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uma releitura do Êxodo num novo contexto de escravidão. Procurou mostrar que a vitória
do povo é possível. O livro, no conjunto de sua narrativa, revela que e s sa luta deu certo!
Para Maria Antônia Marques,
o livro de Rute nasceu de grupos que se organizaram para sobreviver. Uma das
estratégias era a releitura e atualização de antigas leis, como a da respiga, do
resgate [da terra] e do levirato. O objetivo era proteger as mulheres
estrangeiras, defendend o a justiça e a solidariedade como valores fundamentais
na reconstrução do povo. Era um protesto contra a política pós-exílica de
isolamento social e eliminação dos estrangeiros, defendida pela teocracia de
Jerusalém. Ao colocar uma mulhe r moabita como modelo de solidariedade e
como ancestral de Davi , a história propunha o acolhimento de es tran g e iros e
protestava contra a proibição de casamentos mi st os
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.
No contexto de rejeição dos estrangeiros , o livro de Rute apresenta, de modo
extraordinário, uma estrangeira, moabita, como “espelho no qual os judaítas devem mirar-
se para enxergar sua própria condição”. “Dian te das ações de Rute, os judaítas tomam
consciência de sua própria identidade, de suas necessidades, de suas limitações. Quando
isso acontece, tendo cumprido seu papel, Rute desaparece. Na verdade, o estrangeiro/a, diz
o autor/a da estória, não destrói a id e nt id ade judaíta, como pensam [pensavam] os líderes
de Jeru s alé m, mas a revela”. Por isso, “Rute é uma proposta. Rute é um paradigma” e,
podemos dizer mais, sempre atual
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.
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