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a vida. A própria raiz da palavra emoção é do latim movere – “mover” – acres ci da d o pre f i xo
“e-”, que denota “af as ta r-se ”, o que significa que em qualquer emoção est á implícita a
propensão para um agir imediato”
8
. À vista disso, as emoções influenciam mais em nossa
vida do que podemos perceber.
A síntese da IE apresentada por Goleman mostra qu e um indivíduo emocionalmente
inteligente pratica, ao mesmo tempo, autoconsciência e autogestão, consciência social e
gerenciamento dos relacionamentos. Ou seja, conhece as suas próprias emoções, sentimentos,
os administra, agindo sobre e le s e tem consciência das su as relações, gerenciando-as. Em
poucas palavras, tem autodomínio e capacidade para gerenciar as relações
9
.
Em Mateus ( 4 ,1 -1 1) , após Jesus ter sido batizado, o Espírito o conduz “ao dese rt o,
para ser tentado pelo diabo ” (Mt 4, 1) . Deserto, na Bíblia, é local de transf orma ção, de
mudança, de revisitar as questões fundamentais da vida e ressignificar o modo de ser. É no
deserto que Moisés vive a experiência do encontro com Deus na montanha (Êx 3,1-6). O
povo de Deus, despois de sair da situação de escravidão do Egi to, passa pelo deserto, onde
reconstrói as bases sociais, religiosas, políticas e econômicas da sociedade (Êx 16;18; 19 ; 20;
21). Jesus passa quarenta dias no desert o, assim como o povo passou quarenta anos.
Quarenta é um número simbólico, sign if i ca um tempo necessário e oportuno. No de se rt o
Jesus vai passar pelo test e da autoconsciência, da autorresponsabilidade, do autocontrole.
O diabo – acusador, que pretende dividi r, criar conflitos – propõe a ele os benef íc io s do
poder, do di nh e ir o e do prazer. Ser rico, ser controlador do mundo e ser feliz – o que mais
alguém poderia dese j ar? São as te nt açõe s da existência, que podem ser pagas com o preço
do isolamento, do vazio e da tristeza. Jesu s precisará responder por si mesmo, com
autorresponsabilidade. É o que faz, mantendo-se firme na doação, na humildade, no
serviço. Eis que, então, o diabo o deixa, e os anjos passam a servi-lo.
Este diálogo interior Jesus o manterá ao longo de sua vida em missão. Seguidamente
vemos Jesus subir a montanha ou apartar-s e do grupo para descansar, meditar e rezar.
Especialmente quando tem de tomar uma decisão importante, como quando se
transfigurou (Mt 17,1-8), quando queriam fazê-lo rei por ter alimentado a multidão (Jo
6,15), quando estava prestes a ser preso, no Getsêmani (Mc 14,32-36). A vida de Je s u s será
deserto (autorreflexão, medit ação) , planície (missão, ação-reflexão-ação), montanha
(oração, contemplação), manancial/fonte (experiência profunda de Deus).
3 DIMENSÃO SOCIAL DA INTELIGÊNCIA:SERES DE SOLIDARIEDADE
O s estudos de Goleman sobre a IE o conduziram à percepção de outra d imensão
da inteligência, relacionada tanto à in te lectua l como à e mocional, mas com
característic as próprias, que o levar am à ideia de que “fomos programados para nos
conectar”
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. Nosso cérebro, ao longo da evolução, foi sendo preparado para os
relacionamentos. É ineg ável, pelas nossas próprias e xperiências de i nteração social,
que os encontros, as relações, os contatos entre as pessoas geram reações quase que
e spontâneas, sobre as quais temos pouco controle. Uma pessoa ri e, sem mesmo
conhecê -la e sem poder controlar, sorrimos de volta, mesmo que timidamente. Vemos
u ma pessoa irritada e franzimos a te st a. O encontro emocionado de pessoas q ue há
tem po não se viam, também nos toca as entranhas. Ao que parece, s ofremos de
e ncontros, ou seja, as relações provocam nosso corpo e nossa mente de um modo todo
8 Daniel GOLEMA N, Inteligência emocional, p.32.
9 Daniel GOLEMA N, Inteligência emocional, p.27 .
10 D ani el GOLEMAN, In te ligência soc ia l, p.10.
BALBINOT, Rodinei.
Ciência,práticadeJesus e formação humana
Revista Teopráxis,
PassoFundo,v.38, n.130, p.95-104, Jan./Jun./2021. ISSNon-line: 2763-5201.