FRATELLI TUTTI E SOLIDARIEDADE GLOBAL

Fratelli tutti and global solidarity

DOI: https://doi.org/10.52451/s6tr0f36

Recebido em 18/02/2024

Aprovado em 11/05/2024

Maikel Pablo Dalbem

É mestre em Teologia Sistemática – Sagrada Escritura pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte e doutor em Teologia Moral pela Pontifícia Accademia Alfonsiana de Roma. Atualmente é professor associado na Pontifícia Accademia Alfonsiana de Roma, ocupando-se de temas relativos à Moral Social. Contato: mdalbem@alfonsiana.org.ORCIRD: https://orcid.org/0009-0006-6720-0869

Resumo: No texto busca-se compreender a evolução do termo “solidariedade” no interior da teologia magisterial de Papa Francisco até a redação da carta encíclica Fratelli Tutti. Enriquecida com o adjetivo global, o termo solidariedade para Francisco se traduz como real e profunda crítica às divisões e desigualdades globais, em vistas de um amor inclusivo e empático inspirado em São Francisco de Assis. Sendo assim, a forma de solidariedade que busque se realizar como “global” não se reduz a apenas ajuda caritativa, mas deve se concretizar como coparticipação na dor e no destino comum da humanidade. A encíclica propõe uma “amizade social” que reconhece a dignidade de todos, buscando superar polarizações e ultranacionalismos. Francisco busca a promoção de formas de diálogo entre instâncias locais e globais, evitando universalismos abstratos e/ou localismos estagnados. Sua visão teológica enfatiza a interconexão e responsabilidade mútua na construção de uma comunidade global justa e fraterna.

Palavras-chave: Fraternidade universal; Solidariedade global; Amizade social; Diálogo local-global; Inclusão e dignidade.

Abstract: The text aims to understand the evolution of the term “solidarity” within Pope Francis’ magisterial theology until the writing of the encyclical letter Fratelli tutti. Enriched with the global adjective, the term solidarity for Francis is translated as a real and profound critique towards global divisions and inequalities, in the pursuit of an inclusive and empathetic love inspired by St. Francis of Assis. Therefore, the idea of solidarity that seeks to become “global” is not reduced to charitable aid only, but must be concretized as co-participation in the pain and common destiny of humanity. The encyclical proposes a “social friendship” that recognizes the dignity of all, seeking to transcend polarizations and ultranationalisms. Francis seeks the promotion of forms of dialog between local and global instances, avoiding abstract universalisms and/or stagnant localisms. His theological vision emphasizes interconnectedness and mutual responsibility in the building of a just and fraternal global community.

Keywords: Universal fraternity; Global solidarity; Social friendship; Local-global dialog; Inclusion and dignity.

INTRODUÇÃO

No oitavo ano de seu pontificado, em outubro de 2020, Papa Francisco apresentou a Carta Encíclica Fratelli Tutti (FT), um de seus documentos mais elaborados até o momento em termos de moral social e que, segundo nossa impressão, ainda está longe de ser plenamente atuado em toda a sua riqueza propositiva para o atual complexo sociocultural.

São vários os acontecimentos que comprovam que o atual momento global é crítico. Com relação à paz, além das guerras que ocupam os telejornais como Rússia-Ucrânica e Israel-Hamas, são inúmeros os conflitos civis em diversos países pobres, principalmente em África e Ásia, que permanecem à margem da grande mídia, mas que provocam um número enorme de mortes e sofrimento para tantos. O fenômeno dos grupos extremistas e atentados terroristas ainda é real.

No campo político o retorno com grande força de movimentos ultranacionalista e a consequente crise dos órgãos internacionais de diálogo multilateral estão à ordem do dia. Um mundo que ainda se recupera de uma pandemia depois de um esforço global interessante para sua superação, ainda não consegue reconhecer e se articular em torno ao problema de saúde pública que leva à morte tantos nos bolsões de pobreza espalhados pelo mundo. Enfim, ainda teríamos muitos sintomas para elencar.

Encontramos em Fratelli Tutti a tentativa de Francisco em propor uma leitura da realidade e um caminho em vista de uma nova visão para a solução de tais problemas. Neste breve artigo, tentaremos mostrar como a reflexão que o Papa realiza na direção de uma Fraternidade Universal e uma Solidariedade global encontra-se em continuidade com patrimônio da fé recolhido na Doutrina Social da Igreja, e como em Francisco se dá um verdadeiro desenvolvimento teológico a partir da leitura dos sinais dos tempos.

Escolhemos não entrar em questões específicas, para evitar de cair em análises superficiais. Nosso foco estará na evolução teológica do termo solidariedade. Oferecemos este texto como uma simples provocação para que outros realizem a análise de tais problemas a partir do contributo de Francisco Papa.

Metodologicamente, fizemos a escolha de não ampliar tanto a bibliografia, mas, permanecendo e trabalhando com textos escolhidos do Magistério de Francisco, conseguir ser mais claro na demonstração da linha evolutiva teológica que prepara a compreensão de uma solidariedade global em Fratelli Tutti.

1. DA FRATERNIDADE UNIVERSAL À SOLIDARIEDADE GLOBAL

Francisco Papa se defronta no referido documento com os problemas presentes em um mundo pretensamente globalizado e sem fronteiras, porém ainda extremamente demarcado por tantas barreiras que dividem e classificam os seres humanos em categorias e preconceitos, sejam eles sociais, de raça ou gênero, cerceando as relações humanas no interior de “bolhas”, que muitas vezes, não obstante estas sejam produto de um fenômeno de profundas raízes culturais, são reforçadas e geridas por interesses de manutenção de poder de determinados grupos através de discursos de ódio e de manipulação política e econômica.

Aquele antiquíssimo fenômeno social de extrapolação da reação negativa por parte do império de um ego narcisista destronado diante do diverso, estabelecendo-se como estrutura social na ressonância dos interesses manipulatórios de iguais, em atual contexto globalizado, se apresenta socialmente sempre mais complexo em suas estruturas fenomênicas ultranacionalistas, de polarização política, aporofóbicas, genocidas etc., declarando assim o fim do diálogo e da possibilidade de que o diverso, que pretensamente constituiria uma “ameaça”, tenha direito a existir.

Como ponto de partida para a sua leitura da realidade, o Papa busca luzes na experiência de outro Francisco, o santo proverello di Assisi, que, mesmo em época histórica muito diversa, sai da segurança de seu mundo de cristandade europeia, para encontrar-se no Egito com o sultão Malik-al-Kamil, motivado simplesmente por sua ampla compreensão de fraternidade humana (FT, 3). A experiência do amor cristão que motiva o santo de Assis não se perde em meio a teorizações, mas se apresenta na concretude de uma fraternidade humana que não conhece limites, que não divide mas aproxima, fazendo da experiência desafiadora diante do diverso um louvor à grandeza do Criador (FT 4).

Para suas reflexões nesta encíclica, Papa Francisco também encontrará inspiração em um encontro com um mundo de fé diverso do seu. No dia 04 de fevereiro de 2019 ele se encontra na fraternidade com o Grande Íman Ahmad Al-Tayyeb. Juntos afirmam uma verdade fundamental e comum, que constitui a base de compreensão sobre a identidade humana a partir da visão compartilhada pelos dois no diálogo da fé: a força criativa do Amor Divino chamou à existência todos os seres humanos iguais nos direitos, nos deveres e na dignidade, convocando-os à fraternidade (FT, 5).

Assim, o exercício desta forma de amor aberto ao diferente, dialogante e empático, vem definido por Francisco com o termo “fraternidade universal”. Tal consciência fraterna não se resume em simples ações caritativas em senso pobre, mas em uma forma de amor superior (caritas) que se concretiza em ações em que o outro vem considerado “como precioso, digno, aprazível e bom, independente das aparências físicas ou morais. O amor ao outro por ser quem é impele-nos a procurar o melhor para sua vida” (FT, 94), ou seja, se trata de um amor encarnado na história e engajado na comunhão com a comunidade humana.

Deste modo, na organização da vida de uma sociedade, da compreensão de fraternidade universal se desdobra e se fundamenta aquilo que Francisco expressa em seu documento como “amizade social” como forma de exercício de uma identidade fraterna que não exclui ninguém, reconhecedora da dignidade basilar que carrega todo ser humano; uma forma de amor fraternal concreto que se expande para além das fronteiras sociais e nacionais (FT, 99), mas que ao mesmo tempo não se anula ou dissolve, mas que se estabelece como parceiro dialogante na tensão dialética entre local e global.

Ocorre lembrar que, entre a globalização e a localização, também se gera uma tensão. É preciso prestar atenção à dimensão global para não cair numa mesquinha quotidianidade. Ao mesmo tempo convém não perder de vista o que é local, que nos faz caminhar com os pés por terra. As duas coisas unidas impedem de cair em algum destes dois extremos: o primeiro, que os cidadãos vivam num universalismo abstrato e globalizante (...); o outro extremo é que se transformem num museu folclórico de “eremitas” localistas, condenados a repetir sempre as mesmas coisas, incapazes de se deixar interpelar pelo que é diverso e de apreciar a beleza que Deus espalha fora das suas fronteiras. É preciso olhar para o global, que nos resgata da mesquinhez caseira. Quando a casa deixa de ser lar para se tornar confinamento, calabouço, resgata-nos o global, porque é como a causa final que nos atrai para a plenitude. Ao mesmo tempo temos de assumir intimamente o local, pois tem algo que o global não possui: ser fermento, enriquecer, colocar em marcha mecanismos de subsidiariedade. Portanto, a fraternidade universal e a amizade social dentro de cada sociedade são dois polos inseparáveis e ambos essenciais. Separá-los leva a uma deformação e a uma polarização nociva (FT, 142).

Francisco descreve assim a base de compreensão teo-antropológica que fundamenta sua visão sobre as relações sociais a partir da experiência de fé cristã. Em outras palavras podemos dizer que, em consonância com o patrimônio da fé, se parte da universalidade do amor Divino destinado a toda a realidade criada, para compreender todo e qualquer ser humano revestido de uma dignidade fraternalmente compartilhada com os demais. Tal visão se manifesta como uma espécie de “solidariedade” na aventura de ser humano, que somente pode encontrar sua plena realização na abertura recíproca, rejeitando toda fragmentação. Este “ser-com” como responsabilidade fraterna se realiza como resposta virtuosa na solidariedade concreta, ou seja, no empenho com o destino comum.

Desta forma, solidariedade não pode ser reduzida ao singular ato benéfico nas relações privadas, mas é compreendida em termos globais como coparticipação tanto na dor daquele que sofre ao meu lado, como também na complexidade do destino comum de todos os povos. Abre-se deste modo espaço para uma compreensão enriquecida que englobe os dois sentidos contidos no termo, a saber consciência e ato, ao mesmo tempo que se ampliam os horizontes para a percepção das interconexões complexas que compõem a realidade, libertando de visões ingênuas e redutivas.

Antes de seguir no aprofundamento desta chave de leitura de uma solidariedade global, temos como fundamental traçar um caminho de evolução e importância do termo na teologia magisterial de Francisco. Assim, iremos antes ao Compêndio da Doutrina Social da Igreja, estabelecendo as linhas de continuidade colhidas pelo Papa. Posteriormente, buscaremos em específico nos documentos Evangelii Gaudium e Laudato Si’, a apropriação e evolução que Francisco faz do termo solidariedade. Enfim, retornaremos a Fratelli Tutti em sua especificidade, continuando e aprofundando a leitura já iniciada aqui.

2. SOLIDARIEDADE COMO PRINCÍPIO PERMANENTE DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

Junto com o bem comum e a subsidiariedade, a solidariedade constela entre os três princípios permanentes da Doutrina Social da Igreja (CDSI). Fundamentados sobre a inalienável dignidade da pessoa humana, criada imagem de Deus-Trindade, tais princípios, por sua vez, nascem como exigência do encontro da mensagem evangélica com a especificidade concreta dos problemas sociais (CDSI,160).

Interconexa com os demais princípios, a solidariedade se configura como a virtude que permeia a complexidade dessas relações inspiradas pela caridade, por sua vez baseada sobre o fundamento comum da dignidade de cada pessoa humana. Relações estas que não se reduzem ao mero âmbito privado, mas que ganham em complexidade na medida em que as relações humanas se alargam geográfica e culturalmente. Já em Mater et Magistra, de São João XXIII, o Magistério Católico reconhece que na socialidade humana se torna cada vez mais evidente o fenômeno da interdependência entre indivíduos e povos. Quanto mais se desenvolvem os meios de comunicação, de intercâmbio e de livre circulação, mais aumenta essa interconexão, tanto positiva quanto negativamente.

Tal interdependência tende a se tornar cada vez mais complexa do ponto de vista moral com o desenvolvimento de nossa sociedade hiperconectada. Hoje falamos de inteligência artificial, nanorrobótica, intervenção genética, realidade virtual, metaverso, todas as expressões desse desenvolvimento que, até certo ponto, aproximam as pessoas e podem proporcionar maior qualidade de vida. Apesar desses aspectos positivos, essa hiperconectividade traz consigo riscos não só no campo da bioética e/ou da ética fundamental em relação ao uso dessas novas tecnologias, mas também o risco social real do fechamento e da virtualização das relações, do consumismo desenfreado, da destruição do meio ambiente e da desigualdade cada vez maior entre as pessoas, os países e as sociedades, nos vários termos do bom desenvolvimento e da igualdade de participação e distribuição.

Em face do fenômeno da interdependência e da sua constante dilatação, subsistem, por outro lado, em todo o mundo, desigualdades muito fortes entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, alimentadas também por diversas formas de exploração, de opressão e de corrupção, que influem negativamente na vida interna e internacional de muitos Estados. O processo de aceleração da interdependência entre as pessoas e os povos deve ser acompanhado com um empenho no plano ético-social igualmente intensificado, para evitar as nefastas consequências de uma situação de injustiça de dimensões planetárias, destinada a repercutir muito negativamente até nos próprios países atualmente mais favorecidos (CDSI, 192).

A Doutrina Social da Igreja reconhece um duplo aspecto complementar ao princípio da solidariedade: como um princípio social e como uma virtude moral. Em outras palavras, enquanto a solidariedade é uma virtude moral pessoal que une as pessoas, estabelecendo relações maduras de crescimento, apoio, aceitação e a busca do bem comum, ou seja, o bem de cada um e de todos, ela se desdobra como um princípio social que aborda as injustiças presentes na sociedade e leva a uma luta consciente contra as atuais “estruturas de pecado” (Iohannes Paulus II, 1987, n. 36) que geram morte, injustiça e segregação.

A solidariedade deve ser tomada antes de mais nada, no seu valor de princípio social ordenador das instituições, em base ao qual devem ser superadas as estruturas de pecado, que dominam as relações entre as pessoas e os povos, devem ser superadas e transformadas em estruturas de solidariedade, mediante a criação ou a oportuna modificação de leis, regras do mercado, ordenamentos.

A solidariedade é também uma verdadeira e própria virtude moral, não um sentimento de compaixão vaga ou de enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas próximas ou distantes. Pelo contrário, é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos (CDSI, 2021, n. 193).

É de grande importância compreender que a solidariedade, em seu duplo sentido de virtude e princípio social, funciona como uma forma de amálgama que une os vários elementos do que reconhecemos como uma moralidade baseada na interrelacionalidade. A mensagem da doutrina social sobre a solidariedade, reforçando a ligação entre todos os seres humanos, rompe com compreensões que estratificam e aproxima os seres humanos dispersos em diversos contextos culturais e geográficos. Tudo e todos estamos interconexos; o destino do mundo, dos povos e dos singulares está profundamente interligado em solidariedade.

Com tal percepção se enfatiza o fato de que existem vínculos estreitos entre a solidariedade e o bem comum, a solidariedade e o destino universal dos bens, a solidariedade e a igualdade entre os homens e os povos, a solidariedade e a paz mundial. A liberdade humana encontra seu espaço e limite na medida em que se realiza não de modo fechado na realização dos prazeres individuais e de grupos delimitados, mas se contextualiza em espaço de ampla comunhão.

O termo solidariedade, amplamente empregado pelo Magistério, exprime em síntese a exigência de reconhecer, no conjunto dos liames que unem os homens e os grupos sociais entre si, o espaço oferecido à liberdade humana para prover ao crescimento comum, de que todos partilhem. A aplicação nesta direção se traduz no positivo contributo que não se há de deixar faltar à causa comum e na busca dos pontos de possível acordo, mesmo quando prevalece uma lógica de divisão e fragmentação; na disponibilidade a consumir-se pelo bem do outro, para além de todo individualismo e particularismo (CDSI, 194).

Em outras palavras, a solidariedade configura-se, assim, como o espaço de liberdade que se exerce e atua na direção do bem comum, rompendo com atitudes de individualismo e particularismo. Considerando a interrelação intrínseca que existe entre as pessoas ao se realizarem em sociedade, o princípio da solidariedade leva ao reconhecimento de uma certa forma de compromisso/débito social existente para com os outros.

Compromisso porque as decisões e ações em âmbito não podem ser mais compreendidas de modo isolado, impactando de modos diverso no todo. Débito porque, embora todos participem do mesmo contexto cultural e, portanto, virtualmente poderiam participar das mesmas condições e ter o mesmo direito de voz, na realidade, nem todos participam igualmente dessa divisão e compartilhamento de bens, espaço e dádivas sociais. Apesar do fato de que, por dignidade, todos tenham o direito de acessar essa realidade, o contexto real nos confronta com o desequilíbrio que leva muitos a condições de vida inferiores e à miséria. A percepção que nos oferece a Doutrina Social da Igreja nos leva a compreender que nas relações sociais a realidade não pode ser explicada como simples divisão matemática.

Concluindo e colhendo a leitura até agora feita, percebemos que a leitura da Tradição cristã contida na Doutrina Social da Igreja compreende a solidariedade em modo amplo, não resumindo simplesmente ao sentido estreito de um ato de caridade verso alguém que necessita. A DSI busca ir, portanto, em profundidade, ou seja, nas raízes da identidade humana e cristã reconhecendo a solidariedade, uma vez que fundada sobre a dignidade humana, como uma forma de consciência de comunhão que se desdobra em uma ética/moral de responsabilidade.

Em modos diversos segundo o lugar que cada um ocupa no tecido social, todos e cada um são responsáveis não somente pelo bem do mundo circunstante, mas com o destino da inteira humanidade. Francisco, já no primeiro documento de seu papado, colhendo em profundidade esta compressão, como veremos a seguir, se coloca em continuidade com o Magistério precedente, desenvolvendo esta visão alargada sobre a solidariedade ao longo de seu ensinamento social.

3. SOLIDARIEDADE E A ALEGRIA DO EVANGELHO

A exortação apostólica Evangelii Gaudium (EG), apresentada em 24 de novembro de 2013, é por muitos considerada como uma espécie de “carta programática” para o pontificado de Francisco. Isto vem refletido não somente na data simbólica na qual fora publicada, próprio no último domingo de um ano litúrgico às portas do Avento, mas pela gama de argumentos tratados reunidos em torno de um projeto de uma “Igreja em saída”, ou seja, uma exortação à saída da inércia e da mera manutenção eclesial interna, em direção à redescoberta da força criativa e missionária, não proselitista, da Boa-Notícia de Cristo, provocando para uma dinâmica de encontro e da promoção da Vida; uma convocação ao anúncio da alegria Evangelho da Vida.

É certo que não podemos classificar a referida exortação como um documento que trate estritamente da problemática social. Contudo, justamente por conceber uma evangelização encarnada na vida, o aspecto social não poderia deixar de ser tocado. Assim, Francisco dedica o capítulo IV inteiro à reflexão sobre a dimensão social da evangelização. É propriamente nesta parte do documento que encontramos o tema da solidariedade.

Na abertura desta seção do texto, Francisco recorda a afirmação fundamental de que “no próprio coração do Evangelho se encontra a vida comunitária e o compromisso com os outros” (EG, 177). Como pessoa, e não somente indivíduo, o ser humano se realiza em comunhão com os demais. Remetendo-se ao texto do Compêndio da Doutrina Social da Igreja, o Papa recorda que a Redenção em Cristo abrange não somente a pessoa singular, mas o complexo de relação sociais às quais ela participa e nas quais ela realiza sua existência (CDSI, 52). Sendo assim, a evangelização compreende necessariamente a promoção humana e a busca do bem comum (EG, 178). Anúncio salvífico e amor efetivo aos irmãos estão intrinsecamente ligados, não podendo coexistir um sem o outro sem que se perca o essencial da vida cristã:

A Palavra de Deus ensina que, no irmão, está o prolongamento permanente da Encarnação para cada um de nós: ‘Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes’ (Mt 25,40). O que fizermos aos outros, tem uma dimensão transcendente: ‘Com a medida com que medirdes, assim sereis medidos’ (Mt 7,2); e corresponde à misericórdia divina para conosco: ‘Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis condenados; perdoai, e sereis perdoados. Dai e ser-vos-á dado (...). A medida que usardes com os outros será usada convosco’ (Lc 6,36-38) (EG, 179).

Na impossibilidade de tratar no momento todas as questões sociais pertinentes, Francisco concentra-se em dois problemas que retém fundamentais: a inclusão social dos pobres e a paz e o diálogo social. É próprio neste tratamento que encontramos a gama de sentidos que ele dedica ao princípio solidariedade.

Com relação à inclusão social dos pobres, Francisco recorda que, para a Igreja, a opção preferencial pelos pobres é uma categoria teológica, muito mais que cultural, política, sociológica ou filosófica. É um escândalo para alguém que tenha fé no Deus de Jesus, uma verdadeira ferida que um irmão, criado também ela a imagem de Deus, seja colocado à margem e sofra com a fome e dela sejam tiradas as possibilidades mínimas para viver e se desenvolver.

Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. Deus ‘manifesta a sua misericórdia antes de mais’ a eles. Esta preferência divina tem consequências na vida de fé de todos os cristãos, chamados a possuírem ‘os mesmos sentimentos que estão em Cristo Jesus’ (Fl 2,5). Inspirada por tal preferência, a Igreja fez uma opção pelos pobres, entendida como uma ‘forma especial de primado na prática da caridade cristã, testemunhada por toda a Tradição da Igreja’. Como ensinava Bento XVI, esta opção ‘está implícita na fé cristológica naquele Deus que Se fez pobre por nós, para enriquecer-nos com sua pobreza’. Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres (EG, 198).

Ouvir o clamor de quem sofre por causa da pobreza e da miséria, e lutar pela liberdade das situações de exclusão e pela promoção de condições dignas de vida para todos é um dever inerente à vocação de cada cristão (EG, 187). É nesta linha que Francisco compreende o sentido mais profundo desta faceta da solidariedade no interior de Evangelii Gaudium, ou seja, como uma mentalidade de comunhão, “que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida para todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns” (EG, 188), e não simplesmente como atos esporádicos de generosidade.

Tocando em argumentos centrais para a Doutrina Social da Igreja, como a função da propriedade e o destino universal dos bens, Francisco é extremamente fiel a Tradição recebida ao colocar no centro a dignidade humana que vem diminuída pela fome de lucro e poder. Neste contexto a solidariedade nasce como reação espontânea diante da ferida aberta; uma verdadeira conversão das estruturas pessoais e sociais.

A solidariedade é uma reação espontânea de quem reconhece a função social da propriedade e o destino universal dos bens como realidades anteriores à propriedade privada. A posse privada dos bens justifica-se para cuidar deles e aumentá-los de modo a servirem melhor o bem comum, pelo que a solidariedade deve ser vivida como a decisão de devolver ao pobre o que lhe corresponde. Estas convicções e práticas de solidariedade, quando se fazem carne, abrem caminho a outras transformações estruturais e tornam-nas possíveis. Uma mudança nas estruturas, sem se gerar novas convicções e atitudes, fará com que essas mesmas estruturas, mais cedo ou mais tarde, se tornem corruptas, pesadas e ineficazes (EG, 189).

Para Francisco, a escuta solidária do clamor dos pobres não se reduz ao microcosmo circunstante, mas se amplia como visão mais abrangente e global dando voz ao clamor de inteiros povos, principalmente aqueles que se encontram em situação de pobreza, sem condições de desenvolvimento. Chama ainda a atenção para a perigosa e real possibilidade de instrumentalização da solidariedade em novas formas de colonialismo por parte de nações mais favorecidas e grupos detentores de poder. “Precisamos crescer numa solidariedade que ‘permita a todos os povos tornarem-se artífices do seu destino’, tal como ‘cada homem é chamado a desenvolver-se’” (EG, 190).

Desta forma, a solidariedade na concepção que Francisco quer reforçar, toca todos os estratos da sociedade, inclusive e de modo particular o econômico e político, seja nacional que internacional, na construção de repostas concretas que coloquem o ser humano ao centro, rompendo com o império dos mercados e da especulação financeira. Trata-se, portanto, de uma verdadeira conversão ética dos modelos sociais onde a caridade, em seu sentido profundo e amplo como recordava papa Bento XVI em Caritas in Veritate (CV), seja o princípio regulador não somente das micro-relações, como também das macro-relações sociais (CV, 652; FT, 205).

Assim Francisco afrontará a segunda categoria de questões sociais mencionadas anteriormente: a paz e o diálogo social. Compreendendo a solidariedade como uma forma de mentalidade de conjunto que tenha ao centro a dignidade e o respeito ao diferente, que não se perca em teorizações, mas que direcione à ação concreta, ele a compreende como um estilo de construção histórica conjunta.

A solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo e desafiador, torna-se assim um estilo de construção da história, um âmbito vital onde os conflitos, as tensões e os opostos podem alcançar uma unidade multifacetada que gera nova vida. Não é apostar no sincretismo ou na absorção de um no outro, mas na resolução num plano superior que conserva em si as preciosas potencialidades das polaridades em contraste (FT, 2020, n. 228).

Antes de darmos o próximo passo reflexivo neste breve artigo, em conclusão podemos assim compreender que Francisco, partindo da Tradição eclesial já presente na Doutrina Social da Igreja, propõe a solidariedade como um princípio básico e ordenador a iluminar a ação humana em todos os seus níveis. Tal princípio, fundamentado na comum dignidade identitária de toda criatura humana e na consequente universalidade do desejo salvífico trinitário, se revela como uma mentalidade à qual Francisco convida Igreja e Sociedade a operar uma verdadeira e concreta metanóia, ou seja, uma verdadeira mudança de paradigmas que rompam com mecanismos escravizantes e excludentes, reais geradores de morte.

4. LAUDATO SI’: HORIZONTE AMPLIADO NA DIREÇÃO DE UMA SOLIDARIEDADE UNIVERSAL

Na Carta Encíclica Laudato Si (LS), publicada em 2015, apenas dois anos depois de Evangelii Gaudium, encontramos uma proposta de alargamento do conceito de solidariedade na direção de toda a realidade criada, e não mais restrito a uma visão estreita das relações humanas. Papa Francisco ressalta, já no início do documento, a necessidade de uma “solidariedade universal” (LS, 14), que envolva os diversos estratos e grupos sociais, bem como os governos nacionais, em um esforço de diálogo reflexivo e ação concreta com relação à construção do futuro do planeta e, consequentemente, da humanidade. O atual quadro da crise ambiental coloca de modo muito claro como a ação humana agravado ao quadro de mudanças climáticas, bem como colocado em sério risco o futuro da raça humana.

Sua compreensão de solidariedade vai assim entendida no interior de uma visão de caráter holístico de integração de toda a realidade criada. Toda a realidade criada se encontra em relação1, tudo está conectado, sendo assim, cada ação humana provoca “uma interação entre os ecossistemas e entre os diferentes mundos de referência social e, assim, se demonstra mais uma vez que ‘o todo é superior à parte’” (LS, 141).

Inspirado no patrimônio da fé, Francisco compreende esta trama relacional a partir de uma sana teologia da Criação como fruto do Mistério do Amor Trinitário aos moldes daquela proposta por São Boaventura.

As Pessoas divinas são relações subsistentes; e o mundo, criado segundo o modelo divino, é uma trama de relações. As criaturas tendem para Deus; e é próprio de cada ser vivo tender, por sua vez, para outra realidade, de modo que, no seio do universo, podemos encontrar uma série inumerável de relações constantes que secretamente se entrelaçam. Isto convida-nos não só a admirar os múltiplos vínculos que existem entre as criaturas, mas leva-nos também a descobrir uma chave da nossa própria realização. Na verdade, a pessoa humana cresce, amadurece e santifica-se tanto mais, quanto mais se relaciona, sai de si mesma para viver em comunhão com Deus, com os outros e com todas as criaturas. Assim assume na própria existência aquele dinamismo trinitário que Deus imprimiu nela desde a sua criação. Tudo está interligado, e isto convida-nos a maturar uma espiritualidade da solidariedade global que brota do mistério da Trindade (LS, 240).

A visão oferecida por Francisco em seu documento sobre o problema ecológico é bastante complexa e interessante, entrando na trama de interações formada pelos elementos componentes da realidade. Trata-se, portanto, de considerar o problema das graves mudanças climáticas em suas raízes humanas profundas, a partir de seus componentes sociais e culturais. Retorna, assim, a opção preferencial pelos pobres e a solidariedade como princípio integrador agora não somente a partir da dignidade humana, mas considerando a dignidade de toda a realidade criada em profunda relação (Cf. LS, 158). Onde a dignidade humana vem ferida, é ferida também toda a criação; onde o criado é desfrutado pela mentalidade utilitarista, necessariamente o ser humano, principalmente os mais pobres, vêm também ele desfrutado e instrumentalizado.

O termo solidariedade como mentalidade/consciência relacional encarnada na vida ganha em sentido de inteireza, completude, em vistas da construção de uma identidade comum e histórica que se estabelece como responsabilidade verso às gerações presentes e futuras na construção e no cuidado da casa comum onde todos possam participar da Vida.

Isto significa também cultivar uma identidade comum, uma história que se conserva e transmite. Desta forma cuida-se do mundo e da qualidade de vida dos mais pobres, com um sentido de solidariedade que é, ao mesmo tempo, consciência de habitar numa casa comum que Deus nos confiou (LS, 232).

5. SOLIDARIEDADE GLOBAL: DIGNIDADE FRATERNA

Nossa leitura até o presente momento pôde reconhecer o esforço feito por Francisco ao longo dos documentos analisados em desvencilhar-se de uma visão redutiva sobre a solidariedade que a restringisse a ações caritativas isoladas. Tomando da Tradição recente, Francisco deixa muito claro, desde Evangelii Gaudium, que compreende a solidariedade como um modus vivendi, uma mentalidade encarnada, uma consciência interrelacional que se desdobra em atos e fundamenta a leitura da realidade humana em suas complexas interconexões.

Em Laudato Si’, amplia o horizonte de leitura para compreender que tais complexas interrelações que compõe o tecido da existência humana, não tem implicações somente no interno do contexto das sociedades e grupos humanos, mas que está em profunda correlação com toda a realidade criada; dignidade humana e dignidade do criado estão profundamente interconexos, de modo que a lesão ou progressão de uma, influencia necessariamente na outra. Com sua encíclica sobre a ecologia integral, Francisco evidencia que o sofrimento dos pobres e fragilizados coincide com o grito da Criação, provocado principalmente pela prevalência do paradigma utilitarista nos regimes e nas relações sociais, políticas e econômicas do último século.

Em Fratelli Tutti, percebemos que esta solidariedade como anteriormente desenvolvida, baseada sobre a dignidade inalienável de toda a criatura, se expressa como fraternidade. Mais do que solidariedade de gênero ou de raça humana, Francisco reforça que o fundamento à base desta solidariedade reside na consciência de uma ligação muito mais profunda em uma forma de amor fraternal-familiar, que respeita e se deixa interpelar pelo outro e que se preocupa pelo bem comum, ressignificando, inclusive, vínculos biológicos e sociais.

Nestes momentos em que tudo parece diluir-se e perder consistência, faz-nos bem invocar a solidez, que deriva do fato de nos sabermos responsáveis pela fragilidade dos outros na procura dum destino comum. A solidariedade manifesta-se concretamente no serviço, que pode assumir formas muito variadas de cuidar dos outros. [...]

É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e laborais. É fazer face aos efeitos destrutivos do império do dinheiro. A solidariedade, entendida no seu sentido mais profundo, é uma forma de fazer história e é isto que os movimentos populares fazem (FT, 115-116).

Além do sentido de solidez que carrega a origem etimológica do termo solidariedade, a mesma palavra-base indica também os sentidos de inteiro, completo, que, a nosso parecer, apontam para esta mentalidade proposta por Francisco de uma visão ampla da dignidade humana e da realidade criada, que supera os limites impostos pela ganância, pelo egoísmo e pela objetificação do outro. No sentido desta consciência de “ser-com”, Francisco fala de uma “ética global de solidariedade e cooperação a serviço de um futuro modelado pela interdependência e pela corresponsabilidade na inteira família humana” (FT, 127).

Dos problemas situados nas comunidades locais aos grandes problemas atuais que tocam o direito dos povos, como as guerras, a migração, a fome e a corrupção em países com baixas taxas de desenvolvimento social, urge a necessidade de implantação deste horizonte universal proposto por Francisco em seu documento, que possibilite o cultivo de valores universais nas diversas manifestações culturais humanas (FT, 146).

Se de um lado nos defrontamos com alguns quadros sociais de mentalidade narcisista, bem como com o esforço de manutenção econômico e político de grupos privilegiados e detentores de poder, que sustentam sistemas de manipulação social, por outro lado, a provocação de Francisco chama à instauração de uma mentalidade completamente outra, pautada em uma espécie de abertura solidária global, fundamentada em uma fraternidade de caráter universal, que saiba se realizar no salutar equilíbrio entre particular e universal. Tal consciência se oporia necessariamente ao escândalo das estruturas sociais geradoras de morte e exclusão, principalmente dos mais fragilizados socialmente, abrindo-se em desenvolvimento e atuação de espaços de vida para todos.

Considerações Finais

Ao final deste artigo, podemos reconhecer, através do caminho trilhado, como a expressão solidariedade está em profunda conexão com o argumento central de Fratelli Tutti: fraternidade universal. Sua formulação é gerada no interior de um caminho teológico-moral de discernimento, que encontra suas bases na Doutrina Social da Igreja, e vem enriquecido na apropriação realizada por Francisco ao longo de seu pontificado.

Como mentalidade, isto é, como consciência interrelacional, a solidariedade, enriquecida pelo predicado global, indica sim uma visão além-fronteiras nacionais, mas não somente. Se permanecesse somente sob este aspecto, se reduziria a uma leitura superficial da realidade. Na construção realizada na teologia magisterial de Francisco, este predicado “global” ganha valor de totalidade/inteireza, que suporte as tensões entre particular e universal, singular e múltiplo, igual e diverso, sem anulamento dos pólos, mas buscando o diálogo construtivo em vistas do bem comum.

Lida sob a ótica da fraternidade, a solidariedade compreende, mas ao mesmo tempo suspende, o mero dado oriundo da comunhão biológica de raça, para colocar o diverso em uma categoria de alguém amado, um irmão, apesar e com as diferenças. A experiência provocadora vivida por Francisco Papa de encontro com o diferente além fronteiras de seu grupo religioso, concede a esta solidariedade fraterna a força de ruptura com padrões “engessantes” para o estabelecimento de uma compressão ampla de família humana.

Desta forma, escutar o grito dos últimos não se reduz a um mero ato de bondade de alguém externo que se reclina para ajudar, não é um grito externo, mas se configura como uma espécie de dor na própria carne, um verdadeiro escândalo, pois aquele que sofre, mesmo que não seja do meu país, da minha religião, da minha classe social ou do meu partido político, é meu irmão. A interconexão desta família humana com toda a realidade criada ressoa as alegrias e as tristezas, os cuidados e os desmandos pois esta é casa-comum e, mais, também é irmã.

A metanóia proposta por Francisco é, portanto, verdadeira mudança de mentalidade, de consciência interrelacional na direção de uma humanidade que vença o paradigma utilitarista que escraviza e manipula em vista de uma visão mais complexa da realidade que conta em profundidade do que é ser humano.

Referências bibliográficas

BENTO XVI. Carta Encíclica: Caritas in Veritate: Editora Paulinas, 2021.

COMPÊNDIO DA DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA: Editora Paulinas, 2021.

FRANCISCO. Carta Encíclica Fratelli Tutti sobre a fraternidade e a amizade social: Editora Paulinas, 2020.

FRANCISCO. Carta encíclica Laudato SI’ sobre o cuidado da casa comum: Editora Paulinas, 2015.

FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: Edições CNBB, 2013.

IOHANNES PAULUS II. Carta encíclica Sollicitudo rei socialis. Cidade do Vaticano: Libreria editrice vaticana, 1987.


1 Sobre este argumento, recomendamos o interessante livro: Carbajo Núñez, Martín. Tutto è collegato: ecologia integrale e comunicazione nell’era digitale. Napoli: Editrice Domenicana Italiana, 2020.