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A CAMPANHA DA FRATERNIDADE E
A CONVERSÃO DA IGREJA
THE FRATERNITY CAMPAIGN AND
THE CONVERSION OF THE CHURCH
Jose Adalberto Vanzella*
Resumo: A Campanha da Fraternidade, enquanto campanha quaresmal,
deve favorecer a conversão nos âmbitos pessoal, eclesial e social. Por isso, é
importante a análise da conversão pastoral da Igreja a partir dela. Para que a
conversão pastoral aconteça, é necessário assumir o seu processo, assim
como a compreensão e aceitação da doutrina do Concílio Ecumênico
Vaticano II. A Campanha da Fraternidade de 2023 nos oferece muitos
elementos que favorecem a conversão pastoral.
Palavras-Chave: Igreja. Campanha da Fraternidade. Conversão pastoral.
Abstract: The Fraternity Campaign, as a Lenten campaign, must favor
conversion in the personal, ecclesial and social spheres. Therefore, it is
important the analysis of pastoral conversion of the Church from it. In
order to pastoral conversion happens, it is necessary to assume its process,
as well as the understanding and acceptance of the doctrine of the Second
Vatican Ecumenical Council. The 2023 Fraternity Campaign oers us
many elements that favor pastoral conversion.
Keywords: Church. Fraternity Campaign. Pastoral conversion.
INTRODUÇÃO
O Texto-base da Campanha da Fraternidade de 2023, na sua
apresentação, nos afirma o seguinte:
“E o Brasil sente fome. Milhões de brasileiros e
brasileiras experimentam a triste e humilhante situação
de não poder se alimentar nem dar aos seus filhos e
filhas o alimento indispensável a cada dia. Por isso, a
CNBB apresenta, pela terceira vez, o tema da fome para
a Campanha da Fraternidade (1975, 1985 e 2023)”
1
.
v. 40, n. 134, Passo Fundo,
p. 11-22, Jan./Jun./2023,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:
dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v40i134.169
* Doutor em Teologia pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro -
PUC-Rio (agosto/2009). Mestre em Teologia
pelo Centro Universitário Assunção,
UNIFAI, (São Paulo). Licenciado em
Filosofia e Pedagogia respectivamente pelo
Centro Universitário Salesiano de Lorena -
UNISAL e pela Universidade de Taubaté -
UNITAU.
E-mail: adalbertovanzella@gmail.com
https://orcid.org/0009-0005-4367-2207
Recebido em 05/05/2023
Aprovado em 25/07/2023
1 CNBB, Campanha da Fraternidade 2023: Texto-Base: Fraternidade e Fome, p.7. Doravante
Texto-Base CF 2023.
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Diante disso, perguntamos: por que estamos na terceira edição deste tema? A
resposta é simples: porque o problema da fome não foi superado. Mas então perguntamos:
por que o problema da fome não foi superado? Claro que as respostas são muitas, mas vou
me ater apenas a uma: porque a Igreja não se converteu.
A partir dessa resposta, apresentamos a questão que irá ser trabalhada neste texto:
qual a importância da Campanha da Fraternidade para que aconteça a conversão na Igreja?
1 A PROPOSTA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE
A Campanha da Fraternidade tem como objetivos permanentes:
1 Despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus,
comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum;
2 Educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência
central do Evangelho;
3 Renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na
evangelização
2
, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e
solidária (todos devem evangelizar e todos devem sustentar a ação
evangelizadora e libertadora da Igreja)
3
.
A primeira fase da Campanha da Fraternidade será voltada para a renovação da
Igreja e do cristão, seguindo as propostas do Plano de Emergência e do Plano de Pastoral
de Conjunto, abrangendo as Campanhas que aconteceram entre 1964 e 1972. Nesta fase,
destacamos dois momentos: um primeiro, no qual aconteceram duas campanhas, 1964 e
1965, na qual a preocupação foi a renovação da Igreja e a segunda foi a renovação do
cristão, abrangendo as demais campanhas do período.
Este é um período de aprendizado e de grande crescimento da Campanha da
Fraternidade, tanto em termos quantitativos como em termos qualitativos.
O Concílio Vaticano II estava em andamento, porém a cada dia ficava mais clara a
proposta de Igreja que seria aprovada no Documento Lumen Gentium. Os bispos brasileiros
tinham a grande preocupação de fazer com que a proposta conciliar fosse compreendida e
assumida por todos os membros da Igreja no Brasil, de modo que a renovação da Igreja fosse
possível, realizando também uma das metas do Plano de Emergência. A realização da
Campanha da Fraternidade não apenas com a finalidade da coleta solidária, mas também
com um conteúdo evangelizador, apresentava-se como um novo instrumento para que esses
propósitos viessem a se concretizar. Assim, a preocupação foi que a Campanha da
Fraternidade abordasse os dois elementos fundamentais dessa renovação: o primeiro seria, a
partir do modelo de Igreja comunhão, despertar nos fiéis a consciência de pertença à Igreja a
partir da graça batismal; e o segundo seria voltado para a realidade paroquial, pois nela a
dimensão eclesial da acontece, que a paróquia é a referência eclesial para todos os fiéis,
visto que é nela que participam dos sacramentos e dela recebem os serviços prestados pela
Igreja. As organizações da Igreja que vão além da realidade comunitária e paroquial, como as
dioceses, as províncias eclesiásticas, as conferências episcopais regionais, nacionais e
continentais e os organismos da Igreja Universal são estranhos à maioria do nosso povo.
Esses objetivos de renovação da Igreja e do cristão se expressam nas Campanhas da
Fraternidade entre 1964 e 1972.
2 Somente quando a 35ª Assembleia Geral da CNBB, que aconteceu em 1997 em Itaici, aprovou a criação da Campanha
para a Evangelização a ser realizada no tempo do Advento com uma coleta específica para a evangelização é que os
recursos da Campanha da Fraternidade deixaram de custear a ação evangelizadora da Igreja no Brasil e passaram a
constituir os Fundos Nacional e Diocesano de Solidariedade, destinando recursos apenas para a ação social.
3 Cf. CNBB, Texto-Base CF 2023, p.36-37.
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No período compreendido entre 1973 e 1984, a Campanha da Fraternidade assume
as decisões das Conferências Episcopais de Medellín e Puebla, voltando-se para a realidade
social do povo, a denúncia do pecado social e a promoção da justiça. Neste mesmo período,
a Campanha se organiza, adotando o método Ver-Julgar-Agir e o Texto-base.
A partir de 1985, tem início o processo de redemocratização do Brasil, com o fim do
Regime Militar. Com isso, a Campanha da Fraternidade passa a abordar os principais
problemas que estão presentes na sociedade brasileira e que necessitam de superação,
como fome, saúde, educação, mundo do trabalho, etc., com o objetivo de contribuir com a
compreensão dos problemas, a reflexão aprofundada sobre os mesmos e busca de
caminhos para a sua superação.
A ação evangelizadora e pastoral tem um fundamento teológico que precisa ser
explicitado, uma vez que está alicerçada sobre ele. No caso da Campanha da Fraternidade,
o não conhecimento dos seus fundamentos teológicos tem causado graves problemas como
a desvinculação entre o tema e a motivação, a abordagem dos problemas unicamente a
partir de causas imanentes, sociais ou naturais, a não vinculação entre a mesma e o tempo
quaresmal. Esses problemas acabam por produzir respostas momentâneas da sociedade,
mas não frutos que permaneçam, porque não houve de fato conversão e, principalmente, a
falta de uma unidade eclesiológica que garanta e sustente a unidade do seu agir, assim
como o envolvimento de todos neste empreendimento, desde a sua concepção a cada
edição até a garantida da sua continuidade. Isso mostra para nós a importância da
compreensão eclesiológica da Campanha da Fraternidade.
2 A ECLESIOLOGIA DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE
A Eclesiologia é a reflexão sobre a Igreja e sua ação. A Campanha da Fraternidade é
uma ação da Igreja no Brasil, de modo que é objeto da Eclesiologia. A reflexão
eclesiológica tem, entre outras finalidades, uma prática: ajudar a Igreja a ser fiel na sua
missão. Como a Campanha da Fraternidade tem grande importância para a realização da
missão da Igreja no Brasil, a reflexão eclesiológica sobre ela representa uma contribuição
para que esta Igreja possa ser cada dia mais fiel a Deus no exercício da sua missão.
Para que haja melhor compreensão da importância da leitura da Campanha da
Fraternidade à luz da Eclesiologia, tomo, a título de introdução, a sequência da profissão
de segundo o símbolo apostólico, a partir da Igreja: “(Creio) na Santa Igreja católica, na
comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne” (CIg 95).
A profissão de nos traz a Igreja após a profissão de Trinitária, o que nos mostra
ao mesmo tempo uma dependência teológica e um vínculo entre a Trindade e a Igreja que
precisa ser sempre melhor compreendido. Porém, é interessante perceber que logo depois
da profissão de na Igreja, vem a profissão na comunhão dos santos, na remissão dos
pecados e na ressurreição da carne. Este fato demonstra a missão de todos os batizados a
partir da na Igreja: gerar comunhão e conversão para tornar possível a vida nova. A
Campanha da Fraternidade torna-se um caminho para que todos possam assumir a
própria responsabilidade diante do batismo.
Enquanto tem por objetivo a fraternidade, quer que todos vivam como membros da
mesma família que tem um Pai que está nos céus, sendo solidários uns com os outros e
construindo juntos um projeto comum, de modo que se torna caminho de comunhão.
Enquanto é uma campanha quaresmal, que privilegia a oração, o jejum e a esmola,
tendo como horizonte o mistério pascal, traz elementos para que todos possam viver a
espiritualidade deste tempo santo, buscando a conversão e a configuração a Cristo, que
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vem pela remissão dos pecados e abre espaço para que “a vida divina possa crescer cada dia,
não obstante o mal que nos cerca”
4
. Assim, a Campanha da Fraternidade é um meio
concreto proposto pela Igreja no Brasil para que todos possam viver melhor a dimensão
eclesial da própria fé.
O Concílio Vaticano II adotou o caráter pastoral, procurando adaptar-se às novas
exigências do tempo presente (SC 1). Para isso, substitui o modelo de sociedade perfeita
pelo modelo de povo de Deus, expresso de modo especial na Lumen Gentium que,
curiosamente, não cita a experiência do povo de Israel na sua caminhada entre o Egito e a
Terra Prometida. O modelo de Igreja povo de Deus vai se impor e abrir caminho para uma
eclesiologia de comunhão.
A comunhão na Igreja é o grande sinal para que o mundo creia (cf. Jo 17,20-23). Por
isso, um dos principais desafios para a atuação da Igreja no Brasil é tornar-se escola de
comunhão (DGAE 2003-2006, 18), tendo a Trindade como modelo e paradigma. A
Campanha da Fraternidade é um instrumento de grande valia para que a Igreja no Brasil
responda à altura a esse desafio, de modo que é necessária uma reflexão sobre a Campanha
da Fraternidade tendo como fundamento teórico a eclesiologia a partir da Trindade.
A Igreja é obra da Santíssima Trindade. Ela é desejada pelo Pai, criatura do Filho,
sempre de novo vivificada pelo Espírito Santo. A Igreja deve ser, na história, a
manifestação da vida trinitária. Deve ser uma epifania do Deus uno e trino.
A Lumen Gentium afirma que a Igreja é na história o sacramento da “intima união
com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1). Como continuadora da missão
de Cristo, celebra a eucaristia, sacramento da nova e eterna aliança na qual acontece essa
íntima união com Deus. A partir da comunhão com Deus, vem a decorrência da
necessidade da comunhão entre as pessoas porque para que todos estejam em comunhão
com Deus, devemos necessariamente estar em comunhão entre nós. Esta comunhão
acontece em Cristo, pois “todos os homens são chamados a esta união com Cristo, que é a
luz do mundo, do qual procedemos, por quem vivemos e para quem tendemos” (LG 3)
5
.
O Espírito Santo é o grande dom pascal. Pentecostes é a realização da promessa feita
por Jesus de não nos deixar órfãos, mas enviar o Paráclito. A presença do Espírito Santo
possibilita a comunhão entre o povo de Deus e a Trindade, sendo que a comunhão eclesial
deve, no Espírito e através do Filho, voltar ao Pai, até o dia em que tudo seja submetido ao
Filho e esse ao Pai tudo confie. Na Igreja acontece esta comunhão na sua fase histórica,
tendo como meta a própria Trindade
6
. A Igreja, inter temporaruma para a Trindade na
invocação, no louvor e no serviço, sob o peso das contradições do presente e enriquecida
pelo júbilo da promessa (LG VII)
7
.
A Igreja estruturada a partir da comunhão trinitária deverá manter a originalidade e
a riqueza dos dons do Espírito, superando pela comunhão as tensões ministeriais diversas,
em fecundo acolhimento recíproco das pessoas e das comunidades, na unidade da fé, da
esperança e do amor. (cf. LG II-VI)
8
.
A Igreja é sacramento da comunhão de todos com Deus. É sacramento de comunhão
de todos com o Pai enquanto povo de Deus; é sacramento de comunhão de todos com o
4 Rito para o Batismo de crianças, aprovado pela Sagrada Congregação para o Culto divino em 13 de maio de 1970.
Invocação para a renovação das promessas do batismo, n.56. Este rito não está mais em uso e esta invocação foi
alterada no novo rito, sendo que a frase citada foi suprimida.
5 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.20.
6 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.21.
7 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.23.
8 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.36.
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Filho enquanto Corpo Místico de Cristo; é sacramento da comunhão de todos com o
Espírito Santo enquanto templo vivo do divino Hóspede.
A identidade eclesial encontra-se na relação entre as pessoas, sendo que
isoladamente ninguém é Igreja. Por isso, a promoção da comunhão deve ser um princípio
educativo da ação da Igreja. Ela deve ser escola de comunhão, criando ao mesmo tempo
instrumentos exteriores que viabilizem a educação para a comunhão e, ao mesmo tempo,
despertando nas pessoas uma disposição interior para a vida comunitária.
A Campanha da Fraternidade tem uma tarefa de grande importância a partir dessa
exigência da Igreja de ser ícone da Trindade. O primeiro objetivo permanente da
Campanha da Fraternidade é despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus,
comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum. A Campanha da
Fraternidade tem um importante papel de formação da consciência para a vida
comunitária. Esta formação supõe uma fundamentação dogmática que deve unir
cristologia, eclesiologia e antropologia
9
.
A eclesiologia a partir da Trindade, ou seja, a eclesiologia de comunhão favorece esta
formação porque, partindo da comunidade perfeita, estabelece os princípios para a vida
comunitária. A Campanha da Fraternidade realizada a partir da eclesiologia de comunhão
é um instrumento valioso para a formação da consciência comunitária porque envolve as
pessoas na vida da Igreja desde o processo da escolha do tema até as ações que marcam a
continuidade da campanha. Neste processo, temos o planejamento participativo da campanha,
a corresponsabilidade na sua execução, a participação de todos no processo de avaliação e a
inserção da Campanha no processo de planejamento pastoral da Paróquia e da Diocese.
A missão dada por Jesus é fazer discípulos seus todos os povos (Cf. Mt 28,16-20). A
comunidade cristã vai ter uma missão desde o seu início: o anúncio do querigma,
entendido como palavra de Deus proclamada com o objetivo de pôr a humanidade numa
justa relação com Deus através da em Cristo (EO 20). Esta é a missão permanente da
Igreja até o final dos tempos: anunciar a morte e a ressurreição de Jesus e o perdão dos
pecados por meio do batismo
10
.
3 MODEL OS DE IGREJA
Os modelos foram usados em larga escala para a demonstração de conceitos no
pensamento científico em geral e podem ser de grande valia para a teologia enquanto
podem sintetizar conhecimentos ou explicitar aquilo que somos inclinados a crer
11
.
Também são utilizados como que materialização dos enunciados com os objetivos de
figurar uma realidade e orientar para a realidade para facilitar uma experimentação
12
.
A teologia trabalha o mistério religioso, que é para as pessoas menos acessível do
que o universo científico, e por isso, a nossa linguagem deve ser entendida como modelo,
ou seja, como aproximação do mistério que é objeto do nosso estudo
13
. Por fazer referência
ao mistério, os modelos sempre fazem referência a um dado revelado como, por exemplo,
a vinha, o templo ou o reino. Ele está ligado à experiência primária da vida da Igreja e
9 A Igreja na América Latina procurou para fundamentar a Pastoral de Conjunto a partir da cristologia, da eclesiologia
e da antropologia. Um exemplo é a verdade sobre Jesus Cristo, a Igreja e o homem, presente de forma especial no
Documento da Conferência de Puebla. No Brasil, este princípio está presente no Objetivo Geral das Diretrizes
Gerais da Ação Pastoral da Igreja no Brasil 1983/1984, Doc. 28 da CNBB.
10 Cf. V. CODINA, Para compreender a eclesiologia a partir da América Latina, p.42.
11 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.23.
12 Cf. B.P. BUCKER, O feminino da Igreja e o conflito, p.59.
13 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.22.
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significa uma representação objetiva do ser da Igreja, enriquecendo o diálogo entre ciência
e fé e orientando os comportamentos na Igreja
14
.
3.1 O modelo instituição
Para cumprir a sua missão, a Igreja necessita de uma estrutura organizacional a
partir da qual a Igreja realiza as suas três funções: ensina, santifica e governa
15
. Assim, a
partir da instituição, a Igreja acolhe em seu seio as pessoas em vista da sua salvação,
contribuindo para o feliz destino eterno dos homens. Aos que não pertencem formalmente
à instituição, ou seja, aos que o foram batizados, a Igreja vai ao seu encontro por meio
do trabalho missionário, pois assim pode trazê-los ao seio da instituição e salvá-los
16
.
3.2 Modelo comunhão mística
Um dos elementos essenciais da Igreja é a vida comunitária, que de certa forma está
expressa no modelo anterior. O modelo comunhão mística procura destacar o elemento
que é peculiar na Igreja, que não é o institucional, mas a dimensão vertical da vida
comunitária, a vida que vem de Cristo encarnado e que é comunicada a todos pela ação do
Espírito Santo e é manifesta na imagem do Corpo de cristo
17
. Este modelo volta-se para o
mistério da vida interior da Igreja, que é a caridade, dom e presença do Espírito Santo
18
.
3.3 Modelo sacramento
Todos os sacramentos o sacramentos da Igreja e a tornam sacramento. A liturgia
é o ápice para o qual se orienta toda a atividade da Igreja e a fonte de todo o seu poder.
Por isso, existe uma conexão entre a Igreja como sacramento primordial e os sete
sacramentos rituais que exprimem a sacramentalidade da Igreja como um todo, como um
sinal eficaz da graça salvífica, pois a graça de Cristo está presente
19
e se manifesta na
prática eclesial, beneficiando todos aqueles que são capazes de vincular a vida à fé,
intensificando a resposta das pessoas à graça de Cristo, pois podem vincular a instituição
visível com a comunhão de graça.
3.4 Modelo arauto
Neste modelo querigmático, radicalmente centralizado em Jesus Cristo e nas
Sagradas Escrituras, a Palavra é o elemento principal e o sacramento é o elemento
secundário, pois a Igreja recebe uma mensagem oficial e tem a responsabilidade de
transmiti-la
20
.
Igreja e Palavra são duas realidades inseparáveis, pois a Palavra congrega o povo de
Deus, o povo dos que creem, dos que respondem positivamente ao Evangelho, fonte da
sua unidade garantida pela presença do próprio Cristo no meio dos que se reúnem em
seu nome
21
.
14 Cf. B.P. BUCKER, O feminino da Igreja e o conflito, p.60-64.
15 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.37.
16 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.42.
17 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.52.
18 Cf. B.P. BUCKER, O feminino da Igreja e o conflito, p.67.
19 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.75-76.
20 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.83-84.
21 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.86-92.
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3.5 Modelo serva
Este modelo é muito sensível às mudanças históricas e às relações da Igreja com o
mundo
22
. Nele, a Igreja reconhece a autonomia da cultura e das ciências e estabelece
relações com ambas, respeitando suas realizações, tornando-se mais eficaz no anúncio do
Evangelho e compartilhando os mesmos interesses da humanidade, considerando-se parte
da família humana. Assim, a Igreja entra em diálogo com o mundo, agindo da mesma
forma que Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir, fomentando a
fraternidade entre as pessoas
23
.
A Campanha da Fraternidade, enquanto acontece na América Latina, sofre
influência de todos os modelos eclesiais, porém são mais marcantes as influências dos
modelos instituição, seja no primeiro período da Campanha, seja a partir da participação
institucional tanto na elaboração da Campanha como na sua realização, principalmente
enquanto delimita o seu âmbito de atuação como, por exemplo, a Campanha da
Fraternidade de 2008, com o tema “Fraternidade e defesa da vida”, que tinha como
objetivo geral: Levar a Igreja e a sociedade a defender e a promover a vida humana, desde a sua
concepção até a sua morte natural, compreendida como dom de Deus e corresponsabilidade de todos,
na busca de sua plenificação, a partir da beleza e do sentido da vida em todas as circunstâncias, e
do compromisso ético do amor fraterno
24
, no entanto fixou sua atenção quase que
exclusivamente na questão do aborto.
Também aparece o modelo serva quando a Igreja, atenta aos apelos de Medellín e
Puebla, volta-se para os graves problemas de injustiça social da América Latina e busca a
sua superação, principalmente a partir de 1978, quando adota o método Ver-Julgar-Agir.
Neste período também percebemos a presença do modelo comunhão, expresso de modo
especial na Campanha de 1976: “Caminhar Juntos”.
Os que adotam os modelos de Igreja como Povo de Deus e Igreja Serva representam
a força que faz com que a Campanha da Fraternidade continue acontecendo, antes de tudo
porque são capazes de ver a importância da atuação da Igreja no mundo, assim como a sua
dimensão secular, e também o capazes de relacionar a com a vida a partir da lógica da
Encarnação e das exigências da caridade, que deve manifestar-se em gestos de
solidariedade e na ação sociotransformadora.
4 A CONVERSÃO PASTORAL
O termo conversão pastoral apareceu pela primeira vez no Documento de Santo
Domingo:
A Nova Evangelização exige a conversão pastoral da Igreja. Tal conversão deve
ser coerente com o Concílio. Ela abrange tudo e a todos: na consciência, na
práxis pessoal e comunitária, nas relações de igualdade e autoridade; com
estruturas e dinamismos que façam presente, cada vez com mais clareza, a Igreja
enquanto sinal eficaz, sacramento de salvação universal
25
.
Se a conversão deve ser coerente com o Concílio, a eclesiologia conciliar deve ser
assumida por ela. Isso significa que precisamos superar as visões pastorais pré-conciliares e
anti-conciliares que estão presentes na Igreja, assim como superar o modelo de pastoral de
22 Cf. B.P. BUCKER, O feminino da Igreja e o conflito, p.74.
23 Cf. A. DULLES, A Igreja e seus modelos, p.100-101.
24 CNBB, Texto-base CF 2008, n.13.
25 CELAM, Santo Domingo Conclusões, n.30.
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conservação. A “pastoral de conservação” é uma expressão que está presente no
Documento de Medellín:
Até agora a Igreja contou principalmente com uma pastoral de conservação,
baseada numa sacramentalização com pouca ênfase numa prévia evangelização.
Pastoral apta, sem dúvida, para uma época em que as estruturas sociais
coincidiam com as estruturas religiosas, em que os métodos de comunicação
dos valores (família, escola etc.) estavam impregnados de valores cristãos e onde
a fé se transmitia quase pela própria força da tradição.
Hoje, entretanto, as próprias transformações do continente exigem uma revisão
dessa pastoral, a fim de que se adapte à diversidade e pluralidade culturais do
povo latino-americano
26
.
Nesta conversão, é importante estarmos atentos às questões sociais, de modo
especial àquelas que causam sofrimento e exclusão social. Assim afirma do documento de
Aparecida:
... a Igreja está convocada a ser ‘advogada da justiça e defensora dos pobres’
diante das ‘intoleráveis desigualdades sociais e econômicas’, que ‘clamam ao
céu’. Temos muito que oferecer, visto que ‘não dúvida de que a Doutrina
Social da Igreja é capaz de despertar esperança em meio às situações mais
difíceis, porque se não esperança para os pobres, não haverá para ninguém,
nem sequer para os chamados ricos’ (DAp 395).
Isso significa que para que haja verdadeira conversão pastoral, precisamos abrir os
nossos olhos para a realidade que nos cerca, combater a injustiça social e lutar para
transformar a cidade atual em Cidade santa (DAP 516), numa renovação autêntica que
“exige conversão de pessoas e estruturas, tendo em vista que individualidade e coletividade
constituem dois aspectos de uma realidade única que é a vida humana. Converter significa
optar por uma nova direção e, a partir dessa, refazer os objetivos e as estratégias de ação e,
em muitos casos, o próprio modo de ser
27
.
Devemos escolher a direção do pobre e nos converter para ele. Devemos olhar a
realidade da pobreza e agir a partir dela:
A imensa maioria dos católicos de nosso continente vivem sob o flagelo da
pobreza. Esta tem diversas expressões: econômica, física, espiritual, moral, etc.
Se Jesus veio para que todos tenhamos vida em abundância, a paróquia tem a
maravilhosa ocasião de responder às grandes necessidades de nossos povos.
Para isso tem que seguir o caminho de Jesus e chegar a ser a boa samaritana
como Ele. Cada paróquia deve chegar a concretizar em sinais solidários seu
compromisso social nos diversos meios em que ela se move, com toda “a
imaginação da caridade”. Não pode ser alheia aos grandes sofrimentos que vive
a maioria de nossa gente e que com muita frequência são pobrezas escondidas.
Toda autêntica missão unifica a preocupação pela dimensão transcendente do
ser humano e por todas suas necessidades concretas, para que todos alcancem a
plenitude que Jesus Cristo oferece (DAp 176).
Nesse sentido, a Campanha da Fraternidade oferece uma fonte inesgotável de meios
para a conversão pastoral da Igreja, principalmente porque a cada ano nos faz olhar para
uma necessidade concreta de conversão não só pessoal e social, mas também pastoral.
26 CELAM, Documento de Medellín n.6,1.
27 J.D. PASSOS, Conversão pastoral: desafios de renovação da Igreja.
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5 AS PROPOSTAS DA CF 2023 PARA A CONVERSÃO PASTORAL
Todos os anos, a Campanha da Fraternidade se apresenta com uma proposta de
conversão tanto em âmbito pessoal como comunitário e social a partir de uma situação de
pecado presente em nossas vidas e, este ano, somos chamados a viver esta experiência a
partir do problema da fome. Assim ela nos diz no número 1 do Texto-base:
A QUARESMA é o Tempo favorável para a conversão. Contudo embora a
conversão seja um movimento inicialmente pessoal e interior (RH 20),' ela não
pode ser apenas uma atitude individual uma vez que a vontade de Deus, desde a
criação, se manifesta projeto de vida a um povo eleito, nutrido, formado e
enviado pelo próprio Deus. Na Nova Aliança, este povo somos nós, a Igreja,
chamada a ser sacramento de salvação integral para o mundo (cf. LG 48) E a
nossa conversão quaresmal deve desenvolver-se como realmente vontade de
Deus de modo pessoal, comunitário-eclesial e também social.
Portanto, a conversão implica em mudança de vida em todas as suas dimensões,
afinal de contas, não se trata de uma conversão a partir de elementos da nossa vida, mas
existencial. Assim como Jesus disse que veio ao mundo para que todos nós tivéssemos vida
em abundância (cf. Jo 10,10), a conversão deve atingir todos os âmbitos da nossa vida.
Portanto, atinge também a dimensão comunitária eclesial. Trata-se, na verdade, de uma
mudança de mentalidade que cause uma mudança em nosso agir e em todas as nossas
relações, uma conversão da mente, da vontade e do coração que nos torne livres e solidários
28
.
É por isso que a Campanha da Fraternidade de 2023 nos apresenta como objetivo
geral “SENSIBILIZAR a sociedade e a Igreja para enfrentarem o flagelo da fome, sofrido
por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta
realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo” e como o quarto objetivo específico:
“APROFUNDAR o conhecimento e a compreensão das exigências evangélicas e éticas de
superação da miséria e da fome”, e nos oferece como fonte de reflexão a Doutrina Social da
Igreja
29
, pois “o amor tem diante de si um vasto campo de trabalho, e a Igreja, nesse
campo, quer estar presente também com a sua doutrina social, que diz respeito ao homem
todo e se volve a todos os homens”
30
.
A Doutrina Social da Igreja não pode ficar apenas no âmbito da teoria, mas deve se
transformar em ações concretas de evangelização e de transformação social através da
atuação das Pastorais Sociais
A Igreja, com sua Pastoral Social, deve dar acolhida e acompanhar essas pessoas
excluídas nas respectivas esferas. Nessa tarefa e com criatividade pastoral,
devem-se elaborar ões concretas e que tenham incidência nos Estados para a
aprovação de políticas sociais e econômicas e atendam às várias necessidades da
população e que conduzam para n desenvolvimento sustentável. Com ajuda de
diferentes instâncias e um organizações, a Igreja pode fazer permanente leitura
cristã e aproximação pastoral à realidade de nosso continente, aproveitando o
rico patrimônio da Doutrina Social da Igreja (DAp 402-403)
31
.
A Igreja é serva e, como tal, está a serviço da humanidade em vista da superação dos
seus problemas à luz do Evangelho fazendo da história caminho para o Reino definitivo.
Nos diz o Texto-base da Campanha da Fraternidade de 2023:
28 Cf. CNBB, Texto-base CF 2023 n.170.
29 Cf. CNBB, Texto-base CF 2023 n.7.
30 Pontifício Conselho “Justiça e Paz”, Compêndio de Doutrina Social da Igreja, n.5.
31 CNBB, Texto-base CF 2023 n.163
VANELLA, Jose Adalberto
A campanha da fraternidade e a convero da igreja
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.40, n.134, p. 11-22, Jan./Jun./2023. ISSN On-line: 2763-5201.
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A Palavra divina ilumina a existência humana e leva a consciências a reverem
em profundidade a própria vida" (VD, n.99) Diante de questões tão dilacerantes
como as que se percebem quando o quadro da fome é apresentado, apenas a
Palavra de Deus tem poder transformador de iluminar tantas sombras e indicar
caminhos de esperança. Assim, diante do tema escolhido para a Campanha da
Fraternidade 2023, a Igreja no Brasil também se coloca a serviço do Evangelho
ao deixar que ele ilumine a reflexão e a ação, ouvindo mais uma vez as respostas
que o Senhor dera a gerações antigas e que ainda não foram devidamente
ouvidas e incorporadas à prática cotidiana por muitos de nós
32
.
A primeira grande missão da Igreja é profética, fazendo com que a Palavra de Deus
produza eco nos dias de hoje diante do problema da fome e “aplicar duras palavras, quase
insuportáveis, à situação dos nossos contemporâneos que morrem de fome não é um
exagero injusto ou agressivo: estas palavras demonstram uma prioridade e desejam
sensibilizar a nossa consciência”
33
. Afinal,
O papel da Igreja é profético. Cabe-nos defender os interesses de Deus, que são
os interesses do pobre, do faminto. A fome ofende a Deus. A solução são
políticas públicas eficazes. Não basta a solidariedade. "Se eu tenho fome, o
problema é meu. Se meu irmão tem fome, o problema é nosso", dizia o servo de
Deus, Dom Helder Câmara
34
.
Não podemos nos esquecer da importância da Eucaristia quando falamos a respeito
da fome. Basta para isso nos lembrar que as Campanhas da Fraternidade sobre a fome
estão ligadas à Eucaristia.
Pela terceira vez, a fome é tratada pela Igreja no Brasil na Campanha da
Fraternidade. A primeira foi em 1975, com o tema "Fraternidade é repartir" e o
lema "Repartir o pão", no clima do Ano Eucarístico que precedeu o Congresso
Eucarístico Nacional de Manaus, com os mesmos tema e lema e desejava
intensificar a vivência da Eucaristia em nosso povo. A segunda foi em 1985,
outro Ano Eucarístico, desta vez em preparação para o Congresso Eucarístico
de Aparecida, com o lema "Pão para quem tem fome". Agora, em 2023, logo
depois do 18º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em Recife, de 11 a 15 de
novembro de 2022, sob o tema "Pão em todas as mesas", a Igreja no Brasil
enfrenta pela terceira vez o flagelo da fome, com um lema que é uma ordem de
Jesus aos seus discípulos: "Dai-lhes vós mesmos de comer" (Mt 14,16). É
vocação, graça e missão da Igreja obedecer e cumprir a ordem de Jesus
35
.
Precisamos formar a consciência dos fiéis a respeito das relações entre a Eucaristia e
a responsabilidade social, pois “Hoje, a Igreja precisa relembrar às comunidades
contemporâneas que a celebração da Eucaristia o nos faz uma comunidade de eleitos,
separados do restante do mundo, premiados com uma realidade sublime, mas nos
transforma em pessoas incumbidas da missão dada por Jesus: ‘Dai-lhes vós mesmos de
comer!’ (Mt 14,16)
36
.
A Eucaristia não pode ser apenas celebrada, deve ser vivida, deve fazer crescer em
nós o amor por nossos irmãos e irmãs e nos levar a assumir nossos compromissos em
relação a eles. Precisamos ser proféticos diante disso, pois a Campanha da Fraternidade
nos adverte sobre isso.
32 CNBB, Texto-base CF 2023 n.114.
33 Cf. CNBB, Texto-base CF 2023 n.86.
34 CNBB, Texto-base CF 2023 n.113.
35 CNBB, Texto-base CF 2023 n.12.
36 CNBB, Texto-base CF 2023 n.146.
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A campanha da fraternidade e a convero da igreja
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São João Crisóstomo, na sabedoria de quem escuta a Palavra de Deus e entende
a coerência à qual ela convida, chamava a atenção: ‘Muitos cristãos saem da
igreja e contemplam fileiras de pobres que formam como muralhas em ambos
os lados e passam longe, sem se comover, como se vissem colunas e não corpos
humanos. Apertam o passo como se vissem estátuas sem alma em lugar de
homens que respiram. E, depois de tamanha desumanidade, se atrevem a levantar
as mãos ao céu e pedir a Deus misericórdia e perdão pelos seus pecados’
37
.
Vivência da Eucaristia, profetismo e pastorais sociais são algumas das respostas que
a Igreja deve dar ao apelo de conversão pastoral que são feitos pela Campanha da
Fraternidade de 2023.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Campanha da Fraternidade pode ser vista a partir de diversas óticas, sendo que
todas possuem sua legitimidade e, consequentemente, a sua razão de ser. Aqui o interesse
foi a sua relação com a conversão pastoral.
O trabalho iniciou-se com uma exposição sobre as propostas da Campanha da
Fraternidade deste ano, que este é o contexto no qual nos encontramos e que se torna
parâmetro para a análise da questão da conversão pastoral.
Em seguida, foram mostrados alguns pressupostos para a conversão pastoral com
destaque para a Eclesiologia. Isto se deve ao fato de que o sujeito da ação pastoral e
evangelizadora é a Igreja e o faz sentido conhecermos uma ação sem o conhecimento de seu
sujeito. Como a conversão pastoral está diretamente ligada ao Concílio Ecumênico Vaticano
II, foram necessárias algumas abordagens da eclesiologia conciliar para que pudéssemos
conhecer melhor a Igreja que realiza a Campanha da Fraternidade. Também foram
apresentados alguns aspectos históricos da Campanha da Fraternidade que nos possibilitaram
perceber como esta eclesiologia está presente nos diversos períodos da Campanha.
O tema da conversão pastoral aparece em seguida, a fim de que ficassem claras
algumas de suas exigências, principalmente dentro do contexto da Campanha da
Fraternidade e, assim, fosse possível a realização do diálogo entre a Campanha da
Fraternidade e a conversão pastoral.
Diante disso, podemos ver que dentro do tempo quaresmal, a Campanha da
Fraternidade responde às exigências da conversão pastoral e nos apresenta propostas
concretas para que ela aconteça. A partir disso, é necessário deixar claro o fato de que na
verdade realiza a Campanha da Fraternidade quem assume a eclesiologia do Concílio
Vaticano II e assume os modelos de Igreja de comunhão mística e serva.
Como nos últimos anos estamos presenciando um crescimento de diversas correntes
que se colocam contra a doutrina conciliar por motivos de fundamentalismos, relativismos
e arraigamento em um passado que não existe mais e nem tem razão de ser e se prendem a
enunciados dogmáticos descontextualizados. Essas correntes não aceitam a Campanha da
Fraternidade por motivos óbvios.
Mas a Igreja, fiel ao mandato que lhe foi dado pelo seu Divino Mestre e fiel à ação do
Espírito Santo que a conduz pelos caminhos da história, continua firme na sua disposição
de realizar a Campanha da Fraternidade, assumindo assim as exigências do Mistério da
Encarnação do Verbo e da virtude teologal da Caridade, lutando em prol da construção de
um mundo novo, mais justo, humano, fraterno e cristão, promovendo a Campanha da
Fraternidade como uma proposta para que o tempo santo da Quaresma seja melhor
37 CNBB, Texto-base CF 2023 n.148.
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vivido, a conversão aconteça nos âmbitos pessoal, eclesial e social e possamos, no dizer de
São Paulo VI, construir a civilização do amor.
REFERÊNCIAS BIBLI OGRÁFICAS
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CELAM. Santo Domingo Conclusões. São Paulo: Loyola, 11.ed., 1997.
CELAM. Documento de Aparecida. Brasília: Ed. CNBB, 2007.
CNBB. Campanha da Fraternidade 2023: Texto-Base: Fraternidade e Fome. Brasília: Ed. CNBB, 2022.
CNBB. Campanha da Fraternidade 2008: Texto-Base: Fraternidade e Defesa da vida. Brasília: Ed.
CNBB, 2007.
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FORTE, Bruno. A Igreja Ícone da Trindade. 2.ed. São Paulo: Loyola, 2005.
PASSOS, João Décio. Conversão pastoral: desafios de renovação da Igreja. Disponível em: https://
www.vidapastoral.com.br/artigos/eclesiologia/conversao-pastoral-desafios-de-renovacao-da-
igreja/. Acesso em 05/04/2023.
PONTIFÍCIO CONSELHO “JUSTIÇA E PAZ”, Compêndio de Doutrina Social da Igreja. São Paulo:
Paulinas, 2005.
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