EDITORIAL

DOI: https://doi.org/10.52451/na3z2q64

Organizadores

Rogério L. Zanini

Doutor e Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, PUCRS. Especialista em Metodologia Pastoral pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI. Graduado em Teologia pela Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – Itepa Faculdades e em História pela Universidade do Oeste de Santa Catarina - UNOESC. É professor da Faculdade de Teologia e Ciências Humanas de Passo Fundo. Email: zaninipastoral@hotmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-8771-3799

Regiano Bregalda

*Possui graduação em filosofia (L e B) pela Universidade de Passo Fundo, graduação em Teologia pela Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – Itepa Faculdades, mestrado e doutorado em educação pela Universidade de Passo Fundo. Realizou o doutorado sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales-Paris e no Fonds Ricoeur. É professor na Faculdade de Teologia e Ciências Humanas – Itepa Faculdades. Email: regiano_bregalda@hotmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0104-4163

A Revista Teopráxis tem alegria de colocar à disposição dos leitores a edição número 137 que versa sobre “A práxis dialógica, a sinodalidade e a evangelização”. A sinodalidade, como insiste o Papa Francisco, é o que o Espírito Santo espera da Igreja neste novo milênio. Ela pode abrir uma tríade de oportunidades. A primeira é a de trabalhar para formar estruturalmente uma Igreja sinodal. Outra oportunidade é de ser uma Igreja da escuta. Escutar o Espírito na adoração e na oração, escutar os irmãos e as irmãs sobre as esperanças e as crises da fé nas diversas áreas do mundo, sobre as urgências de renovação da vida pastoral, sobre os sinais que provêm das realidades locais. A terceira oportunidade diz respeito a uma Igreja próxima do povo e das realidades que necessitam de libertação e salvação. No fundo está a insistência de uma Igreja em saída, pobre e para os pobres, hospital de campanha que prioriza os processos e não os resultados. A práxis dialógica como a mística que incorpora e assume o outro como sujeito e protagonista no processo de evangelização. A sinodalidade e a perspectiva da práxis dialógica oferecem o melhor caminho para a construção de processos sólidos de evangelização

Visto esse tema abarcar uma diversidade de abordagens, os textos que compõem essa edição seguiram caminhos distintos, mas, pode-se dizer, buscam contemplar três perspectivas. A práxis dialógica, a sinodalidade e a evangelização como campos/caminhos que se coadunam na perspectiva de processos críticos e tendo em vista uma educação ou evangelização crítica e libertadora. Quer dizer, a práxis dialógica assume as pessoas como sujeitos do processo de ensino-aprendizagem que conduzem à mística da sinodalidade – do caminhar juntos – e, consequentemente, se avança para uma evangelização de acordo com o modo de Jesus, isto é, fazedores do reino de Deus e de sua justiça no mundo (Mt 6,33).

Os leitores e leitoras do presente dossiê encontrarão na abertura uma entrevista realizada com a Presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), Sônia Gomes de Oliveira. Sonia foi escolhida pelo Papa Francisco para participar da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos que teve como tema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. A equipe da revista Teopráxis na oportunidade fez um conjunto de questões, com o objetivo de que Sônia percorra diferentes temáticas que perpassem a eclesiologia do Concílio Vaticano II e são preocupações do processo sinodal e do magistério do Papa Francisco.

Na sequência, irão encontrar três textos que buscam contemplar o fazer teológico e educacional em perspectivas Benincanianas. Um primeiro, de autoria do Padre Rogério L. Zanini e do Professor Rodinei Balbinot que versa sobre uma aproximação ao legado teológico-pastoral de Elli Benincá, considerando a pertinência da Palavra, do contexto, do texto e do testemunho na práxis cristã. O objetivo central do artigo é justificar a relevância destes elementos prioritários da vida e legado de Benincá para uma evangelização que considera a realidade das pessoas como lugar de manifestação da graça divina (DV 2). O artigo busca refletir como pensar a evangelização tendo presente o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo no contexto atual, marcado pela superficialidade, cultura da indiferença e uma prática pastoral desconectada da experiência de vida concreta das pessoas.

Um segundo, escrito pelos professores Angelo Vitório Cenci e Altair Alberto Fávero, intitulado de “Práxis dialógica, pesquisa como princípio formativo e a formação das novas gerações em Benincá”, tem como objetivo tematizar uma possível relação entre práxis dialógica, pesquisa como princípio formativo e formação das novas gerações. Os autores fazem uma retomada da práxis do diálogo na tradição hermenêutica filosófica e educacional, indicando as dimensões formativas nela contidas. Para isso destacam as contribuições de Gadamer e de Hermann e Cruz, dentre outros e levando em conta sempre o papel hermenêutico da práxis dialógica, investigam a obra de Benincá para explorar o modo como ele toma o senso comum como base de investigação da metodologia da práxis. Nesta articulação, os autores postulam que seja possível avançar na tematização da articulação existente entre o método da práxis, a formação continuada do pesquisador e o papel formativo do grupo de pesquisa.

O terceiro texto intitulado de “Entre o ser, o aprender e o ensinar: o espaço do diálogo e da experiência na sala de aula” de responsabilidade dos professores Regiano Bregalda e Selina Maria Dal Moro, problematizam a sala de aula como um espaço de diálogo e elaboração da experiência formativa. A reflexão proposta visa compreender em que sentido as dimensões do diálogo e da participação, enquanto princípios, podem ser repensados a partir da categoria de experiência formativa. Dialogando com autores como Benincá, Freire e outros, sustentam que somente a relação que a sala de aula deve mobilizar, mediada pelo diálogo, a experiência formativa, aquela que promove o interesse pela descoberta do diferente, e projeta e inaugura outras formas de vida, sejam elas pessoais e/ou sociais.

Seguindo o itinerário de reflexão, os leitores encontrarão outros textos provocativos e fecundos para pensar a teologia e os processos de evangelização. O experiente e escritor Pe. Ivo Oro da Diocese de Chapecó nos brinda com um texto que reflete “A prática evangelizadora em uma comunidade com o Rosto de Jesus”. Para Oro, os cristãos aprenderam da herança de Israel a importância de ser e viver como povo de Deus e vivenciaram com Jesus e os apóstolos o ser comunidade, compartilhando a vida, os dons e os bens. A Igreja precisa urgentemente retomar a chave eclesiológica do Vaticano II: Igreja (todos os batizados/as) é o povo de Deus e a prioridade que o episcopado latino-americano estabeleceu, especialmente em Medellín, Puebla e Aparecida é viver a vida em comunidades. Segundo ele, as comunidades têm a missão de humanizar e libertar, vivendo o amor, a misericórdia e o cuidado da vida, tanto internamente, como contribuindo na construção do Reino, transformando a sociedade.

A teóloga leiga Alzirinha Rocha de Souza, percorre em sua reflexão o tema da “sinodalidade e o fazer teológico à luz do processo sinodal”. Trata-se de uma reflexão aprofundada fruto de sua conferência realizada na Itepa Faculdades. Nele, apresenta elementos de sinodalidade na práxis, nas palavras e nos escritos que são inerentes, não somente ao momento atual de Igreja, mas na personalidade mesma do Papa Francisco. Realça também à luz da primeira etapa universal do Sínodo realizada em outubro de 2023, os temas de convergência e de desafios aí surgidos, bem como os desafios para o trabalho teológico.

O teólogo do Uruguai, Diego Pereira Ríos, traz como contribuição o texto “Marta: a discípula amada do Senhor - exegese bíblica de Lc 10,38-42 numa perspectiva marginal”. É uma prática de exegese bíblica a partir da ótica sociológica da marginalidade, aplicada a uma perícope do evangelho de Lucas, especificamente referente ao episódio conhecido em quase todas as versões da Bíblia como “Marta e Maria”. Com o olhar voltado para a marginalidade, o autor procura mudar a forma de perceber a narrativa, buscando encontrar alguns aspectos que podem ser reinterpretados. Marta, sempre vista como a mulher que descuida a atenção em Jesus, é agora revalorizada e, por isso, resgatada das tarefas que tem de cumprir no âmbito das suas responsabilidades.

“A teologia do direito canônico e o Vaticano II: a natureza epistemológica do direito eclesial” é o texto de Mari Teresinha Maule. O artigo possui como objetivo discutir aspectos da teologia do direito canônico com a perspectiva proveniente do Concílio Vaticano II. Frente à concepção meramente juridicista, o Vaticano II destaca a dimensão de mistério (LG 1), Igreja Trindade, que nasce do Pai, está animada pelo espírito (LG 4) e reflete a luz de Cristo (LG 1). Em uma tentativa de voltar às origens da igreja bíblica e primitiva, chama o Povo de Deus a fazer-se presente e fala de comunidade, em especial para com os mais pobres e marginalizados. Sendo, essa a fonte que emana o arcabouço jurídico do direito canônico, bem como do direito eclesial.

A presente edição contempla ainda o texto intitulado de “Pastore Tedesco: Sobre a complexidade do Papa Bento XVI”, que é uma tradução em português do texto escrito/publicado em alemão pelo teólogo Wolfgang Beinert. Trata-se de uma importante reflexão que apresenta o caminho histórico de Joseph Ratzinger, prefeito da fé, Papa Bento XVI e sua renúncia. A autoria é de um presbítero, professor universitário e que foi companheiro de longa convivência com Ratzinger.

Por fim, apresentamos aos leitores uma resenha do livro lançado pela Edições CNBB em 2024 intitulado “Experiências Missionária: caminhos para uma formação presbiteral em chave missionária”, de responsabilidade de Dom Esmeraldo Barreto de Farias, Iracy dos Santos Júnior, Jeferson Felipe Gomes da Silva Cruz e José Bernardi. Este livro tem especial importância em um tempo de renovada consciência missionária, impulsionada pelo Papa Francisco, nos passos do Concílio Vaticano II e da Conferência de Aparecida 2007. Não precisamos mais lembrar a insistência e a convicção provenientes do Papa Francisco para que a Igreja seja decididamente missionária, em saída, hospital de campanha, que coloque no centro a opção pelos pobres. A missionariedade da Igreja é o paradigma eclesiológico do pontificado do Papa Francisco (EG 15).

Fazemos votos que todos e todas apreciem as diferentes reflexões e consigam impulsionar sempre mais a vida e a missão da Igreja.

Boa Leitura!