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Asitua çã odosescravo s
A Ásia Menor, embora pertencente a o Império Romano, tinha sua realidade própria.
Isso podemos constatar em diversos pontos. A realidade da escravi d ão er a di f er en te da que
existia em Roma. Embora a s it u açã o dos escravos sempre se demonstrou precária, parece
que no ocide n te o trato com os escravos demonstrou-se muito mais despótico. Por
exemplo, em Roma, o número de escravos chegava a dois terços da população, enquanto
que na Ásia Menor, onde se localizava a Galácia, girava em torno de um terço
11
. Não havia
somente diferença de porcentagem, no tratamento també m . “Tinham um mínimo de
direitos (não perante a lei, mas por força do costume): alimentação, vestes, matrimônio,
um mínimo de vida familiar, inclusive certas posses e poupanças”
12
.
Era comum a presença de esc ravos , sobretudo, nas famílias mais abastadas,
praticamente fazendo parte da convivência familiar. Alguns até c ont rib u íam na educação
dos filhos e ajudavam na admi ni s traç ão dos bens de seu senhor. Ainda que a realidade da
escravidão depreciava socialmente o ser humano, diminuindo o valor da pessoa humana,
certamente, a vida dos escrav os na Ásia Menor era um pouco mais tranqu i la do que em
Roma, onde muitos escravos eram prisioneiros de guerra.
Algumasvantagens
O Império Romano, após a conquista violenta dos povos, est abe le c ia uma segurança
militar que garantia, normalmente, certa ausência de conflitos armados. É o que
chamavam de pax romana, a qual tinh a um fundamento ideológico que fundamentava
conotação divin a do imperador romano. “A paz romana nos territórios conquistados era
possível, em grande parte, porque os vencidos passavam a reconhecer o direito divino de
Roma de governá-los”
13
. O Império dava certa autonomia às províncias, desde qu e
garantissem o pagamento dos impostos e, principalmente, o reconhecimento do domínio
de Roma, mediante o c u lt o ao imperador. Estabelecia-se um pacto: Roma garantia a paz e
as províncias, os impostos e a sujeição. “Augusto foi o príncipe da paz nas relações
exteriores, mas travava-se de uma paz no se nt i do romano: um pacto depois da
conquista”
14
. Se, por um lado, isso representava uma estratégia de dominação, por outro,
trouxe alguns benefícios, sobretudo, para as famílias camponesas, muitas tinham suas
plantações saqueadas durante as guerras.
Uma das funções d o exército, em tempos de ausência de conflitos importantes, era
de construir obras públi c as
15
. “No exército estav am, também, engenheiros e trabalhadores
que construíam pontes sobre rios caudalosos em poucos dias, assim como as estradas que
permitiam uma mobilidade excepcional”
16
. Isso favoreceu a circulação de mercadorias e a
mobilidade humana. Essa prática acabou fav ore ce n do o desenvolvimento econômico das
províncias romanas. “Os doi s primeiros séculos de nossa era foram de grande surto
econômico, especialmente no tempo dos imperadores Flávi os. Uma das regiões que mais
aproveitou desse ‘b oom econômico’ foi a Ás ia Menor”
17
. Nes sa região havia grande
potencial econômico: terras férteis, produção de grãos, frutas, madeira, gado, lã, além de
11 Eduardo ARENS, Ási a Menor nos tempos d e Paulo, Luc as e João, p.68.
12 Eduardo ARENS, Ásia Menor nos tempos de Paulo, Lucas e João, p.62. Daí vinha a possibilidade de o escravo, depoi s de
certo tempo de trabalho, pagar o valor do seu re g at e , passando a ser um liberto.
13 John Dominic CROSSAN & Jonathan L REED, Em busca de Paulo: como o apóstolo Paulo opôs o Reino de Deus ao Império
Romano, p.63.
14 Richard A. HO R SL EY , Paulo e o impéri o: religião e poder na sociedade imperial romana, p.27.
15 Eduardo ARENS, Ásia Menor nos tempos d e Paulo, Luc as e João, p.90.
16 Pedro Paulo FUNARI, Grécia e Roma, p.8 7.
17 Pedro Paulo FUNARI, Grécia e Roma , p.107. A melhoria das estradas favoreceu as viagens missionárias de Paulo e
seus companhei ros.
RUBINI, Ademir.
Mês da Bíblia:“Pois todosvós sois UM só emCristo Jesus” (Gl 3,28b)
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.38,n.130,p.78-85,Jan./Jun./2021.ISSN on-line: 2763-5201.