14
vem pela remissão dos pecados e abre espaço para que “a vida divina possa crescer cada dia,
não obstante o mal que nos cerca”
4
. Assim, a Campanha da Fraternidade é um meio
concreto proposto pela Igreja no Brasil para que todos possam viver melhor a dimensão
eclesial da própria fé.
O Concílio Vaticano II adotou o caráter pastoral, procurando adaptar-se às novas
exigências do tempo presente (SC 1). Para isso, substitui o modelo de sociedade perfeita
pelo modelo de povo de Deus, expresso de modo especial na Lumen Gentium que,
curiosamente, não cita a experiência do povo de Israel na sua caminhada entre o Egito e a
Terra Prometida. O modelo de Igreja povo de Deus vai se impor e abrir caminho para uma
eclesiologia de comunhão.
A comunhão na Igreja é o grande sinal para que o mundo creia (cf. Jo 17,20-23). Por
isso, um dos principais desafios para a atuação da Igreja no Brasil é tornar-se escola de
comunhão (DGAE 2003-2006, 18), tendo a Trindade como modelo e paradigma. A
Campanha da Fraternidade é um instrumento de grande valia para que a Igreja no Brasil
responda à altura a esse desafio, de modo que é necessária uma reflexão sobre a Campanha
da Fraternidade tendo como fundamento teórico a eclesiologia a partir da Trindade.
A Igreja é obra da Santíssima Trindade. Ela é desejada pelo Pai, criatura do Filho,
sempre de novo vivificada pelo Espírito Santo. A Igreja deve ser, na história, a
manifestação da vida trinitária. Deve ser uma epifania do Deus uno e trino.
A Lumen Gentium afirma que a Igreja é na história o sacramento da “intima união
com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (LG 1). Como continuadora da missão
de Cristo, celebra a eucaristia, sacramento da nova e eterna aliança na qual acontece essa
íntima união com Deus. A partir da comunhão com Deus, vem a decorrência da
necessidade da comunhão entre as pessoas porque para que todos estejam em comunhão
com Deus, devemos necessariamente estar em comunhão entre nós. Esta comunhão
acontece em Cristo, pois “todos os homens são chamados a esta união com Cristo, que é a
luz do mundo, do qual procedemos, por quem vivemos e para quem tendemos” (LG 3)
5
.
O Espírito Santo é o grande dom pascal. Pentecostes é a realização da promessa feita
por Jesus de não nos deixar órfãos, mas enviar o Paráclito. A presença do Espírito Santo
possibilita a comunhão entre o povo de Deus e a Trindade, sendo que a comunhão eclesial
deve, no Espírito e através do Filho, voltar ao Pai, até o dia em que tudo seja submetido ao
Filho e esse ao Pai tudo confie. Na Igreja acontece esta comunhão na sua fase histórica,
tendo como meta a própria Trindade
6
. A Igreja, “inter tempora” ruma para a Trindade na
invocação, no louvor e no serviço, sob o peso das contradições do presente e enriquecida
pelo júbilo da promessa (LG VII)
7
.
A Igreja estruturada a partir da comunhão trinitária deverá manter a originalidade e
a riqueza dos dons do Espírito, superando pela comunhão as tensões ministeriais diversas,
em fecundo acolhimento recíproco das pessoas e das comunidades, na unidade da fé, da
esperança e do amor. (cf. LG II-VI)
8
.
A Igreja é sacramento da comunhão de todos com Deus. É sacramento de comunhão
de todos com o Pai enquanto povo de Deus; é sacramento de comunhão de todos com o
4 Rito para o Batismo de crianças, aprovado pela Sagrada Congregação para o Culto divino em 13 de maio de 1970.
Invocação para a renovação das promessas do batismo, n.56. Este rito não está mais em uso e esta invocação foi
alterada no novo rito, sendo que a frase citada foi suprimida.
5 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.20.
6 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.21.
7 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.23.
8 Cf. B. FORTE, B. A Igreja Ícone da Trindade, p.36.
VANELLA, Jose Adalberto
A campanha da fraternidade e a conversão da igreja
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.40, n.134, p. 11-22, Jan./Jun./2023. ISSN On-line: 2763-5201.