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muito tempo e longos períodos, foi considerada e vista como aquela que gera a vida
(procriar), mas sem qualquer direito, portanto, sem voz e s em vez de participação nas
decisões.
Foi sobretudo a partir do Concílio Vaticano I I (1965) que se abriram pe rs pe ct i vas ,
em vistas da construção de reflexão e tomada de decisões estru t u rai s em relação à
valorização da participação das mulheres no seio da Igre j a. O batismo, como fonte de todas
as vocações, começa a ganhar e s paço e, i ndi re t ame nt e , reflete na temática da presença das
mulheres. A abertura a este diálogo, se dá após muitas que s tõe s conflituosas no contexto
do ambiente Conciliar e na perspectiva da volta às font e s bíblicas, patrísticas e litúrgicas,
na qual se descobre o sensus fides de todo o povo de Deus. Surge daí, entre outros temas, a
necessidade de a I g re ja abrir suas portas não somente para a presença da mulher, mas no
diálogo com as realidades do mundo em desenvolvimento. De modo particular, na
Constituição dogmática Lumen Gentium, desenvolve-se o conceito e a compreensão da
Igreja como “sacramento de salvação” (LG 4 8 ). “A Igreja é sacramento do Reino de Deus,
inaugurado por Jesus e edificado no Espí rit o por todas as pes s oas de boa vontade”
1
.
Recupera-se o conceito Povo de Deus para qualificar o conjunto dos batizados, sejam eles
clérigos, religiosos/as ou leigos/as.
Na concl us ão do Con cíl io Vaticano II, o Papa Paulo VI envia uma mensagem às
mulheres, dando a elas a esperança e a certeza de que, a partir de então, o espaço que estava
sendo oc u pado de fato, passaria a ser processualment e reconhecido como de dire i to dentro
da Igreja.
Às mulheres
E agora, é a vós que nos dirigimos, mulheres de todas as condições, jovens,
esposas, mães e viúvas. A vós também, virgens consagradas e mulheres
solteiras: vós constituís a metade da família hu man a.
A Igreja orgulha-se, como sabeis, de ter dignificado e libertado a mulher, de ter
feito brilhar durante os séculos, na diversidade de caracteres, a sua igualdade
fundamental com o homem.
Mas a hora vem, a hora ch e g ou , em que a vocação da mulher se realiza em
plenitude, a hora em que a mulher adquire na cidade uma influência, um
alcance, um poder jamais conseguidos até aqui.
É por isso que, neste momento em que a humanidade sofre uma tão profunda
transformação, as mulheres impregnadas do espírito do Evangelho podem tanto
para ajudar a humanidade a não decair.
Vós, mulheres, tendes sempre em partilha a guarda do lar, o amor das fontes, o
sentido dos berços. Vós estais presentes ao mistério da vida que começa. Vós
consolais na partida da morte. A nossa técnica corre o risco de se tornar
desumana. Reconciliai os homens com a vida. E sobretudo velai, nós vos
suplicamos, sobre o futuro da nossa espécie. Tendes que deter a mão do homem
que, num momento de loucura, tentasse destruir a civilização humana.
Esposas, mães de família, primeiras educadoras do gênero humano no segredo
dos lares, transmiti a vossos filhos e filhas as tradições de vossos pais, ao mesmo
tempo que os preparais para o insondável futuro. Lembrai-vos sempre de que
uma mãe pertence, em seus filhos, a esse futuro que ela talvez não chegará a ver.
E vós também, mulheres solteiras, sabei que podeis cumprir s e mpre a vossa
vocação de dedicação. A sociedade chama-vos de toda a parte. E as próprias
famílias não podem viver sem o socorro daqueles que não têm família.
Vós especialmente, virgens consagradas, num mundo em que o egoísmo e a
busca do praze r querem ser lei, sede as guardiãs da pureza, do desinteresse, da
piedade. Jesus, que deu ao amor conjugal toda a sua plenitude , exaltou também
a renúncia a esse amor humano, quando é feita pelo Amor infinito e para
serviço de todos.
1 Agenor BRIGHENTI, Teologia pastoral, p.132.
BOLZAN, OuroraRosalina.
O ministério damulher/leiga naIgreja:Sal da terra e luz do mundo (Mt 5,13-14)
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.38, n.130, p.105-112, Jan./Jun./2021. ISSN on-line:2763-5201.