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c) Educar para a solidariedade: em contraposição à hegemonia de uma educação para a
individualidade, a competição e aos modos mercadológicos impostos pela grande mídia.
Há experiências positivas com quem podemos aprender. Experiência de partilha na
sociedade, nas igrejas e movimentos e também na educação formal e informal: “Uma das
características presentes em muitas das redes atuais é geração e vínculos de solidariedade
entre pessoas, grupos e instituições que participam das mesmas”
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.
d) Educar para o respeito ao diferente, às diferenças: reconhecer horizontalmente todas
as pessoas com etnia, religião, gênero e orientação sexual diferente das nossas. Vivemos
momentos de explicitação de horrores em relação às diferenças e temos a responsabilidade
de mudar essa realidade: “a prática preconceituosa de raça, classe, de gênero, ofende a
substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia
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.
e) Educar para a sustentabilidade: não dá para dissociar humanidade e natureza. Existem
experiências de sustentabilidade, com preservação da natureza (no campo) e de formas de
tratar os resíduos sólidos (na cidade) de modo a não destruir e não poluir o planeta.
Precisamos fazer conhecer cada uma dessas experiências: “na cultura indígena de alguns
povos da América do Sul, todos os seres, materiais ou não, dotados ou não de vida, precisam
ser respeitados, preservados ou conservados, como requisito ao próprio existir humano
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.
f) Educar para o compromisso social: não nascemos só para comer, beber, trabalhar
para o sustento... precisamos avançar no compromisso com as lutas sociais. Não podemos
estar fora das lutas em favor de mudanças para melhorar a situação dos empobrecidos e
vulnerabilizados: “há coletivos sociais que se propõem a fazer educação para uma sociedade
justa, aprendendo com as lutas populares”
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;
g) Educar para ser feliz: devemos buscar as condições para que todas as pessoas sejam
felizes, mas sabendo que a nossa felicidade não pode ser apenas individual e deve incluir
projetos coletivos de felicidade para todos: “a vida que vale a pena viver e que nos estimula a
degustá-la não se resume a uma simples luta contra a morte, mas é busca de um prazer
comum, e alegria duradoura, o deleite profundo, o gozo gratuito, a felicidade que contagia!
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).
h) Coerência entre discurso e prática: cabe destacar que o educador deverá ter sempre
coerência entre seu discurso e sua prática. Este é um exercício exigente para cada pessoa
que se propõe a educar na perspectiva libertadora. Ser parte do processo educativo como
alguém capaz de ensinar e de aprender ao mesmo tempo: “às vezes, mal se imagina o que
pode passar a representar na vida de um aluno, um simples gesto do professor”
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.
Finalizando esta reflexão, cabe lembrar que a nossa participação no trabalho de
mudança a partir da educação é fundamental e que não haverá mudança social sem a nossa
presença e a dos sujeitos envolvidos em cada luta por mudanças.
Para termos o mundo mais justo e humano que queremos, eduquemos sempre para a
partilha e para a solidariedade!
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.40, n.134, p. 77-89, Jan./Jun./2023. ISSN On-line: 2763-5201.
POSSANI, Lourdes de Fátima Paschoaletto
Educar para a partilha e para a solidariedade: Desafios atuais
15 POSSANI, Lourdes de Fatima Paschoaletto; SANCHEZ, Wagner Lopes, Formação ecumênica e popular em rede:
projetos e vínculos solidários, in: POSSANI, Lourdes de Fatima Paschoaletto; SANCHEZ, Wagner Lopes (Orgs.),
Formação ecumênica e popular e feita em mutirão: Curso de Verão 25 anos, p. 447–448.
16 FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p. 37.
17 ROCHA, André, Educação ambiental e trabalho: água, agroecologia e tecnologias sociais, in: BEOZZO, José Oscar
(Org.), Educar para a um mundo social e racialmente justo, p. 116.
18 ARROYO, Miguel González, Resistências por vida justa: matrizes de formação humana, in: BEOZZO, José Oscar
(Org.), Educar para a um mundo social e racialmente justo, p. 17.
19 MADURO, Otto, Mapas para a festa: Reflexões latino-americanas sobre a crise e o conhecimento, p. 31.
20 FREIRE, Paulo, Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa, p. 42.