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Entretanto, em todo tempo e lugar, e para toda pessoa, a
experiência de fé sempre ocorre mediada. Como afirma o
Evangelho, “ninguém jamais viu a Deus; o Filho [...] foi quem
o deu a conhecer (revelou, contou, narrou)” (Jo 1,18). Ou seja,
a experiência da fé cristã nasce mediada desde a sua origem,
pelo encontro com a existência humana de Jesus. Com o seu
corpo, os seus gestos, os seus discursos, a sua história, a sua
cultura. E, por sua vez, a pessoa que faz essa experiência a faz
pela mediação do seu próprio corpo – seus afetos, sentimentos,
sensações.
Ao longo da história humana, há também uma série de
outras mediações da experiência de fé. “A nossa relação
imediata com o rito nunca é tão direta como pensamos. Ela é,
por sua vez, mediada por
media
mais escondidas, mais antigas,
mas igualmente eficazes, que se chamam catecismo, teologia,
espiritualidade, devoção”
1
.
E há também mediações propriamente técnicas e
tecnológicas. Trata-se de artifícios e artificialidades que não são
“naturais”, mas inventados pelas pessoas na relação que
estabelecem entre si e com o sagrado. Os gestos, a fala, a
linguagem, os símbolos, os objetos, a arte, a arquitetura, a
música, a escrita, a imagem, o digital: é mediante essa
“complexa ecologia comunicacional”, na qual “tudo está
estreitamente interligado” (
Laudato si’
, n.16), que a experiência
de fé se torna possível.
O ser humano, portanto, emerge historicamente não apenas
como
religiosus
, mas também como
technologicus
– e, hoje, até
como
homo digitalis
. Essa articulação entre a dimensão religiosa
e a dimensão tecnológica é constitutiva da experiência religiosa.
E a liturgia também revela uma importante dimensão
comunicacional e tecnológica, que o digital não “inventa”
ab
1 Andrea GRILLO, “Spazio e tempo 3.0: affinità e incomprensioni fra tradizione
ecclesiale e multimedialità.” In:
Rivista di Pastorale Liturgica
, Brescia, n.338,
jan./fev. 2020, p.19, tradução nossa.
SBARDELOTTO, Moisés.
O digital e a vivência da fé