68
oportunidade. Assim, educar-se para o diálogo e a participação é um dos exercícios
espirituais e pedagógicos mais necessários para construir a fraternidade universal e a amizade
social. O Papa Francisco tem incentivado a Igreja a abraçar cada vez mais esta postura (FT 103).
Ele, por exemplo, dedicou o capítulo VI da Fratelli Tutti para tratar desta temática específica
(o termo “diálogo” aparece 47 vezes no documento). Neste sentido, convém assinalar que a
Igreja está dando passos significativos com as experiências sinodais. Também a Campanha da
Fraternidade 2022 visava promover a educação com a “pedagogia do diálogo”.
A educação para o diálogo exige tempo – e tempo de qualidade – que permita
escutar, com paciência e atenção, até que a outra pessoa manifeste o que deseja dizer. Isto
requer a ascese de não começar a falar antes do momento apropriado (FT 48). Em vez de
começar a dar opiniões ou conselhos, é preciso assegurar-se de ter escutado. Isto implica
fazer silêncio interior, escutar sem ruídos no coração e na mente: despojar-se das pressas
em falar controlando a afobação, controlar a precipitação de decorro das próprias necessidades
ou das urgências em ter uma resposta acabada, dar espaço ouvindo além das palavras...
Muitas vezes as pessoas não precisam duma solução para os seus problemas, mas de
ser ouvidas, sentindo que se apreendeu a sua mágoa, a sua desilusão, o seu medo, a sua ira,
a sua esperança, o seu sonho. Todavia é frequente ouvir estes queixumes: “Não me ouve. E
quando parece que o faz, na realidade está a pensar noutra coisa”. “Falo-lhe e tenho a
sensação de que está à espera que acabe de vez”. “Quando lhe falo, tenta mudar de assunto
ou dá-me respostas rápidas para encerrar a conversa” (AL 137). Da mesma forma, é preciso
discorrer uma fala pensada, refletida, rezada, meditada, amadurecida, “com conteúdo”: “É
grande o desejo de que as comunidades criem espaços de escuta, que deem atenção e acolhida,
especialmente as vozes das mulheres, que são maioria absoluta nas pastorais e movimentos”
19
.
3º) Fé inabalável no projeto de Jesus, o Ressuscitado. A fé inabalável em Jesus
Cristo faz participar do projeto do reino de Deus. Na compreensão de Elli Benincá e
Rodinei Babinot, o agente de pastoral “expressa na sua mística da participação, o resultado da
experiência de um Deus comunhão [...]. A experiência de um Deus participação transforma-
se em fonte utópica da nossa fé e, por isso, razão do nosso esforço de participação”
20
.
4º) Metodologia de trabalho em equipe. Participar é tomar parte na ação com os
outros, trabalhar em equipe, requerer a ação da outra pessoa. “De fato, trabalhar em equipe
dá trabalho e existe a tentação de fazer as coisas sozinho”
21
. É necessário que cada um tome
parte e que todos os envolvidos no processo possam dizer a sua própria palavra. Marcos
nos mostra que o Nazareno necessitou escolher pessoas que ajudassem os irmãos e irmãs e
conseguissem consertar as redes rompidas no confronto com a sociedade opressora (Mc
1,16-20)
22
. O agir em equipe, em comunidade, requer a adoção do método participativo e a
consciência que a nossa fé está depositada num Deus que é comunidade. A Trindade é a
base sob a qual os agentes e a Igreja se constroem. O próprio Jesus suscitava
evangelizadores(as) (Mc 1,31.36-37.45), comunidade itinerante. Ser cristão ou cristã
implica em realizar o trabalho de evangelização em equipe/comunidade. Esta metodologia
provoca para conversão para valorização do outro e superar o espírito de superioridade
23
.
19 ARQUIDIOCESE DE PASSO FUNDO, Síntese Arquidiocesana do Sínodo 2021-2023, Escutar.
20 Metodologia pastoral, p.105.
21 ARQUIDIOCESE DE PASSO FUNDO, Síntese Arquidiocesana do Sínodo 2021-2023, Acompanhantes do Caminho.
22 Os discípulos e as discípulas não são os donos de Jesus, mas seguidores. René Guerre frisa que para tanto: “É preciso
que cada um se sinta responsável pelos seus irmãos; é preciso um acolhimento confiante e simpático do pensamento
e das atitudes dos outros, uma disposição em encontrar Jesus Cristo nos outros, a escutá-lo o que nos diz através dos
irmãos. É essencial um grande respeito a liberdade dos outros, nunca lhes impor nosso pensamento, nossas
atividades” (Espiritualidade do sacerdote diocesano, p.109).
23 José Gaston HILGERT, Elli BENINCÁ: o revolucionário humanista. Eldon Henrique MÜHL; Telmo MARCON,
Formação de educadores-pesquisadores: contribuições de Elli Benincá, p.171.
RODIGHERO, Ivanir Antonio; RAMPON, Ivanir Antonio
A Metodologia Histórico-Evangelizadora
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 61-71, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.