa
Faculdades: 40 anos reetindo sobre evangELLIzação, p.181.
10 Elli BENINCÁ, Metodologia pastoral; in: DIOCESE DE PASSO FUNDO, Caderno de formação - nº 2, p.53.
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
A Metodologia Hisrico-Evangelizadora
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populares, cultos afro-brasileiros, religiosidade popular; Pastoral VII: pastoral popular e
movimentos populares - sindicatos, cooperativas, partidos, legislação traba lhista...;
Pastoral VIII: organização paroquial e organização diocesana)
11
, e proporcionava
encontros men sais para estudar os planos de pastoral das quatro dioceses e organizava
uma partilha e dis cussão sobre questões mais candentes da prática pas toral
12
.
Esta articulação, Itepa/comunidade seminarística, foi significativa, mas o
contempla va os religio sos (as) e os leigos. Outra dificuldade mani festava-se nas comu ni da
des seminarísticas que não possuíam um for mador per manente (algumas comunidades de
seminaristas residiam em paróquias e o assistente os acompanhava esporadicamente). No
final de 1984 amadureceu a proposta de modificar a reflexão sobre a prática pastoral: a
partilha e a reflexão passaram a ser realizadas por setores, isto é, todos os que realizavam
pastoral num determinado campo (setor) encontravam-se, periodicamente, para planejar,
trocar experiências e avaliar, com a presença de um professor.
Esta proposta vigorou durante dois anos, 1985-1986. Ocorreram reflexões
interessantes, mas as dificuldades em refletir sobre a prática foi esmorecendo paulati
namente a eficácia da maioria dos setores. Em 1987, o Instituto reagiu, elaborando
subsídios e oficializando os antigos setores em disciplinas. O efeito foi adverso.
No segundo semestre de 1988 continuando até 1992, a reflexão sobre a prática
pastoral retor nou às pequenas comunidades, que elas possuíam assistentes permanentes.
O Instituto acompanhava a prática pastoral, através da criação da Equipe de Pastoral,
composta por um acadêmico de cada comunidade seminarística, um religioso, um leigo e
um professor. No decorrer destes cinco anos foram definidas as funções específicas nas
várias ins tâncias
13
. Uma das preocupações foi o estudo sobre a metodologia pastoral que
culminou com a elaboração de texto orientativo. A deficiência que se manifestou nestes
cinco anos foi o hiato que separava a reflexão teológica (no Itepa) e a prática pastoral (nas
pequenas comunidades). A teologia dissociada da pastoral tornava-se bastante abstrata e a
pastoral carente de fundamentos teológicos e de uma metodologia mais definida.
1.2 Nova perspectiva com a MHE
A partir de 1993 iniciou-se uma proposta nova que visava possibilitar ao acadêmico/
acadêmica realizar uma experiência coerente entre os estudos teológicos e a prática
11 ITEPA, Constituições do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo - Itepa, p.9-10.
12 A reflexão sobre como refletir, analisar e revisar a experiência pastoral foi sempre uma preocupação em nível de
Itepa: “como escrever e revisar a experiência pastoral” (Livro de Crônicas da Comunidade de Teologia, p. 11) e no
encontro de 05/09/83 foram elencados alguns elementos que poderiam ajudar na observação dos seminaristas que
atuavam em vila: “1 - Ver 1.1 - O que os vileiros fazem? a) o que pensam? b) o que falam? d) o que valorizam? c) que
aspiração pos suem? 1.2 - Como são vistos: a) pelos próprios vileiros? b) pela imprensa, polícia e povo? d) pela Igreja?
e) e por nós, os agen tes, como os vemos? 2 - Julgar 2.1 - Quais são as causas e consequências das situações
constatadas? 2.2 - Que princípios orientam e justificam o trabalho do agente de pastoral? 3 - Agir 3.1 - Que método
deve ser utilizado? 3.2 - Que atividades devem ser assumidas?” (Ibidem, p.26).
13 As instâncias foram assim definidas: Quanto à comunidade ou setor onde ocorre a ação pastoral dos alunos: -
O aluno deverá participar do planejamento, execução, avaliação, celebração em sintonia com os demais agentes e
com o plano diocesano de pastoral; - É necessário ter conhecimento da comunidade (história, desafios, impasses,
potencialidades, prioridades...); - Ação pastoral seja acompanhada pelo assistente ou alguém indicado pelo mesmo.
Quanto à comunidade seminarística: - Local para partilhar as experiências e celebrar a caminhada pessoal na
pastoral; - Planejamento pessoal sobre a pastoral e discussão do mesmo com a comunidade; - Aprofundamento da
experiência pastoral e as questões que exigem reflexões mais especializadas remeter ao Itepa. Quanto ao assistente e/
ou responsável: - Marcar presença, isto é, acompanhar o trabalho pastoral do estudante do Itepa para apoiar,
orientar, desafiar...; - Auxiliar os estudantes para conhecer e respeitar a vida da comunidade ou setor, iluminando
pela Palavra de Deus, documentos da Igreja e com a colaboração de outras ciências; - Aprofundar e remeter ao Itepa
os desafios oriundos das atividades pastorais. Quanto ao Itepa: - Estar atento e aprofundar os entraves da ação
pastoral; - Reunir os assistentes e/ou responsáveis para analisar como está sendo desenvolvida a prática pastoral e
juntos en contrar saídas; - Organizar uma equipe para pensar e dinamizar a pastoral” (in: Caminhando com o Itepa, p. 23).
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
A Metodologia Hisrico-Evangelizadora
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pastoral
14
. Para tanto, as disciplinas de pastoral específicas foram convertidas em sessões de
reflexões teológico-pastoral. Esta nova forma está utilizando os avanços metodológicos e
epistemológicos das ciências sociais e humanas. Tenta-se romper com a epistemologia
tradicional sujeito/objeto para uma epistemologia cujas relações são entre sujeitos. Isto
não é fácil na medida em que o esquema mental sujeito/objeto está introjetado inclusive
inconscientemente dentro de nós. Para superar esta postura concupiscente precisamos da
abertura à graça, do cultivo e de certa ascese espiritual, além dos recursos científicos
disponíveis no presente contexto.
A seguir, apresentaremos os passos metodológicos que o utilizados a fim de
favorecer a relação sujeito/sujeito na práxis pastoral. Tal metodologia busca ser coerente
com a prática de Jesus que o tratava as pessoas como objetos de sua ação, mas sujeitos
(ou o) na busca do Reino de Deus e sua justiça (Mt 6,33). Esta metodologia exige um
processo de constante conversão pastoral. Ora, no Evangelho de Marcos, as primeiras
palavras atribuídas a Jesus fazem justamente este grande apelo: “O tempo se cumpriu, e
o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia” (Mc 1,15).
1.2.1 Observação da prática pastoral
A observação constitui-se condição fundamental para se fazer ciência e isto vale
também à ciência pastoral. O ato de observar centraliza-se sobre três agentes ativos: o
contexto (situações geográficas, étnicas, estruturais e conjunturais da vida social, política e
econômica...), a comunidade (pos sui seu “modelo” de Igreja, corren tes teológicas, expressões
religiosas, valores, relações de poder e práticas) e o/a agente (insere-se na comunidade
olhando e atuando neste contexto e não a analisa “de fora-para”. Para tanto, o/a agente
analisa o seu conteúdo, suas convicções, métodos, modo de ser). A observação não se fixa
num dos polos, que na relação à comuni dade depende da forma como o/a agente
intervém e das condições (sociais, políticas, religiosas e culturais) para reagir. As relações
nunca se repetem, há sempre o original, o novo, as surpresas de Deus na vida cotidiana.
As ciências modernas, tanto as sociais como as exatas, têm na observação um
elemento de rigor. Mas nem todas procedem da mesma forma no decorrer da investi gação
e nem todas têm o mesmo conceito de observação. Nas ciências experimentais, por
exemplo, o pesquisador busca não se envolver no processo ao observar. Ele, o sujeito,
observa rigorosamente as reações e a dinâmica do observado, o objeto
15
. Na ação pasto ral
existe um/a agente em ação frente a outros agentes/sujeitos. Por isso, a observação do/a
agente de pastoral recai tanto para as reações da comunidade, do grupo, das pessoas como
para o seu próprio comportamento. A observação requer do/a agen te uma atitude
inquiridora, sempre desejosa de investigar e descobrir na rotina pastoral novos conhe
cimentos pastorais e teológicos
16
.
Esta postura supera a tendência do agente, principalmente o que está chegan do, de
julgar a comunidade a partir do seu jeito de ser e de seu modo de pensar e agir, ou de
supor que já conhece tudo.
14 A reflexão que segue se baseia nos textos do projeto de encaminhamento da reflexão da prática pastoral de março de
1993; nos relatórios de cada encontro de 1993-1994 e nas avaliações. Estes textos estão arquivados computador do Itepa.
15 Convém assinalar, no entanto, que mesmo nas ciências experimentais tal método é questionado, principalmente a
partir de teóricos da física quântica. Além disto, sabemos que não existe neutralidade científica pura, uma vez que as
pesquisas tendem a ser influenciadas por empresas que visam aumentar seus lucros...
16 Elli BENINCÁ, Metodologia pastoral; in: DIOCESE DE PASSO FUNDO, Caderno de formação - nº 2, p.41-43.
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
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1.2.2 Registro da pastoral
O registro constitui-se no segundo momento onde o/a agente reconstrói sua prática
pastoral e registra o acontecido, sem esquecer as três forças que se confrontam na pastoral:
contexto, agente, comunidade. Os registros vêm permeados por dúvidas, preocupações,
conquistas e descobertas. Esta postura tenta romper a prática pastoral que dicotomiza e
separa de um lado o sujeito e de outro o objeto. Os registros servem de matéria-prima às
sessões de estudo.
O registro consiste em uma elaboração simples, após a ação pastoral, através de
relatório ou de memória, isto é, descrição da ação pastoral contendo os elementos principais
e peculiaridades que chamaram atenção. Os agentes que atuam em mais de uma pastoral,
optam por uma prática a ser observada, registrada e refletida com rigor nas sessões de
estudo. Neste sentido, pressupõe-se que o agente ao se modificar frente à comunidade
observada, haverá de modificar-se igualmente nas outras mesmo não realizando o registro.
1.2.3 Sessões de estudo
A sessão de estudo estabelece um espaço para os agentes de pastoral, no caso os
acadêmicos da Itepa Faculdades, para se encontrarem e partilharem suas experiências e
procurarem explicitações teóricas para os problemas que enfrentam. Trata-se de um
esforço teórico para compreender a prática pastoral e, simultaneamente, realizar o
confronto entre a teoria teológica e a prática pastoral.
O ponto de partida é a leitura das observações que foram registradas anterior mente.
Este relato serve para identificar questões que necessitam ser refletidas e possivelmente
tornam-se hipóteses que remetem a novas observações durante determi nado tempo.
Outras questões precisam de assessoria para “desencalhar o barco”, ou seja, explicitar as
questões dúbias que envolvem a teoria teológica ou de outras áreas do conhecimento. As
sessões de estudo reencaminham à prática com uma nova luz teórica, uma nova
compreensão. O retorno à prática constitui-se no reinício da siste matização.
As sessões de estudo o registradas através de relatórios. Estes servem de referência
ao grupo. As questões candentes das sessões de estudo são remetidas para as respectivas
disciplinas, a fim de serem aprofundadas. É bom recordar que a análise da prática pastoral
se fundamenta na teologia. Este proce dimento supõe com preensão teológica (teoria) para
observar a prática. Esta teologia pode ser contestada ou modificada pela prática, desde que
esta também seja teorizada. Importante assinalar aqui, a importância de buscar luzes na
Palavra de Deus e reforços na tradição viva e no magistério da Igreja.
As ausências da observação e do registro da prática pastoral ocasionam nos agen tes,
geralmente, o hábito de dominação, de autoritarismo, de moralismo, já que os problemas e
os conflitos são vistos sempre e apenas do lado do povo e não conseguem perceber as
limitações de sua ação.
Os acadêmicos, ao ingressarem no Bacharelado de Teologia da Itepa Faculdades, são
instruídos para elaborar o plano de pastoral
17
e fazer os seus registros. Os relatos revelam
17 No projeto constarão: 1 - problematização da temática a ser tralhada, isto é, elencar os possíveis problemas que se
encontrará no apostolado; 2 - contextualização do ambiente onde vai se realizar o trabalho pastoral; das comunidades
(situação social e educacional, étnica e tradição teológico-religiosa); do agente de pastoral com seus anseios, expec
tativas e dificuldades, condição de inserção e condições de trabalho dos agentes e dos fiéis; 3 - objetivos da pastoral; 4
- fundamentação teológica (sociológica-filosófica-metodológica); 5 - metodologia com fundamentação,
procedimentos e passos a serem dados; 6 - ações estratégicas do agente de pastoral para desenvolver o projeto de
pastoral (pedagogia); 7 - tempo disponível e horários para a ação pastoral e para a reflexão da prática pastoral; 8 -
materiais necessários; 9 - bibliografia (ITEPA, Projeto para Curso de Teologia Regular, p. 5-6. ITEPA, Relatório de
11/4/94; p. 27-28).
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
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que a prática pedagógica da sala de aula pode se munir das melhores estratégias didáticas,
mas, se o/a agente não assumir a pastoral como opção de vida e de fé, a sessão de estudo
dificilmente ultrapassa o nível do senso comum. A opção pela pastoral implica numa
opção pela comunidade com quem trabalha. Optar pela comunidade significa entendê-la
como ela é, querer-lhe bem e buscar transformá-la. A capacidade de observar‑se
observando e o desejo de transformar-se trans formando formam a espiritualidade do/a
agente, fazendo do método mais que um método, ou seja, tornando-o mística pastoral.
No final do relatório, o/a relator/a registra um parecer descritivo geral sobre a sua
experiência para ser apresentado na aula de MPP. Este parecer explicita elementos de
espiritualidade da ação pastoral refletida, ou seja, aquilo que a tradição espiritual inaciana
chama de “moções interiores”. Importante assinalar que metodologia similar a esta foi
sugerida no Documento Preparatório e no Vademecum para o Sínodo “Por uma Igreja
Sinodal: comunhão, participação e missão”.
1.2.4 Reencaminhamento
A análise dos registros serve para identificar questões que necessitam de reflexão mais
sistematizada e especializada, além de, possivelmente, possibilitarem novas hipóteses que
remetem a outras observações durante determinado tempo. A reflexão envolve
aprofundamentos teóricos de ordem teológica e de outras áreas do conhecimento nas
questões suscitadas pela análise dos registros. Além disto convém dizer que diversos eventos
da Itepa Faculdades e, concomitantemente, de nossos Igrejas Particulares, surgiram das
reflees das pticas pastorais. Como exemplos podemos citar o Seminário sobre Espiritualidade,
Fóruns, Seminário Educação e Cultura do Bem-Viver e os Seminários da Pastoral da Sde.
2 A MÍSTICA DA MHE
A mística eclesiológica presente no magistério do Papa Francisco e na Metodologia
Histórico-Evangelizadora nos remete para um esforço de apreender, na prática, os desafios
dos contextos como “sinais dos tempos”, utilizando os referenciais teóricos que permitam
uma leitura adequada dos mesmos e, simultaneamente, aberta aos apelos do Espírito, em
vista da qualificação permanente dos agentes das comunidades, em configuração com o
Senhor. A mística de Jesus, expressa nos evangelhos, alimenta a autêntica práxis cristã.
Aqui nos detemos apenas em sete aspectos.
1º) Deus Trindade. A mística trinitária enfatiza a importância das relações
(“Trindade imanente” e “Trindade econômica”). Entre as Três Pessoas Divinas circula o
amor, o respeito às diferenças e a harmonia da unidade. Na “economia da salvação” (cf.
Santos Padres): 1º) Deus se revela numa iniciativa gratuita, a fim de estabelecer um
“diálogo benevolente” (hén) com os seres humanos; 2º) Deus capacita o ser humano para
acolher a Revelação, tornando-nos interlocutores do próprio Deus a partir da liberdade,
na (DV 2). Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, é o critério da experiência mística do
Mistério Trinitário. No Nazareno, o amor a Deus e o amor ao próximo estão
verdadeiramente juntos (1Jo 4,20)
18
. O Filho encarnado ausculta o Pai e os dramas dos
irmãos e das irmãs.
2º) Relações dialógicas. Precisamos educar-nos para o diálogo e para a participação
uma vez que, em nossas sociedades, a perspectiva autoritária possui raízes firmes. Os
oprimidos tendem a reproduzir o modo de ser dos opressores quando lhes advém uma
18 D. Pedro CASALDÁLIGA; José Maria VIGIL, Espiritualidade da libertação, p.123.128-129.
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
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oportunidade. Assim, educar-se para o diálogo e a participação é um dos exercícios
espirituais e pedagógicos mais necessários para construir a fraternidade universal e a amizade
social. O Papa Francisco tem incentivado a Igreja a abraçar cada vez mais esta postura (FT 103).
Ele, por exemplo, dedicou o capítulo VI da Fratelli Tutti para tratar desta temática específica
(o termo “diálogo” aparece 47 vezes no documento). Neste sentido, convém assinalar que a
Igreja está dando passos significativos com as experiências sinodais. Também a Campanha da
Fraternidade 2022 visava promover a educação com a “pedagogia do diálogo”.
A educação para o diálogo exige tempo e tempo de qualidade que permita
escutar, com paciência e atenção, até que a outra pessoa manifeste o que deseja dizer. Isto
requer a ascese de não começar a falar antes do momento apropriado (FT 48). Em vez de
começar a dar opiniões ou conselhos, é preciso assegurar-se de ter escutado. Isto implica
fazer silêncio interior, escutar sem ruídos no coração e na mente: despojar-se das pressas
em falar controlando a afobão, controlar a precipitão de decorro das próprias necessidades
ou das urgências em ter uma resposta acabada, dar espaço ouvindo além das palavras...
Muitas vezes as pessoas não precisam duma solução para os seus problemas, mas de
ser ouvidas, sentindo que se apreendeu a sua mágoa, a sua desilusão, o seu medo, a sua ira,
a sua esperança, o seu sonho. Todavia é frequente ouvir estes queixumes: “Não me ouve. E
quando parece que o faz, na realidade está a pensar noutra coisa”. “Falo-lhe e tenho a
sensação de que está à espera que acabe de vez”. “Quando lhe falo, tenta mudar de assunto
ou dá-me respostas rápidas para encerrar a conversa” (AL 137). Da mesma forma, é preciso
discorrer uma fala pensada, refletida, rezada, meditada, amadurecida, “com conteúdo”: “É
grande o desejo de que as comunidades criem espaços de escuta, que deem atenção e acolhida,
especialmente as vozes das mulheres, que são maioria absoluta nas pastorais e movimentos
19
.
3º) Fé inabalável no projeto de Jesus, o Ressuscitado. A inabalável em Jesus
Cristo faz participar do projeto do reino de Deus. Na compreensão de Elli Benin e
Rodinei Babinot, o agente de pastoral “expressa na sua mística da participação, o resultado da
experiência de um Deus comunhão [...]. A experiência de um Deus participação transforma-
se em fonte utópica da nossa fé e, por isso, razão do nosso esforço de participação”
20
.
4º) Metodologia de trabalho em equipe. Participar é tomar parte na ação com os
outros, trabalhar em equipe, requerer a ação da outra pessoa. “De fato, trabalhar em equipe
dá trabalho e existe a tentação de fazer as coisas sozinho”
21
. É necessário que cada um tome
parte e que todos os envolvidos no processo possam dizer a sua própria palavra. Marcos
nos mostra que o Nazareno necessitou escolher pessoas que ajudassem os irmãos e irmãs e
conseguissem consertar as redes rompidas no confronto com a sociedade opressora (Mc
1,16-20)
22
. O agir em equipe, em comunidade, requer a adoção do método participativo e a
consciência que a nossa está depositada num Deus que é comunidade. A Trindade é a
base sob a qual os agentes e a Igreja se constroem. O próprio Jesus suscitava
evangelizadores(as) (Mc 1,31.36-37.45), comunidade itinerante. Ser cristão ou cristã
implica em realizar o trabalho de evangelização em equipe/comunidade. Esta metodologia
provoca para conversão para valorização do outro e superar o espírito de superioridade
23
.
19 ARQUIDIOCESE DE PASSO FUNDO, Síntese Arquidiocesana do Sínodo 2021-2023, Escutar.
20 Metodologia pastoral, p.105.
21 ARQUIDIOCESE DE PASSO FUNDO, Síntese Arquidiocesana do Sínodo 2021-2023, Acompanhantes do Caminho.
22 Os discípulos e as discípulas não são os donos de Jesus, mas seguidores. René Guerre frisa que para tanto: “É preciso
que cada um se sinta responsável pelos seus irmãos; é preciso um acolhimento confiante e simpático do pensamento
e das atitudes dos outros, uma disposição em encontrar Jesus Cristo nos outros, a escutá-lo o que nos diz através dos
irmãos. É essencial um grande respeito a liberdade dos outros, nunca lhes impor nosso pensamento, nossas
atividades” (Espiritualidade do sacerdote diocesano, p.109).
23 José Gaston HILGERT, Elli BENINCÁ: o revolucionário humanista. Eldon Henrique MÜHL; Telmo MARCON,
Formação de educadores-pesquisadores: contribuições de Elli Benincá, p.171.
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
A Metodologia Hisrico-Evangelizadora
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 61-71, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
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5º) Capacidade de doação e despojamento. O Papa Francisco afirma: “Todos
estamos chamados a ser pobres, a despojar-nos de nós mesmos; e para isto devemos
aprender a estar com os pobres, partilhar com quem está privado do necessário, tocar a
carne de Cristo! O cristão não é alguém que enche a boca com os pobres, não! É alguém
que se encontra com eles, que olha para eles nos olhos, que os toca
24
. Infelizmente, dois mil
anos após o anúncio do evangelho e oito séculos depois do testemunho de Francisco de Assis,
estamos diante de um fenômeno de “iniquidade globale deeconomia que mata” (EG 52-60).
6º) Formação continuada. O processo de formação é gradual e permanente e isto
fica bem evidente no processo que Jesus realizou junto aos doze. O evangelizador ou a
evangelizadora, numa perspectiva evangélica, é simultaneamente discípulo/a. Enquanto
evangeliza está sempre na dinâmica do aprendizado permanente. Por outro lado, os
discípulos o sempre evangelizadores, porque a convivência amorosa com o Mestre os
leva a compartilhar de sua experiência. Discipulado e apostolado são “dois lados da mesma
moeda”; um não pode existir sem o outro. Ora, Pedro foi desafiado a avançar nesta
perspectiva: ele havia ido pescar por conta própria (Jo 21,3) e não pescou nada. Jesus
havia dito “sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Jesus será sempre a referência, tanto do
seguimento, quanto do discipulado missionário.
7º) Insistência em seus ideais. A busca do reino de Deus e sua justiça (Mt 6,33),
não se perdendo numa espiritualidade individualista (Mt 6,25-34), mas abraçando os
grandes ideais de “terra para todos, teto para todos, dignidade que o trabalho dá”, é muito
importante para quem, na prática, é discípulo/a e missionário/a de Jesus Cristo em
profundidade (Mc 4,16-17). Importante é não desanimar perante os obstáculos, mas
continuar na busca dos ideais, com ousadia e criatividade.
Com estas características, o/a agente é um revolucionário/a na medida que avança
para além da superficialidade e da exclusão, por isso transformador/a da sociedade, agente
da cidadania e de uma eclesiologia de comunhão da participação e, concomitantemente,
testemunha do Ressuscitado!
3 CONCLUINDO!
Na compreensão da Itepa Faculdades, a Metodologia Histórico-Evangelizadora necessita
tornar-se uma consciência assumida e um modo de ser. Atras da prática refletida e iluminada
pelo Evangelho, pode-se viver o “espírito do todo” e, de fato, assumir “as alegrias e as
esperaas, as tristezas e as anstias dos homens de hoje” (GS 1), principalmente dos mais
pobres (DM 14,2). Não existe uma metodologia fora da consciência. Os acadêmicos ou agentes
de pastoral; ao assimilar a MHE, vai tornando-a mística da ão evangelizadora.
Participar é ter parte na ação. É sentir a ação como sua. Sentir-se responsável
pela ação. Tomar parte em uma ação implica aceitar que outras partes também
tenham presença na ação. A integração das partes no todo da ação é feita pelos
objetivos e pela metodologia. Nenhuma das partes da ação pode pôr-se sobre as
demais do contrário as outras se anulam e deixam de ter compromisso (com-
pro-misso: igual à missão junto com a comunidade, em favor da mesma ou de
objetivo). Não havendo compromisso não se pode esperar que haja
responsabilidade. Ter parte na ação implica em ser responsável pela ação, mas,
ao mesmo tempo, ter consciência de que não representa o todo da ação, na qual
está integrado com as outras partes. Nem todas as partes operam da mesma
forma numa ação. Cada parte opera segundo suas condições e possibilidades.
24 FRANCISCO. Carta do Santo Padre ao Bispo de Assis por ocasião da inauguração do Santuário do Despojamento. Disponível
em: <https://www.vatican.va/content/francesco/pt/letters/2017/documents/papa-francesco_20170416_santuario-
spogliazione-assisi.html>. Acesso em: 17 dez. 2021.
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
A Metodologia Hisrico-Evangelizadora
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 61-71, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
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Tomar parte na ação significa entrar na ação e é por isso que se torna sujeito da
mesma. Se uma parte se nega a integrar-se nos objetivos da ação, ou dela se
ausenta, é o todo da ação que sofre ou se desintegra.
O poder decisório decorre dos objetivos da ação e o é propriamente das
partes. Estas apenas operam o poder, em favor da ão. O poder se localiza na
proposta acordada pelas partes. Quando não houver acordo sobre o exercício do
poder, é provável que alguém o assuma e localize o poder em si mesmo
25
.
A MHE tem como ponto de partida a prática dos acadêmicos e dos agentes de pastoral e
faz da ptica evangelizadora um processo e não uma soma de atividades. Para isto, tem alguns
passos que necessitam ser seguidos: a observação, o registro, as sessões de estudo (no caso do
Bacharelado de Teologia da Itepa Faculdades), as aulas de MPP e o reencaminhamento para
uma prática mais qualificada. O processo recomeça novamente. Somos seguidores daquele que,
também, se definiu como caminho (Jo 14,6) e os primeiros seguidores também se chamavam
grupo do Caminho (At 9,2). Neste sentido, a Síntese Arquidiocesana de Passo Fundo afirma:
A Itepa Faculdades destacou-se historicamente pelo “caminhar juntos” a
metodologia participativa, de escuta, de fazer, viver e rezar juntos é parte do seu
método teológico. Na prática, o método participativo é o método evangélico e
cristão, é o método que a Igreja vive. Alimenta-se de uma espiritualidade
encarnada, do seguimento a Jesus Cristo
26
.
REFERÊNCIAS BIBLI OGRÁFICAS
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de Passo Fundo: disponível em: https://www.arquidiocesedepassofundo.com.br/formacao/
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25 Elli BENINCÁ, Metodologia pastoral; in: DIOCESE DE PASSO FUNDO, Caderno de formação. nº 2, p.36-37.
26 ARQUIDIOCESE DE PASSO FUNDO, Síntese Arquidiocesana do Sínodo 2021-2023, Acompanhantes do Caminho.
71
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