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PAULO E A INTEGRAÇÃO
cultura, religião, corporalidade
e espiritualidade
PAULO AND INTEGRATION
culture, religion, corporeality
and spirituality
Isidoro Mazzarolo*
Resumo: Paulo é um homem versátil, aberto e decidido em tudo o que diz e
faz. Ele pode ser definido como teólogo, filósofo, político e místico. Neste
artigo propomos alguns tópicos de reflexão em torno da importância do seu
pensamento como contributos concretos na integração da espiritualidade e
da sociedade.
Palavras-chave: Paulo. Religião. Cultura. Espiritualidade. Integração.
Abstract: Paul is a versatile man, open and decisive in everything he says
and does. He can be difined as teologian, philosopher, politician and mystic.
In this aerticle we propose some topics for reflection on the importance of
his thinking as concrete contributions to the integration of spirituality and
Society.
Key words: Paul. Religion. Culture. Spirituality. Integration.
v. 38, n. 131, Passo Fundo,
p. 39-57, Jul./Dez./2021,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI: http://dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v38i130.50
* Possui bacharelado em Teologia pela
Pontifícia Universidade Católica do RS
(1980), mestrado em Exegese do Antigo
Testamento - Pontifício Instituto Bíblico de
Roma (1986) e doutorado em Textos seletos
dos evangelhos sinóticos pela Pontifícia
Universidade Católica - Rio (1992). Pós-
doutor pela École Biblique et Archéologique
Française de Jerusalém (Israel), 1996. É
membro da ABIB (Associação Brasileira de
Pesquisa Bíblica), parecerista científico de
diversos periódicos nacionais de teologia e
membro da Comissão do INEP que elabora o
processo do ENAD, em teologia. Atualmente
é professor de exegese bíblica na PUCRS
(PUC de Porto Alegre) e assessor de cursos
bíblicos a nível nacional.
Email: mazzarolo.isidoro@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-9620-1517
Recebido em 11/03/21
Aprovado em 23/07/21
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INTRODUÇÃO
Depois de Alexandre, o Grande, o mundo ocidental não foi mais o mesmo. O
helenismo, com seus princípios da arte, da filosofia, do belo e da integração de povos e
culturas possibilitou a superação de muitos paradigmas excludentes, séculos anteriores.
O helenismo não é uma religião, mas pode ser chamado de uma teosoia. É nesse
quadro de grandes mestres que nosso Apóstolo vive a sua infância, mesmo sendo de cultura
judaica, em Tarso. A navegação em três mares concomitantes, isto é, a religiosidade judaica,
a cultura grega e o domínio político romano, permitem a Paulo uma visão e compreensão
de mundo e espiritualidade para além da cultura judaica.
Ao conhecer o cristianismo, Paulo adapta, cria, inova e insere nesses mundos aquilo
que ele conheceu por revelação, no caminho para Damasco (At 9,1-19).
A INFLUÊNCIA DO HELENISMO E A MUDANÇA DE PARADIGMAS
A disciplina é a espontaneidade ligada à reação da responsabilidade e, ambas estão
relacionadas com a disciplina e a compaixão
1
. Paulo uniu a ternura ao vigor porque soube
formar uma consciência interior de alto nível espiritual. Ele sabia viver na abundância, sem
escandalizar, e na indigência sem se desesperar:
11
Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda
e qualquer situação.
12
Tanto sei estar humilhado como também ser elogiado; de tudo e em todas as
circunstâncias, tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de
abundância como de necessidade;
13
tudo posso naquele que me fortalece.
14
Todavia, fizestes bem, associando-vos na minha tribulação.
15
E sabeis também vós, ó filipenses, que, no início do evangelho, quando parti
da Macedônia, nenhuma igreja se associou comigo no tocante a dar e receber,
senão unicamente vós outros;
16
porque até para Tessalônica mandastes não somente uma vez, mas duas, o
bastante para as minhas necessidades (Fl 4,10-16).
O caminho do conhecimento proporciona o desenvolvimento das capacidades de auto
superação, de transcender a dor e a formação de solidez de caráter. Nisto, como ele descreve
aos Filipenses, no seu intento de agradecer os donativos recebidos, que sabia viver em
situações adversas e extremas. Essas experiências práticas contribuíram para a formação da
consciência livre e madura, no diálogo com as culturas diferentes.
Falar de influência helenística no pensamento paulino pode provocar algumas reações
compreensíveis.
2
autores que justificam todo o comportamento de Paulo a partir das
estruturas judaicas e com alguns argumentos corretos negam qualquer peso da cultura grega
na teologia do Apóstolo. Essa posição, no entanto, não abarca a totalidade do raciocínio e da
teologia de Paulo. Não reconhecer a presença das ideias de liberdade, de justiça e de ética
helenística na estrutura mental de Paulo é desconhecer a própria teologia do Apóstolo. Um
judeu seria incapaz de fazer a passagem do singular (cultura judaica) para o plural (culturas,
1 Danah ZOHAR, e Ian MARSHALL, QS Inteligência Espiritual, p.223.
2 Romano PENNA, Paulo e os componentes gregos do seu pensamento. In: Atualidade Teológica, (2009), p.55. Penna
refere no seu artigo que Albert Schweitzer, em 1930, o qual afirmou que quem quer encontrar traços helenísticos no
pensamento paulino pode ser comparado a quem quer transportar a longa distância água em uma cesta. Certamente
Schweitzer tinha outras intenções quando fez essa afirmação, pois o mais simples dos exegetas percebe que na
pedagogia de Jesus e na de Paulo estão traços indeléveis que não são encontrados nas tradições veterotestamentárias e
tão pouco no pensamento judaico pós-cristão.
MAZZAROLO, Isidoro
Paulo e a integrão: cultura, religião, corporalidade e espiritualidade
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raças e gênero) que compõem de modo axial o pensamento e a universalidade do método de
evangelização paulino.
A cultura e a filosofia helenística tinham como princípios a liberdade e os direitos
sociais das pessoas em sociedade. Tanto na vida do dia a dia como nas instituições, o
helenismo moldava os hábitos dos povos estrangeiros que tinham contato com eles. Os
judeus que viviam em ambientes helenísticos, muitas vezes participavam de atividades nos
teatros e outros eventos cívicos dos gregos e isso gerava uma grande diferença entre os
judeus helenistas e os judeus da Palestina, onde as normas sociais eram muito mais rígidas
no contato com os pagãos
3
.
Como jovem, na cidade de Tarso, muito helenizada, certamente como judeu de
caráter ortodoxo, influenciado pelos seus pais, Paulo aprendeu de seus professores de
escolas primárias que a injustiça é perversidade de caráter e testemunho da ignorância. Essa era
um dos princípios éticos da filosofia platônica que ensinava que o justo é sábio e o injusto é
um idiota
4
. Algumas vezes Paulo perdoa, mas outras vezes ele é severo e não aceita a
injustiça como ingenuidade ou idiotice (Gl 1,6-10; 3,1-3). Ele, de modo magistral e
insuspeitável, segue as pegadas de Jesus passo a passo (Mt 5,20) e insiste na retidão de
caráter que era a base do cristianismo, mas também o fundamento da ética helenística.
Podemos suspeitar que Jesus tenha conhecido esses princípios helenísticos da justiça
acima e antes da religião, mas Paulo, seu primeiro e mais forte amigo, o patenteia em todas
as suas pegadas missionárias e em cada letra de seus escritos. O helenismo não era uma
religião ou uma filosofia unívoca, mas tinha como princípios éticos a justiça e a retidão de
caráter como caminhos para a felicidade escatológica
5
.
O helenismo não influenciou apenas Paulo, mas toda a teologia cristã dos primeiros
séculos. Enquanto os grandes filósofos desapareciam, surgiam as escolas como a Didascalica
e a Neoplatônica de Amônio Sacas e da Alexandria de Orígenes e Plotino que se tornaram
os primeiros grandes ambientes de helenistas convertidos ao cristianismo
6
. Ao penetrar nas
esferas do mundo greco-romano, o cristianismo, especialmente com Paulo e seus
companheiros adotaram o método dos u`poqh/kai (ensinamentos) que eram experiências
curtidas pelos mais vividos e transmitidas aos inexperientes
7
. Paulo insiste muito com os
cristãos da Galácia dizendo que quando eram infantos ou menores (nh,pioi) na e
dependentes das coisas rudimentares do mundo (stoicei,a tou/ kosmou/), não tinham o
conhecimento necessário para distinguir as verdades fundamentais da fé, da justiça e da
liberdade em Cristo (Gl 4,3).
O contexto dessa referência de Paulo está na dinâmica da paternidade divina. Os
Gálatas que viviam sob uma forte influência helenística, tinham como pai Zeus, a grande
divindade grega. Paulo usa um esquema jurídico para justificar a nova filiação em Deus, a
partir de Jesus Cristo. Antes de Jesus Cristo todos estavam sob a lei (os judeus) e sem lei (os
pagãos), por isso, dependentes ou escravos dos rudimentos do mundo. No entanto, agora
chegou a redenção e a verdadeira filiação divina, onde todos podem, sob a impulsão do
Espírito Santo, invocar o mesmo Deus como Abbá (Pai, Gl 4,1-7)
8
. O Abbá grego era o pai
dos deuses que se chamava de Zeus e tinha um filho chamado Hermes, que também tinha
3 P. BORGEN, Early Christianity and Hellenistic Judaism, p.1-44. Nesse capítulo o autor discute a relação e a influência do
helenismo sobre o judaísmo da diáspora. Citando diversas vezes Filon, afirma que os judeus participavam com relativa
frequência nos teatros, banquetes e cerimônias com os pagãos.
4 PLATÃO, A República, p.32-33.
5 I. MAZZAROLO, O Apóstolo Paulo, o Grego, o Judeu e o Cristão, p.70.
6 M. SPINELLI, Helenização e recriação de sentidos, p.14.
7 W. JAEGER, Paideia, A formação do homem grego, p.239.
8 I. MAZZAROLO, Carta de Paulo aos Gálatas, p.117.
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visitado os humanos com bondade e compaixão, mas não se encarnou, não comungou da
experiência humana e exerceu a solidariedade e o amor. Hermes continuou como um mito.
O helenismo tinha como meta principal, através do adestramento, do exercício, dos
jogos e da ascese tornar as pessoas livres, capazes e, eticamente, responsáveis pelos seus
atos, pois o homem livre era aquele perfeito na sua moralidade, ainda que essa perfeição
fosse relativa, mas esse era o objetivo
9
. Paulo fala da perfeição através da aproximação de
Jesus e da redenção alcançada pela sua embaixada no mundo. Estar atrelado aos mitos,
crendices, legalismos e outros aspectos vinculados diretamente ao mundo, para Paulo, era
ser escravizado por coisas pequenas e revelava infantilidades, por isso ele insistia na
maturidade da fé, da justiça e do amor. Vencer as tentações do mundo era tornar-se maior
do que elas, era ser maior ou adulto na ética, na justiça e na verdade (Rm 12,1-5).
Nessa perspectiva, Paulo exorta os cristãos de Roma a uma mudança de paradigmas e
à não conformação com esquemas caducos do passado. Paulo pede uma nova forma
mentis, um novo jeito de pensar sobre a realidade e as situações e não ter conceitos errados
a respeito da realidade. Cada um deve medir-se com a estatura que tem diante de Deus e
essa estatura do amor na direção do próximo
10
. O helenismo ajudou muito o cristianismo na
superação de fronteiras excludentes oriundas do judaísmo, de modo especial no que tange
ao gênero e aos conceitos de eleição e circuncisão (cf. Rm 10,12; Gl 3,28; Cl 3,11). Paulo
pensa sempre num horizonte pneymatológico para superar o aprisionamento das coisas
elementares do mundo (Gl 4,3; Cl 2,8). A seu exemplo, mais tarde, Clemente Romano
escrevendo aos Coríntios insiste de que o pneyma permeia todas as partes do organismo
humano, uma ideia que provém da medicina grega
11
.
Uma forte herança do helenismo sobre Paulo foi a liberdade religiosa pagã que lhe
permitiu fazer uma leitura comparativa com o judaísmo. Todo o contexto posterior à
revelação no caminho para Damasco provocou uma reflexão teológica, sociológica e ética
em Paulo entre o judaísmo e o helenismo.
O helenismo se caracterizou muito pela sua agregação à cidade (pólis). As cartas de
Paulo, exceto Filemon e as pastorais, são dirigidas aos cristãos das cidades, congregados ao
redor de centros de poder. Desta forma o cristianismo paulino é um cristianismo da pólis e
não do campo ou rural. Eram as cidades que possuíam teatros, ginásios, academias
filosóficas e centros de administração e poder. As cidades facilitavam a comunicação
universal do grego em contraste com as vilas do campo que possuíam seus próprios
idiomas ou dialetos. As cidades favoreciam os próprios casamentos entre cidadãos e
visitantes ou novos habitantes que se naturalizavam nelas
12
.
O judaísmo se caracterizava por ser uma religião absolutamente fechada, reducionista
e excludente enquanto o helenismo se caracterizava por posições quase ao contrário, isto é,
includentes. Os gregos não tinham preconceitos de culturas, línguas ou costumes
estrangeiros, porque faziam apenas uma distinção na estratificação social: livres ou escravos.
Livres eram todos aqueles que possuíam conhecimento, formação e instrução mental e
escravos eram os sem formação, prisioneiros de guerras e pessoas vendidas como
mercadorias.
A religião no mundo greco-romano era uma questão de escolha individual. Havia
deuses principais e secundários, mas não havia uma monolatria e muito menos um
monoteísmo. O judaísmo, como uma religião fechada, negava qualquer opção diferente e
9 I. MAZZAROLO, O Apóstolo Paulo, o Grego, o Judeu e o Cristão, p.89.
10 I. MAZZAROLO, Carta e Paulo aos Romanos, Educar para a maturidade e o amor, p.149.
11 W. JAEGER, Cristianismo Primitivo e Paideia Grega, p.32.
12 R. WALLACE, e W. WYNNE, The Three Worlds of Paul of Tarsus, p.95.
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por isso perseguia todos os que oferecessem qualquer alternativa de culto ou prática. Paulo
(Saulo), como judeu conservador se distinguia na perseguição aos cristãos dando
demonstração das fortes convicções de que não podia haver nenhum culto ou prática fora
do judaísmo (At 8,1-3). Na carta aos Gálatas ele testemunha essa conduta nos tempos da
juventude em Jerusalém: Ouvistes, certamente, da minha conduta de outrora no judaísmo,
de como perseguia sobremaneira e devastava a Igreja de Deus e progredia no judaísmo mais
do que muitos compatriotas da minha idade distinguindo-me no zelo pelas tradições
paternas (Gl 1,13). De modo análogo é o testemunho do Apóstolo diante dos judeus de
Jerusalém, segundo o relato de Lucas:
Eu sou judeu, nasci em Tarso, da Cilícia, mas criei-me nesta cidade, educado aos
s de Gamaliel na observância exata da Lei de nossos pais, cheio de zelo por Deus,
como vós, todos no dia de hoje. Persegui de morte este Caminho, prendendo e
lançando na prisão homens e mulheres como o podem testemunhar o sumo
sacerdote e todos os anciãos. Deles cheguei a receber cartas de recomendação para
os irmãos em Damasco e para me dirigi, a fim de trazer algemados para
Jerusalém os que lá estivessem para serem aqui punidos (At 22,3-5).
A religião era um fator de condenação e isso diferenciava radicalmente dos costumes
pagãos. Após o encontro com o Senhor no caminho de Damasco, Paulo recupera tudo o que
aprendeu na sua infância em Tarso e ele reconhece que a sua fase da juventude no judaísmo
tinha sido um desastre. No discurso de Jerusalém, na sua fase final de missão (At 22,3-5),
Paulo faz uma confissão de reconhecimento do pecado e também evidencia que essa prática
de perseguição e morte feria a lei máxima do Decálogo: Não matarás (Ex 20,13). Os pagãos
não matavam por questões de religião e Paulo reencontra o princípio do Decálogo, mesmo
que todas as justificativas de pena de morte tenham sido um código tardio, mas incorporado
às tradições mosaicas. Os rabinos acrescentaram ao Decálogo um código de doze casos de
pena de morte (Lv 20,8-27), mas todos eles eram contrários ao Decálogo que interditava
qualquer forma de morte.
O pensamento de Paulo, depois de Damasco, foi sendo estruturado por uma simbiose
das duas culturas, a judaica e a helenística sob a ótica do cristianismo. Nesse aspecto, o
cristianismo paulino, as cartas, o estilo e as formas literárias se tornam devedoras da cultura
helênica. Hock afirma que Paulo aprendeu o grego como qualquer criança de sua idade,
soletrando sílabas breves e longas, depois aprendiam listas de palavras. Essas listas de
palavras continham também um conjunto especial de nomes próprios:
a. Divindades: Zeus, Ammon, Atlas;
b. Heróis homéricos: Aquiles, Agamenon, Ajax;
c. Filósofos: Tales, Zenão, Xenofonte;
d. Escritores: Homero, Lísias, Menandro;
e. Personagens nas comédias de Menandro: Demeas, Moschion, Sikon.
Depois de lerem essas listas de palavras os estudantes já começavam a ler mais e iniciar
os exercícios de conversação.
13
Paulo transitava tão bem na língua grega que quando foi dar
depoimento aos judeus de Jerusalém, eles ficaram estupefatos ao ouvi-lo falar em hebraico
(At 22,2). De modo semelhante, no início de sua missão apostólica na Antioquia (At 11,20-
26), ele foi trazido de Tarso, onde ainda não era muito aceito, para a Antioquia a fim de
pregar aos helenistas e aos próprios gregos, dada sua eloquência e capacidade de raciocínio.
Paulo, como judeu helenizado, cultivava a religião de seus ancestrais, mas vivia em
um ambiente muito eclético e transitava tranquilamente entre judeus conservadores,
13 R. F. HOCK, Paulo e a educação greco-romana, p.175.
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helenistas ou pagãos adoradores de deuses. No mundo greco-romano, mas especialmente
entre os gregos, havia diferentes categorias de adoradores: uns eram sárkikoi ou sarkinói
(materialistas ou carnais, 1Cor 3,1-3), outros psychikoi (naturais, psicológicos, 1Cor
15,44.46) e outros pneumátikoi (espirituais, 1Cor 2,13; 9,11; 14,1; 15,44). Os sarkikói ou
carnais eram o que podiam ser considerados os ateus da época, os quais eram diferenciados
dos espirituais (1Cor 3,1)
14
. Os carnais estavam em contraposição com os espirituais e longe
da possibilidade de receber os mistérios de Cristo em virtude de sua imaturidade no
conhecimento de Cristo
15
. Os nh,pioi (infantos) ou, na verdade, imaturos na fé e na virtude,
não eram considerados maus ou perversos, mas ingênuos como crianças que necessitavam
de leite ou de ensinamentos básicos como a papinha para crianças e depois ensinamentos
mais radicais e discernentes como é o alimento sólido para um adulto. A analogia dos
estágios da vida com os estágios da maturidade da tem uma finalidade catequética muito
importante, pois não é possível transpor etapas na vida, visto que cada etapa tem os seus
tempos e momentos.
Crossam afirma, a partir das inscrições de nomes encontrados numa coluna de
mármore pertencente à sinagoga em Afrodisia, que essa sinagoga era frequentada por
judeus, prosélitos e pagãos adoradores de Deus
16
. Essa inscrição pode revelar que o
judaísmo na diáspora não era tão fechado quanto o da Palestina.
O ambiente helenístico na Acaia, especialmente em Atenas e Corinto era muito forte
nas especulações das religiões mistéricas, na gnôsis e na sabedoria e filosofias esotéricas. O
demiurgo (Archon) era o centro do mistério da sabedoria divina
17
. Esse ambiente filosófico,
mistérico, esotérico, crente e pagão favoreceu e influenciou muito o cristianismo primitivo,
não nas ideias, mas também no estilo, nos conceitos e na confrontação dos símbolos do
credo cristão com os mitos pagãos.
Diversos Autores classificam Paulo como gnóstico, mas eles próprios desconhecem a
pedagogia do Apóstolo:
20
Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que
vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que
vivem debaixo da lei, embora o esteja eu debaixo da lei.
21
Aos sem lei, como se
eu mesmo o fosse não estando sem lei para com Deus, mas debaixo da lei de Cristo,
para ganhar os que vivem fora do regime da lei.
22
Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo
para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.
23
Tudo faço por
causa do evangelho, com o fim de me tornar cooperador com ele.
24
o sabeis vós
que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um leva o
prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.
25
Todo atleta em tudo se domina;
aqueles, para alcaar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorrupvel.
26
Assim
corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar.
27
Mas castigo o meu corpo e o subjugo à escravidão, para que, tendo pregado a
outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado (1Cor 9,20-27).
Paulo tinha a consciência clara da necessidade da enculturação. Por causa de sua
elevada consciência espiritual ele sabia onde estava e também tinha clareza de onde estava o
centro de suas motivações. Ele sabia que para chegar a Cristo era possível partir de
caminhos diversos. O Evangelho não era uma proposta exclusiva para uma cultura ou
nação, mas uma mensagem de libertação, de vida nova, de justiça e de amor para todos os
14 I. MAZZAROLO, Primeira Carta aos Coríntios, p.70: enquanto os estoicos estavam mais próximos do espiritualismo, os
filósofos se alocavam em um racionalismo puro e os cínicos se classificavam como materialistas ou ateus.
15 E. PAGELS, The Gnostic Paul, p.59.
16 J.D. CROSSAN, e J.L. REED, Em busca de Paulo, p.32-33.
17 E. PAGELS, The Gnostic Paul, p.58.
MAZZAROLO, Isidoro
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povos. A inserção do Evangelho necessita, antes, da inserção do Evangelizador, ele precisa,
antes de tudo, conhecer o ambiente onde vai anunciar. O Evangelizador é como um
Semeador. Se o Semeador conhece o terreno, sabe a forma de semear, o tempo da
preparação da terra e a semente adequada. A formação do Evangelizador é fundamental no
êxito do anúncio do Evangelho. Paulo, o homem das três culturas sabia navegar em mares
calmos e em mares revoltos, pois se assim podemos comparar a Igreja de Filipos com as
Igrejas de Corinto e da Galácia. A Igreja de Filipos é uma comunidade que ama, que sofre e
que assume a pedagogia do Evangelho, enquanto as Igrejas de Corinto e da Galácia formam
grupos de resistência e traição à Boa Nova levada pelo Apóstolo.
O helenismo era uma cultura aberta, não tinha preconceitos de raça, língua ou
religião. O fundamental para os gregos era que a pessoa tivesse um desenvolvimento
intelectual e fosse possuidor daquilo que eles chamavam de gnôsis ou conhecimento. Os
gregos amavam a perfeição total e ela dependia de uma flexibilidade corporal: cabeça, tronco
e membros, por isso os exercícios físicos faziam parte para a flexibilidade mental e a
abertura espiritual através da arêtê ou virtude. A Virtude era o aperfeiçoamento do
indivíduo na sua parte motora ou física, na sua flexibilidade mental e na sua eticidade.
A moral intelectual dos estoicos passa a ser uma moral religiosa, ainda que seus
princípios fossem mais filosóficos que religiosos. O eixo central da ética estoica é o homem
bom, que signiica ser perfeito na sua moralidade. A perfeição moral decorre de uma vivência
concomitante de quatro virtudes principais:
a. Inteligência;
b. Fortaleza;
c. Circunspecção;
d. Justiça
18
.
No estilo epistolar, Paulo é devedor dos grandes clássicos gregos, tanto nas cartas
parenéticas quanto as querigmáticas. Na carta da alforria de Onésimo, Paulo escreve a
Filemon não em tom jurídico, mas com um argumento de autoridade moral, fazendo valer
os princípios de primazia ou paternidade espiritual. Barbaglio compara a carta de Paulo a
Filemon com as cartas de Plínio a seu amigo Sabiniano
19
. Na mesma direção via o
comentário de Vielhauer, afirmando que Paulo usa em suas cartas o estilo dos grandes
escritores como Cícero. Cícero afirmava que uma forma é escrever quando se pressupõe
que o único leitor é o indicado na introdução e outro é quando se pressupõe que a carta seja
lida por muitos leitores. Nesse raciocínio é possível fazer uma comparação com as cartas
paulinas, pois algumas como Gálatas, Romanos e Coríntios foram escritas para muitos
leitores, enquanto Filemon (e as pastorais 1,2Tm e Tt) tem um leitor único como pressuposto
20
.
O helenismo representava uma cultura e uma religiosidade mistas. Depois do
surgimento do magno império helenístico com Alexandre, o Grande, a cultura helênica se
voltou para o Oriente e muitos aspectos das culturas e religiões do Oriente assumiram
características gregas. Por sua vez, a cultura grega assimilou muitos aspectos das divindades
orientais, tornando-se uma síntese entre Oriente e Ocidente. Mais tarde, quando os
romanos conquistaram todas as bordas do mar Mediterrâneo copiaram muitos modelos
culturais e religiosos dos povos conquistados. O Partenon de Atenas e o Panteon de Roma
representavam, ao menos em parte, essa simbiose de culturas e religiosidades.
O estilo apologético do tipo de diatribes está presente em muitos textos paulinos. Em
Rm 7,1-6, Paulo faz uma introdução e determina explicitamente quem são seus adversários:
18 I. MAZZAROLO, O Apóstolo Paulo, o Grego, o Judeu e o Cristão, p.89.
19 G. BARBAGLIO, As cartas de Paulo II, p.416, citando STUHLMACHER, Philemon, p.22-23.
20 P. VIELHAUER, História da literatura cristã primitiva, p.90.
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são os conhecedores da lei, quer sejam judeus, quer sejam romanos. Depois (Rm 7,7-8) ele
enfoca o objeto da disputa que é a lei.
Paulo tinha consciência dos conflitos, dos opositores e também de tantos que o
acolhiam e recebiam. O Evangelho não caia sempre em terreno fértil, muitas vezes caia no
meio de espinhos. Tudo isso gerava uma tensão, mas também uma dinâmica (Gl 1,6-10;
3,1-3) de modo análogo que as teorias da física quântica na tensão das células em rede.
Muitas vezes os conflitos eram externos, com adversários e opositores, outras, eram
internos, com os próprios colegas de serviço, como com Pedro e Apolo (1Cor 1,10-16) ou
com Pedro, João e Tiago (At 15,1-23).
Na ótica do Evangelho estava o caminho da fraternidade universal. A fraternidade é o
conceito quântico da alma universal. A terra e todos os seres são um organismo vivo. O
contrário é a miopia de alguém ver-se sozinho sem acreditar em si mesmo. A justiça
significa agir para que todos tenham seus direitos e a fraternidade esteja com todos os
homens e mulheres.
21
A LIBERTAÇÃO DE PARADIGMAS ARCAICOS
A força da mente que produz conhecimento é mecânica quântica. A ação de conhecer,
produzir ciência, buscar a liberdade, a paz e a justiça são manifestações da energia quântica
da consciência.
A libertação ou a liberdade não é sinônimo de anarquia ou simples desprezo pelas
coisas do passado, mas o seguimento ao novo estado de vida e missão à luz e assistência do
Espírito Santo (Gl 5,13-26). Jesus foi o grande Mestre da libertação mostrando na palavra e
no gesto a necessidade de superação de paradigmas culturais. No Evangelho de Marcos
(1,21-2,12), logo após chamar os primeiros quatro discípulos, mostrou de modo claro e
patente a pedagogia do Reinado de Deus curando endemoninhados, doentes, a sogra de
Pedro, um leproso e um paralítico. Em seguida chamou Levi, um cobrador de impostos,
para integrar o grupo dos discípulos. Levi, pela sua profissão, estaria sempre no estado de
impureza. E, para acentuar o perfil integrador de sua missão, Jesus, participou da despedida
de Levi dos seus amigos, os quais eram todos pecadores, justamente para criticar as formas
arcaicas do judaísmo da época (Mc 2,13-17).
A libertação, na perspectiva do discurso, é patenteada no Sermão da Montanha (Mt 5-
7). Iniciando pelas bem-aventuranças (Mt 5,1-12), Jesus coloca os alicerces do Reino do
Céus os quais contrastam com os alicerces do mundo, dos poderosos e dos mafiosos. De
modo enfático, Jesus afirma que veio para dar pleno cumprimento à Lei e aos Profetas (Mt
5,17-20) e, repassando os principais tópicos das tradições antigas de Israel, começou
dizendo: Ouvistes o que foi dito aos antigos...? Eu, porém, vos digo..." (Mt 5,21-48)!
O Reinado de Deus estava sendo anunciado pela Palavra e pelos gestos. O que havia
sido dito aos antigos, de agora em diante, perdia a validade. Era a nova Economia da
Salvação e, era mister, inserir na História, a pedagogia do Messias. Assim, na abertura do
Evangelho de Lucas, Jesus, lendo o livro de Isaías na sinagoga de Nazaré, pronunciou:
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para evangelizar os
pobres; enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a
recuperação da vista para restituir a liberdade aos oprimidos e para proclamar
um ano de graça do Senhor (Lc 4,18-19; cf. Is 61,1-2).
21 D. ZOHAR e I. MARSHALL, QS Inteligência Espiritual, p.262.
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Paulo e a integrão: cultura, religião, corporalidade e espiritualidade
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Nessa citação do profeta Isaías, Jesus não pediu emprestados cristérios judaicos
tradicionais de interpretação das Escrituras, mas colocou os novos paradigmas na missão de
evangelizar os pobres, libertar os presos e restaurar a vista dos cegos. Alargando os
horizontes, Jesus foi mostrando na dimensão antropológica a profundidade das mudanças a
serem impressas na mente e no coração dos seus discípulos, especialmente no confronto
com os pecadores, as mulheres e os estrangeiros.
É na schia de Jesus que Paulo, depois de sua conversão, encontra respaldo seguro de
caminhar e, para isso, teve que enfrentar a oposição de Cefas e Tiago (At 15,7b-21; Gl 2,1-
14). Paulo absorve de Jesus o caminho de libertação, de tal forma que, quando teve a visão e
a missão no caminho para Damasco, não voltou a Jerusalém para saber de Cefas e os outros
o que deveria fazer, mas depois do encontro com Ananias, partiu para a Arábia anunciando
o Evangelho:
Quando, porém, Aquele que me separou desde o seio materno e me chamou por sua
gra, houve por bem, revelar em mim o seu Filho, para que eu o evangelizasse entre
os gentios, o consultei carne, nem sangue, nem subi a Jerusam aos que eram
apóstolos antes de mim, mas fui à Arábia e de lá voltei a Damasco (Gl 1,15-17).
Paulo não é movido pela nostalgia, pelo saudosismo ou complexos do passado.
Retroativamente ele uma história que precisa ser superada e pouca coisa deve ser levada
adiante. Ele se desprende do passado de modo inigualável. Aquilo que era o máximo (a Lei),
agora tem um perfume de estrume (Fl 3,8), em outras palavras, sabe seguir o ensinamento
de Jesus como exigência do discipulado: deixar pai, mãe, irmãos e outros pinduricalhos da
vida para abraçar de modo integral a nova missão: evangelizar o mundo. O passado não pesa
muito, o que vai contar agora é o futuro: um olhar para a nova etapa da vida, assumida com
audácia, coragem e firmeza. Para tanto, Paulo soube adaptar-se e tansformar-se no caminho
da missão. Ele realizou a própria transformação e a integração da sua pessoa como uma
integração transpessoal.
22
Paulo mudou muito, pois de judeu tradicionalista passou a judeu em Cristo.
23
Ele
passou de perseguidor a arauto incomparável e imbatível de Jesus Cristo ressuscitado. Tudo
isso, no entanto, o teria sido possível sem a libertação dos paradigmas dos antepassados e
o assumir de um novo olhar do ser humano, da fé e do amor como síntese e ápice de toda a lei.
A física quântica é considerada a física das possibilidades por acreditar nas
capacidades criativas. No âmbito da liberdade paralelos entre o funcionamento da nossa
mente e as teorias quânticas.
24
Paulo foi um homem superdotado que acreditou nas
possibilidades de formar, educar e integrar culturas e povos diferentes dentro de uma
mesma perspectiva: a pedagogia de Jesus. Por isso, não fazia distinção de judeu ou pagão,
homem ou mulher... (Gl 3,28; Cl 3,11; Rm 10,12). Ele rompeu com todos os dogmas das
tradições para propor uma nova forma mentis que é capaz de ver qualquer espaço como
lugar para propor o evangelho e qualquer coração como terreno fértil para implantar o
amor e a solidariedade.
A lei, como letra fria da sentença e do juízo, muitas vezes sem coração, não redime e
não transforma, por isso, a amor não é dogmático. Era preciso recriar espaços de calor
humano para a abertura de novos paradigmas, como a circuncisão:
Porém judeu é aquele que o é interiormente e a verdadeira circuncisão é a do coração, no
espírito, não segundo a letra, e cujo louvor não procede dos homens, mas de Deus (Rm 2,29).
22 D. ZOHAR e I. MARSHALL, QS Inteligência Espiritual, p.255.
23 J. D. G. DUNN, Jesus, Paulo e os Evangelhos, p.187.
24 F. CAPRA, O ponto de mutação, p.72.
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A letra, como preceito puro, mata e, não contribui para o perdão, a graça e a
integração do diferente (2Cor 3,6).
Quem crê na física das possibilidades crê na promessa de Abraão e na justiça de Deus
(Rm 4,1-3), pois ninguém é justificado pelas obras da lei, mas pela em Jesus Cristo (Gl
2,16) e, por isso, transpõe barreiras culturais e religiosas para viver de modo radical o amor.
E para a liberdade que Cristo nos libertou, Permanecei firmes, portanto, e não
vos deixeis prender de novo sob o jugo da escravidão (Gl 5,1).
A comunidade da Galácia originou uma crise sem precedentes na missão de Paulo.
Presos a estruturas antigas, muitos cristãos, depois de serem evangelizados pelo Apóstolo,
não só voltavam atrás, mas persuadiam outros a fazer o mesmo ameaçando os resultados da
implantação do Evangelho no centro da Ásia Menor. A circuncisão, as prescrições
alimentares, as separações nas assembleias e outras prescrições, segundo esses neohereges
(novos hereges de cada época), deveriam ser impostas também aos pagãos.
Paulo e Barnabé tinham feito um acordo com Pedro, João e Tiago, em Jerusalém (At
15,1-29). O primeiro Concílio ecumênico surgir exatamente pela influência de fofoqueiros
de Jerusalém que foram até a Antioquia espiar a liberdade dos cristãos que não seguiam as
tradições dos judeus, mas simplesmente o Evangelho. Eles ensinavam que, caso os cristãos
não praticassem a circuncisão e com ela os outros preceitos culturais judaicos, não poderiam
se salvar (At 15,1.5). O conflito foi tão acentuado, que a Igreja da Antioquia decidiu enviar
Paulo e Barnabé para Jerusalém a fim de elucidar a questão. A assembleia foi tensa, mas teve
um final feliz.
Paulo discursou e apresentou as razões da nova metodologia pastoral no processo de
evangelização dos pagãos. Pedro, em seu discurso afirmou que Deus aprouve enviar o
Espírito Santo aos gentios do mesmo modo que ao de origem judaica e que o deveria ser
imposto a eles um jugo quem mesmo os discípulos podiam suportar (At 15,8-10). Tiago,
que a essa altura dos acontecimentos estava na dianteira da Igreja de Jerusalém, concluiu
que Paulo e Barnabé poderiam continuar a evangelizar os pagãos sem exigir deles os
princípios dos costumes judaicos. Tiago propõe quatro tópicos como exigências a serem
observadas pelos pagãos que assumiam o cristianismo:
a. Abster-se das carnes contaminadas dos ídolos;
b. Afastar-se das prostituições;
c. Não comer carnes sufocadas (com sangue);
d. Não comer alimentos que contivessem sangue (At 15,20).
As conclusões conciliares, passadas a limpo no papel, eram muito felizes e prometiam
acabar com as tarefas dos fofoqueiros e maldosos que semeavam discórdias e falsas
acusações por onde passavam. Na prática, no entanto, elas não eram assim digeríveis. Paulo,
na Carta aos Gálatas, lamenta que tivesse sido necessária tanta teimosia para defender os
pagãos e que houvesse tanta deslealdade da parte dos irmãos de origem judaica (Gl 2,1-10).
O Concílio de Jerusalém abriu as fronteiras da liberdade e a criatividade, ainda que
com muitas resistências, dificuldades e conflitos entre os seus primeiros protagonistas,
como foi o caso típico da Galácia, mas também em Corinto com a formação de grupos e
correntes diferentes entre Cefas e Apolo com Paulo (1Cor 1,10-16). Contudo, o aperto de
mão entre Tiago e Paulo permitiu, desde cedo, o surgir de duas eclesiologias, uma voltada
para os cristãos de origem judaica e outra direcionada para o mundo greco-romano. Para
todos aqueles que estavam envolvidos no universo dos preceitos da circuncisão e quisessem
abraçar a cristã, não haveria nenhum conflito se desejassem continuar praticando os
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preceitos dos alimentos, mas eles deveriam abrir-se para a acolhida daqueles que,
culturalmente, vinham de outros ambientes e povos. Para os que ingressavam nas
comunidades de fé, vindos do paganismo, necessitavam abdicar de muitos ritos pagãos e
práticas que eram consideradas contrárias aos princípios do Evangelho. Jesus Cristo era um
só, ontem, hoje e sempre (Hb 13,8)
25
.
Os primeiros cristãos tinham bastante clareza da centralidade da em Jesus Cristo,
mesmo tendo conflitos bastante acirrados com discípulos teimosos e conservadores:
Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação
a que fostes chamados, 2 com toda a humildade e mansidão, com longanimidade,
suportando-vos uns aos outros no amor, 3 esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no nculo da paz; 4 um Corpo e um
Esrito, como tamm fostes chamados numa Esperança da vossa Vocação; 5
um só Senhor, uma só Fé, um Batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é
sobre todos, age por meio de todos e está em todos (Ef 4,1-6).
A centralidade da Nova Aliança passava pela consciência de um Senhor e um
Deus, mas as formas para chegar a Deus e as expressões de fé poderiam ter matizes diversos
entre os diferentes grupos. As fórmulas de orações e os ritos podem ser diversificados, mas
a deve estar alicerçada no mesmo Cristo. Para que essa unidade na diversidade fosse
alcançada era mister que cada um fizesse a sua caminhada própria de mudança e não se
deixasse iludir por questões que não tinham importância para a fé:
Ninguém vos julgue por questões de comida e bebida, ou a respeito de festas
anuais ou de lua nova e sábados, que são apenas sombra de coisas que haviam de
vir, mas a realidade é o corpo de Cristo (Cl 2,16).
O apego ao passado, com ritos, fórmulas, festanças e tradições dificultava o abraçar da
e a vivência da novidade cristã. A comunidade da Galácia foi, nos tempos de Paulo, um
paradigma desse apego, os quais acreditavam que a prática da circuncisão e regimes de
alimentos e práticas sociais, asseguravam a salvação (cf. Gl 5,1-12). Esse tema se constituía
em um nó porque os judaizantes acreditavam que eram o povo da promessa e a salvação era
uma herança e não uma conquista que exigia renúncias de arquétipos velhos e assumir
paradigmas novos
26
. Barbaglio afirma que os judaizantes pressionavam Paulo e os seus
colaboradores. Paulo, no entanto, reage afirmando que readmitir a circuncisão em
ambientes cristãos era negar o papel salvífico e exclusivo de Jesus Cristo morto e
ressuscitado
27
. Paulo conhecia bem as práticas judaicas embutidas no tulo da circuncisão
e por isso enfrentava Cefas e os outros judaizantes (Gl 2,11-14). A tradição dos Evangelhos,
que Paulo deve ter conhecidos entre frases escritas e tradição oral dos discípulos não reporta
uma única linha ou informação sobre a circuncisão e por isso que a escravidão da lei e a
liberdade da fé em Jesus Cristo eram absolutamente incompatíveis.
Aos fracos (apegados à lei e tradições) cabia compreensão, mas não havia nada a
imitar nele (Rm 14,1-9). Os fracos eram os cristãos que vinham do judaísmo, mas não
conseguiam superar as suas tradições para alcançar a liberdade da em Jesus Cristo. Por
isso, nos ensinamentos de Jesus estava clara a exigência:
Se alguém vem a mim e não odeia o próprio pai e mãe, mulher, filhos, irmãos,
irmãs e até a própria vida não pode ser meu discípulo (Lc 14,26).
25 I. MAZZAROLO, Atos dos Apóstolos ou Evangelho do Espírito Santo, p.199-200.
26 I. MAZZAROLO, Carta de Paulo aos Gálatas, p.136-137. Na teologia e antropologia paulina, a circuncisão era um
retorno ao Sinai e uma negação à dinâmica cristã.
27 G. BARBAGLIO, As Cartas de Paulo II, p.95.
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A libertação dos paradigmas arcaicos exigia uma separação das coisas antigas. Não se
trata de odiar os familiares e parentes, mas separar-se de todos os elementos que podem
significar vínculo com um passado superado. As tradições são a memória que qualquer um
carrega, mas a sua grande maioria pertence ao mundo da saudade. Muitas vezes seria como
renunciar a um avião e optar por um jumento para percorrer longas distâncias. A saudade é
um sentimento nobre, mas não move o presente.
A parênese é clara: ... ficai firmes a fim de que nos vos deixeis prender outra vez sob
o jugo da escravidão (Gl 5,1). Essa escravidão era aquela das tradições antes do evento Jesus
Cristo, mas os Gálatas tinham caído no engodo da vaca fria e tinham sido enfeitiçados
por maus operários (Gl 3,1). Agora recebem nova advertência dos perigos de retornar ao
passado, depois de terem recebido a revelação de Jesus Cristo através do Espírito.
A prática da lei era a anulação da Cruz de Cristo (1Cor 1,17). Nessa perspectiva, era
preciso abandonar muita coisa do passado, libertando-se de preconceitos culturais que
impediam a beleza do Evangelho, tais como, as diferenças entre judeus e gregos, livres e
escravos e homens e mulheres (Gl 3,28; Cl 3,11).
A liberdade é a maturidade de discernimento, a capacidade de distinguir e optar.
Tanto a dependência cega dos princípios rabínicos atribuídos a Moisés na Torah, quanto a
prática obcecada dos ritos idolátricos geravam regimes de escravidão e submissão quer
religiosa, quer social. A liberdade, no entanto, exigia uma maior maturidade e gerava uma
responsabilidade sócio-econômica-religiosa com maior grau de comprometimento.
Paulo sabia quanto era pesado o jugo das leis rabínicas (os 636 preceitos) e o que eles
geravam. Em nome desses preceitos os judeus conservadores matavam os que não
cumpriam essas leis acreditando estar purificando os costumes, no entanto, estavam
transgredindo o Decálogo. Era mister libertar o ser humano das amarras de costumes e
práticas arcaicas a fim de conferir maior liberdade, autonomia e dignidade as pessoas. A
contribuição do helenismo, sob essa ótica, foi fundamental na vida de Paulo. A liberdade
era, em alguns casos, exagerada no mundo greco-romano, por isso Paulo advertia que a
liberdade não poderia servir de pretexto para a libertinagem ou os abusos do individualismo
e a absolutismo, considerados os desejos da carne (Gl 5,13). Na exortação paulina estava
explícito o ensinamento do aperfeiçoamento do amor à luz da assistência do Espírito Santo, pois
um antagonismo entre as obras da carne (libertinagem ou escravio) e as obras do Espírito:
16
Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.
17
Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são
opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer.
18
Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.
19
Ora, as obras da carne
são conhecidas e o: prostituição, impureza, lascívia,
20
idolatria, feitiçarias,
inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, partidarismos,
21
invejas,
bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos
declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que
tais coisas praticam.
22
Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade,
23
mansidão, domínio próprio.
Contra estas coisas o lei.
24
E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne,
com as suas paixões e concupiscências.
25
Se vivemos no Espírito, andemos
também no Espírito.
26
Não nos deixemos possuir de glória
28
, provocando uns
aos outros, tendo inveja uns dos outros (Gl 5,16-26, grifos do autor).
As obras da carne estão em conflito com os frutos do Espírito. As obras da carne dominam
a pessoa e ela pratica atos contrários ao seu próximo e ofendem a Deus. O pecado
desqualifica o ser humano e ele deixa de espelhar a beleza divina da sua criação, por isso
28 A expressão grega kenodoxia significa, literalmente, a glória vazia, a glória fútil e inútil. A tradução glória traduz
melhor o grego, pois o lexema português vanglória pode significar mais o orgulho ou ambição.
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Jesus crucificou as paies vencendo as tentações e realizando as obras juntamente com Seu Pai.
Paulo trabalha com muita precisão a tensão dialética dos opostos que, não raro, alguns
ingênuos o acusam de dualista. A libertação tem duas dimensões: a. ética, sociológica,
antropológica, econômica e política; b. mental, espiritual, da razão e da consciência. A
liberdade era um tema muito caro a Paulo e ele vinculava a liberdade à capacidade de amar
profundamente a exemplo de Jesus Cristo. A liberdade e o amor superavam as diferenças
entre circuncisos e incircuncisos ou entre pagãos e judeus, pois Deus não faz acepção de
pessoas (Dt 10,17). Dunn afirma que, no substrato teológico do Apóstolo, estava a
libertação da corrupção, da escravidão, pois é uma prerrogativa dos filhos de Deus
29
.
A liberdade, se mal interpretada e assumida, pode servir de pretexto para a
licenciosidade e libertinagem. Disso Paulo estava absolutamente consciente, mas também
sabia que sem liberdade não poderia haver maturidade. Nas discussões parenéticas com os
cristãos de Corinto (cf. 1Cor 1-3) ele conhecia bem os caminhos tortuosos das imaturidades,
mesmo dentro das comunidades mais instruídas, especialmente quando começavam a fazer
partidos e divisões por causa dos evangelizadores: uns eram simpatizantes de Cefas, outros
de Apolo, outros de Paulo e outros se declaravam independentes. Tudo isso, ainda que de
modo livre, não era um caminho para a construção de comunidades sólidas arraigadas em
Jesus Cristo e não nos evangelizadores (1Cor 1,10-16).
A lei do Espírito é a libertação do pecado e da morte (Rm 8,2). Portanto, alcançar a
liberdade era e é conhecer de modo profundo e real a verdadeira missão diante do
evangelho. Quem vive segundo a carne, pode confundir a verdade com as tradições e não
raro, caducas, por isso é mister conhecer a dimensão do Espírito. A letra mata, mas o
Espírito vivifica (2Cor 3,6). E se estabelecem duas vias distintas, pois quem segue a letra da
lei procede segundo a carne e se preocupa com as coisas da carne, mas quem segue a lei do
Espírito constrói sua caminhada à luz da inspiração e da dinâmica da conversão (Rm 8,5-11).
Depois da visão no caminho para Damasco, Paulo se preocupou em escutar o Espírito
e foi libertando-se da lei mosaica e das tradições antigas. Não voltou a Jerusalém para
consultar os que eram apóstolos antes dele, nem consultou a carne ou o sangue, isto é,
tradições e representantes do passado (Gl 1,15-16), mas dirigiu-se a judeus e pagãos de
Damasco e depois ficou três anos evangelizando no deserto da Arábia. Paulo testemunha a
força do Espírito o qual não pede para voltar ao passado, mas libertando-se das coisas
antigas, impulsiona para frente, para o futuro carregando apenas o exemplo e o testemunho
sapiencial e profético da história.
A lei da circuncisão também era uma forma de escravidão, pois embutida na
circuncisão estava a observância estrita de muitos outros preceitos do passado de tal forma
que Paulo critica abertamente a intromissão da sua liberdade entre os pagãos por parte dos
que eram considerados notáveis na liderança da igreja primitiva (Gl 2,1-10). Depois de sua
conversão, Paulo considerava a circuncisão como uma escravidão cultural e religiosa e esta
não contribuía para a caridade e a misericórdia em prol dos desfavorecidos. A privação ou
os preconceitos com alimentos, bebidas e ritos de pureza serviam muito mais para excluir
pessoas do que para aproximar.
A liberdade é o princípio divino da dignidade do ser humano. A liberdade é
responsabilidade, é compromisso, é a expressão verdadeira da maturidade antropológica e
ética. Quem não tem maturidade corre o risco de justificar a libertação para praticar a anarquia
e a desobediência. Paulo exorta para assumir a liberdade com maturidade (Gl 5,13-15), pois
29 J. D. G. DUNN, A teologia do Apóstolo Paulo, p.741.
30 I. MAZZAROLO, Carta de Paulo aos Gálatas, p.143.
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a liberdade é transformação, criatividade, construção de novos paradigmas e novas formas
de viver a justiça e o amor
30
. A essência da lei é o amor, isto é, uma única palavra (Gl 5,15).
A liberdade é alcançada numa batalha em duas direções: a. Uma interna vencer-se a
si mesmo. Não faço o bem que eu quero, mas o mal que não desejo (Rm 7,19); b. Outra
externa os adversários e inimigos externos, como os que enfeitiçavam os cristãos na
Galácia (Gl 3,1). Em Éfeso, na prisão, Paulo teve que lutar com os animais peçonhentos em
virtude do acúmulo de sujeira que havia no ambiente (1Cor 15,32), ainda que alguns autores
interpretem esse depoimento como metáfora, ou seja, os animais seriam os inimigos que ele
tinha nessa cidade e que o condenaram.
Portanto, a liberdade exige uma consciência clara dos objetivos e metas, é uma
verdadeira luta e, sem dúvida, um exemplo de coragem e discernimento (Fl 1,30; Cl 2,1;
1Tm 6,12). A expressão usada por Paulo e avgw,n que significa luta, combate ou peleja
aguerrida e, como dissemos acima, pode ser interna para alcançar a própria liberdade e
também externa, para promover a harmonia e a paz.
O COSMOPOLITISMO GREGO NA TEOLOGIA DE PAULO
As metrópoles gregas eram distintas de muitas outras cidades pelo seu caráter
cosmopolita. Do grego polis é cidade e politês se entende cidadão. O latim traduz esse termo
por urbs (cidade). O cosmopolitismo grego tinha um diferencial no tratamento das pessoas
comparado com os outros povos. A compreensão da cidadania ou da vida na polis (cidade)
helênica assumia muitos aspectos específicos no tratamento dos seus habitantes. Os gregos
não tinham preconceitos entre si e também na relação com outros povos. Platão se
preocupava com a vida nas cidades e discutia formas de convivência sem discriminações. O
surgimento de Felipe II e depois seu filho, Alexandre, o grande, deram ao mundo antigo
uma nova compreensão de cidadania. Os paradigmas gregos compreendiam os cidadãos
dentro de duas categorias: a. os livres; b. os escravos. Normalmente, a distinção dessas duas
categorias era pautada na questão do conhecimento (gnôsis). Aqueles(as) que possuíssem
boa instrução e formação eram considerados cidadãos livres, mesmo sendo estrangeiros,
visitantes ou imigrantes. As pessoas instruídas assimilavam melhor os costumes dos povos
que visitavam ou nos lugares novos de estabelecimento. A liberdade dependia muito da
formação, pois esta conferia autonomia, maturidade e responsabilidade. Vemos muito
claramente essa compreensão na obra a República de Platão.
Paulo sabe fazer isso depois de sua conversão. Ele assimila todos os valores
importantes do helenismo e os incorpora na simbiose cristã, como veremos abaixo.
Os bárbaros, para os gregos, eram pessoas sem instrução e usavam a força brutal para
submeter e massacrar os outros. A barbárie é sinônimo de ignorância e perversão, por isso,
uma pessoa instruída e educada está mais longe dessas práticas. O cosmopolita pode ser
aquele que viaja pelo mundo todo, mas pode ser aquele que o viaja, mas valoriza o que de
belo e bom existe em cada cultura, em cada rito e mesmo em cada filosofia de vida.
Os judeus tinham um princípio cosmopolita que era uma máxima das tradições dos
antepassados: Deus o faz acepção de pessoas (Dt 10,17). No entanto, outros preceitos
culturais foram abandonando essa máxima e, através dos conceitos de puro e impuro,
homem e mulher, bárbaro e cita a aproximação se enfraqueceu e aumentou o
distanciamento para com as outras culturas.
Jesus, na sua pedagogia da inclusão quebrou todos esses paradigmas de exclusão e
aproximou de si e dos seus discípulos ricos e pobres, adultos e crianças, santos e pecadores,
homens e mulheres. Jesus convida para ser seu discípulo um cobrador de impostos (fiscal da
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Receita) considerado permanentemente impuro porque trabalhava seis dias com dinheiro
sujo e pessoas impuras (Mt 9,9). Os fariseus recebiam o dinheiro dos cobradores de taxas,
multas e impostos, mas não depois de receber o dinheiro não se misturavam com eles. Jesus
convida um destes a fazer parte do seu grupo seleto.
Jesus também aceita um convite gerador de conflitos quando Simão, o fariseu, o
convida para uma refeição em sua casa e, de modo surpreendente, surge uma mulher de
reputação. Ao conversar com essa mulher, Jesus não está preterindo o fariseu, mas
acolhendo a mulher. Jesus não despreza o fariseu escravo dos seus esquemas puritanos, por
isso aceita o convite de visitá-lo mas ele, ao ver o tratamento dispensado por Jesus à mulher
prostituta, se exclui da possibilidade de inclusão (Lc 7,36-50).
Um fato diferente acontece na passagem de Jesus por Jericó (Lc 19,1-10). Quando
Jesus se convidou para a visita na casa dele, um rico corrupto e ladrão, Zaqueu recebeu Jesus
com alegria, fez festa e é provável que ele tenha convidado seus amigos corruptos para esse
encontro no qual ele fez a confissão de sua conversão.
Essa pedagogia de Jesus foi absorvida de maneira magistral por Paulo. A sua infância
foi vivida em ambientes muito abertos, livres e acolhedores e, desta forma, associou a
liberdade helenística à pedagogia de Jesus, onde não podia haver diferenças entre judeu e
grego, livre e escravo, homem e mulher e bárbaro e cita (Rm 10,12; Gl 3,28; Cl 3,11).
O cosmopolitismo grego tinha alguns princípios quânticos em sua filosofia e
antropologia política que gerava sentido de pertença e responsabilidade. O cristianismo
acentuou muito a consciência de pertença ao Universo e ligação interpessoal na rede
humana como filiação divina.
Uma forma o diferente, mas esquecida que fa lembrar que a realidade possui
inúmeras possibilidades de ter, ser ou estar sendo constitda neste exato e ínfimo
instante de tempo, por inúmeras formas ou maneiras, do ponto onde sua vida es
para trás ao infinito, e do ponto onde sua vida espara frente ao infinito, em
eventos igualmente inconveis e inúmeras conees sendo que a maior de todas elas
é a coneo com a Criação. Pois tudo, mas tudo é campo e energia no campo, e
energia pode ser aumentada, diminuída, compensada, trocada, e finalmente
direcionada dentro deste campo que a tudo e a todos conecta no infinito Universo
31
.
O ncer do mundo é a iniquidade e a corrupção que patrocinam as guerras, a fome e
as injustiças. A energia quântica é a consciência dessas conexões que são a vida, a esperança
e a alegria no Cosmos. Isso exige uma consciência de uma pátria celeste, uma pátria comum
onde todos se sentirão irmãos, células de um mesmo corpo (Fl 3,20).
O ser humano não apenas é apenas parte do universo, mas ele é o universo em
movimento, em formação e criação. À medida que ele vai tendo consciência dessa pertença,
também vai criando o próprio universo quântico
32
.
A INCLUSÃO DA MULHER NA TEOLOGIA E NAS IGREJAS DE PAULO
Antes de estudarmos a situação da mulher nas igrejas de Paulo, vamos fazer uma
caminhada rápida em torno da compreensão e tratamento dispensado pela cultura oriental.
A mulher no antigo Egito
Os textos referentes à situação da mulher egípcia não são unívocos, mesmo porque a
31 J. TEIXEIRA JUNIOR, A Era do raciocínio quântico, p.37.
32 Deepack CHOPRA, Você é o universo, p.24-25.
MAZZAROLO, Isidoro
Paulo e a integração: cultura, religo, corporalidade e espiritualidade
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história deste povo é das mais longas e complexas. Segundo alguns egiptólogos antigos e
outros recentes, a mulher, na sociedade egípcia, gozava da melhor posição em relação à
mulher de qualquer outro povo. A civilização egípcia baseava sua legislação pública sobre a
igualdade dos sexos. É no Egito que a condição da mulher é mais favorecida. Ela tem,
praticamente, os mesmos direitos que o homem, o mesmo poder jurídico. Esta condição é
singular e não existe além ou fora do Egito antigo, onde o solo pertence ao rei e às classes
superiores. Para as questões particulares de propriedade fundiária é apenas uma questão de
usufruto. Para efeitos de propriedade privada, a mulher guarda seus direitos e dignidade de
pessoa. Ela pode casar-se livremente e, se quiser, pode recasar-se a seu gosto
33
.
Isto deve ser tão verdade que causa uma reação fora, especialmente na Grécia. lon
diz a Aristóteles que está indignado com os costumes egípcios, que o escandalizam.
Heródoto, por sua vez, surpreende-se ao saber que no Egito as mulheres gerenciam os
negócios enquanto os seus maridos ficam em casa, ocupados com a tecelagem (Herodoto,
II,35)
34
. Esta observação de Heródoto é desconcertante para o espírito dos gregos de seu
tempo: a liberdade da mulher, no Império dos Faraós, contrapõe-se aos costumes
helenísticos, de modo especial no período aristotélico. Nesse período, o poder, no Egito,
estava nas mãos da mulher.
No Novo Egito, de 1580 a 660, a partir da invasão dos Hicsos, a mulher egípcia
experiencia outra realidade. Na XVIII dinastia o rei (faraó) Amosis está empenhado em
libertar o reino do domínio Hicso e, então, ele passa o poder à esposa Ahmose-Nefertari.
Neste período, as mulheres do Egito desempenham política e socialmente um papel muito
importante. E Amosis vai pedir à esposa um monumento à sua mãe, à sua avó e à bisavó,
numa homenagem ascendente à mulher. Depois dela, uma série de rainhas ocuparam o
poder egípcio, numa longa sucessão feminina, na política, todas elas, contudo,
emparentadas pela linha de consanguinidade
35
.
Nas cosmogonias semíticas, a mulher é colocada num lugar inferior devido às
justificações religiosas: Deus criou o homem, em seguida a mulher (Gn 2,7.18-24). Nada disso
está nos sistemas teológicos do Egito. diferentes sistemas elaborados pelos teólogos
egípcios antigos para explicar a criação do mundo. O deus primordial saiu do caos inicial e
tendo criado deferentes casais divinos, então decide criar a humanidade, esta comportando
dois sexos sem que haja superioridade ou anterioridade de um sobre o outro. Esta igualdade
dos sexos está explícita no texto mitológico do deus Rê, criador do Universo. Da mesma
foram podem ser abordados os diferentes sistemas teológicos que reportam à criação, a
partir de um deus primordial único e depois os casais divinos. Assim, em Heliópolis, o deus
Atum procria por si próprio o primeiro casal divino; Shu, o princípio masculino e Tefnout, o
princípio feminino. Por sua vez, eles procriam outro casal: Nout, o céu, masculino e Geb, a
terra, feminino. Depois são gerados outros dois casais: Isis - Osiris e Nephtys - Seth. Nos
textos egípcios, referentes aos nomes ou províncias ou deuses o nome feminino
normalmente aparece antes, talvez pelo fato da divindade feminina ser mais considerada
36
.
A mulher na cultura judaica
Na cultura judaica os preconceitos contra a mulher começavam no dia do nascimento,
pois as mulheres que dessem à luz um menino ficavam impuras durante sete dias e no
oitavo era realizada a circuncisão do menino, depois ela continuava por mais trinta e três
33 L-R. NOUGIER, La femme, 63; citando Simone de Beauvoir, Le deuxième sexe,139-40.
34 L-R. NOUGIER, La femme, 63; citando Simone de Beauvoir, Le deuxième sexe,139-40.
35 NOUGIER, La femme, 123-4
36 NOUGIER, La femme, 125.
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dias impura. Quando dessem à luz a uma menina ficavam impuras durante duas semanas e,
depois, mais sessenta e seis dias (Lv 12,2-5). O tempo da impureza simplesmente duplicava
no nascimento de meninas e isto pode demonstrar que as mulheres eram prejudicadas desde
o dia em que abriam os olhos para a vida.
Na sociedade israelita, a mulher ocupava um espaço semelhante ao do pagão, do
estrangeiro, do publicano e da criança
37
. O Evangelho de Mateus nos reporta essa realidade
ao narrar as duas multiplicações dos pães de Jesus. Os que se alimentaram eram em número
de cinco mil, sem contar as mulheres e crianças (Mt 14,21) e de, aproximadamente, quatro mil,
sem contar as mulheres e crianças (Mt 15,38).
As mulheres dificilmente ou quase nunca alcançavam a maturidade. Se fossem
solteiras eram as filhas de fulano e se fossem casadas eram as esposas de beltrano
38
. O
homem é o verdadeiro proprietário da mulher que comprou (Ex 20,17). O marido é o dono
ba´al da esposa, do mesmo modo que é proprietário de um animal, de uma casa ou campo
(Ex 21,3.22; 2Sam 11,26; Pr 12,4). Ainda que a fidelidade consanguínea viesse através da
mulher, quem, realmente, mandava era o homem.
O texto do Cântico dos Cânticos é uma denúncia clara de protesto contra essa
sociedade machista de domínio e apropriação da mulher. No início do primeiro poema, a
Amada denuncia o regime de escravidão diante dos seus irmãos ou possuidores de tal forma
que ela não pode cuidar da própria vinha, isto é, da sua dignidade e identidade (Ct 1,5-6).
Na conclusão do livro ela rejeita o dinheiro ou dote que Salomão pagaria pela sua compra e
afirma que ela é a dona de si própria e de sua vinha (Ct 8,12). Podemos considerar o texto
dos Cânticos como um primeiro sinal de protesto contra a exploração da mulher e, por
extensão, da exploração dos camponeses, dos pobres e das pessoas humildes. É um Cântico
de libertação a favor da dignidade da vida, do matrimônio como aliança de amor, da
superação das questões de racismo, gênero e restauração das relações antropológicas,
começando pela família
39
.
A mulher na cultura helênica
O judaísmo, no período helenístico, resistiu ferrenhamente aos princípios de
liberdade e de autonomia das mulheres. O judaísmo rejeitava todos os costumes gregos e
com eles também a convivência com a mulher na sociedade, na vida pública e cultural. No
helenismo muitas mulheres ocupavam cargos destacados na vida pública e religiosa. As
sacerdotisas, as pitonisas e outros cargos eram muito importantes para a cultura grega e
depois romana. Vale lembrar as divindades femininas no mundo helenístico como Diana,
Vênus, Afrodite e muitas outras.
Essa segregação da mulher, segundo Capra se deve a concepções antigas das culturas
orientais quando distinguiram o yin e o yang. O yin é o feminino, conservador, intuitivo e
receptivo; o yang é o masculino, exigente, agressivo e racional. Nessa compreensão houve uma
supervalorizão do racional e nele se desenvolveu o androcentrismo com desprezo à mulher
40
.
A Paideia grega era a maior virtude para um homem ou mulher grega. Segundo
Diógenes, a educação é a graça para o jovem, consolo para o ancião, abundância para o
37 I. MAZZAROLO, O Apóstolo Paulo: o Grego, o Judeu e o Cristão, p.93, citando D. BALCH, Let the Wives be submissive; The
Domestic Code i 1Peter, Michigan, Scholars Press, 1981.
38 R. DE VAUX, Le Instituzioni dell´Antico Testamento, p.36.
39 I. MAZZAROLO, Cântico dos Cânticos; Uma leitura política do amor, p.233-242.
40 F. CAPRA, O Ponto de Mutação, p.36-38.
41 Cf. I. MAZZAROLO, O apóstolo Paulo, p. 64, citando BARCLAY, W., Hellenistic Thought in the New Testament Times,
373, o qual aporta Laertius DIOGENES, vi,68.
42 W. JAEGER, Paideia, A formação do homem grego, p.4.
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pobre e ornamento para o rico
41
. A educação não era uma propriedade individual, mas
pertencia por essência à comunidade. O ser humano é um zwon politikou
42
(animal
político) e deveria preparar-se para a convivência na cidade, na sociedade e na comunidade. Na
sua abertura para a comunidade universal os gregos também tinham alguns princípios sociais
ou mandamentos: honrar os deuses, honrar pai e mãe, respeitar os estrangeiros entre outros
43
.
Na administração doméstica, os gregos não destacavam claramente a quem cabia a
responsabilidade maior. A oikosnomía era uma questão de autossuficiência. No estoicismo e
platonismo, a mulher era a dona da casa. Na estruturação familiar, Platão entendia que a
mulher tinha dotes mais adequados para a educação e cuidados com as crianças e também a
arrumação da casa enquanto o homem estava mais preparado para os trabalhos do campo.
Desta forma, havia alguns cuidados para proteger a condição da mulher, mesmo que isso
não fosse a solução total para uma condição ideal na vida quotidiana
44
.
A busca por uma ética que preservasse as condições dos homens livres estava pautada
na justiça: Assim como a saúde é o bem supremo do corpo, a justiça é o bem supremo da
alma. A justiça é o bem supremo da alma sempre que concebemos a mesma como valor
moral da personalidade
45
.
A cultura grega, especialmente com Platão, investe na formação integral da pessoa e,
no contexto da sociedade ideal que era a República, as mulheres e as crianças deveriam ser
educadas de modo semelhante aos homens, pois elas deveriam ser as futuras esposas dos
guardiães e essa tarefa se tornaria mais próspera quando elas próprias pudessem assumir a
função de guardiães
46
.
No início do cristianismo os grandes filósofos estavam em decadência, mas as suas
filosofias não. O platonismo, o estoicismo e o epicureismo continuavam muito vivos e eles
conviveram e rivalizaram com o cristianismo nascente, como analisa o filósofo Spinelli:
No caso do Estoicismo e do Epicurismo, eles exerciam tanta força persuasiva nos
indivíduos, a ponto de se tornarem os movimentos rivais da expansão do
Cristianismo. O livro dos Atos dos Apóstolos, escrito com a finalidade de
transmitir a ação apostólica para os novos pregadores, apresenta-os como se
fossem um obstáculo: Quando Paulo estava em Atenas [...], certos filósofos
epicureus e estoicos discutiam com ele e alguns diziam O que ainda quer ensinar
esse charlatão? E outros: Parece que é o anunciador de uma divindade estranha. Por
isso convidaram Paulo ao Areópago, onde lhe perguntaram: Podemos então saber
qual é essa nova doutrina que estás pregando? Coisas estranhas chegam aos nossos
ouvidos, por isso queremos saber do que se trata (At 17,16-21, grifo do autor)
47
.
A cultura grega era uma civilização aberta e para todos os que possuíssem
conhecimento, a formação esperada e a gnôsis os caminhos estavam abertos. Vale dizer que
também havia escravos, excluídos e marginalizados por uma série de outras razões.
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43 W. JAEGER, Paideia, A formação do homem grego, p.23.
44 I. MAZZAROLO, O apóstolo Paulo, p.72.
45 PLATÃO, A república, p.444.
46 W. JAEGER, Paideia, A formação do homem grego, p.814.
47 M. SPINELLI, Helenização e Recriação de Sentidos, p.15.
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