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A ESPIRITUALIDADE NO
CRISTIANISMO
A essência do ser
SPIRITUALITY IN
CHRISTIANITY
The essence of being
Luciana Carmona Garcia*
Aline Eloisa Da Silva**
Resumo: A Espiritualidade é inerente ao ser humano. O termo surgiu no
período renascentista
3
no século XV, baseado em algumas ideias de Platão,
filósofo do século IV a.C., que postulava sobre o dualismo corpo-alma, em
que a alma estaria aprisionada pelo corpo. Esse pensamento evoluiu para a
ideia do ser humano trinário, formado pelo Corpo, pela Mente e pelo
Espírito, de forma inseparável, contidos numa única unidade, que é o corpo,
criado por um Ser Divino e, portanto, ligado a Ele. Nos textos bíblicos do
Novo Testamento, Paulo exorta a comunidade de Coríntios a reconhecerem
que são templos do Espírito de Deus, que habitam toda criatura, A palavra
espiritualidade cuja raiz etimológica vem da palavra espírito latim
spiritus, que significa respiração ou sopro e também coragem e vigor,
consiste em uma íntima experiência do ser, uma busca por descobrir o
sentido da vida e da existência. Este artigo visa contribuir com as pesquisas
relacionadas à temática, trazendo apontamentos sobre a importância e os
benefícios que uma vivência espiritual a partir da ótica cristã, pode
proporcionar ao ser humano. A relevância dessa pesquisa se justifica devido à
instabilidade da atual sociedade gerada pela crise de valores como respeito,
solidariedade, a ética, a humildade, o senso de justiça. Por outro lado, a
globalização, o capitalismo e o consumismo têm criado uma falsa concepção
de que o homem é sujeito passível de ser medido pelo que possui de bens e
valores tangíveis, e não pelo que é afastando-o cada vez mais da sua
identidade e dignidade de ser único criado à imagem e semelhança do
criador. Igualmente, a cultura educacional, até meados do século XX, definia
como inteligente a pessoa que tinha uma alta capacidade de resolver
problemas de ordem técnica, relegando a segundo plano a capacidade de
gerenciamento da emoção, o altruísmo, a capacidade de mediação e
resolução de desafios com resiliência, interação e engajamento nas relações
interpessoais. Foi aí que estudos do final na década de 90, apontaram que não
bastava ser apenas inteligente no aspecto cognitivo sem levar em conta os
aspectos que envolvem os sentimentos, sensações e emoções do ser humano,
o que levou esse mesmo ser a busca pelo equilíbrio. Mas ainda parecia que a
v. 38, n. 131, Passo Fundo,
p. 124-135, Jul./Dez./2021,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:https://doi.org/10.52451/teopraxis.v38i131.59
* Professora permanente e atual
coordenadora do Programa de Pós-
Graduação em Linguística da Universidade de
Franca/SP. Doutora pelo Programa de Pós-
Graduação em Linguística da Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar) (2014).
Realizou estágio doutoral em Toulouse
(França) na Université de Toulouse II - Le
Mirail como parte de seu projeto de
doutoramento. Tem Mestrado (2010) em
Linguística e Licenciatura em Letras, com
habilitação em Língua Espanhola, pela mesma
instituição (2001). É membro do grupo de
pesquisas LABOR-Laboratório de Discurso
Político (CNPq: 401122/2010-7) da UFSCar
desde 2007, e líder do grupo GTEDI - Grupo
de Estudos do Texto e do Discurso da
UNIFRAN desde 2016. Membro do Comitê
de Ética em Pesquisa com Seres Humanos
(CEP) da Unifran e membro do Comi de
Integridade na Pesquisa da mesma instituição.
Desenvolve pesquisa na área de Teoria e
Alise Linguística, com ênfase em Análise do
Discurso, atuando principalmente nos seguintes
temas: análise do discurso, semiologia história,
discurso político, televio, nero, minorias,
maternidade. Atua como docente nas áreas de
Lingstica Geral, Teoria e Análise Lingstica,
Alise do Discurso, Poticas Públicas e
Educão Infantil, Educão o-Formal. Atual
Embaixadora do Movimento Parent in Science -
Região Sudeste.
E-mail: luciana.manzano@unifran.edu.br
https://orcid.org/0000-0002-5280-4444
1 Renascentismo: Movimento artístico, cultural e científico que surgiu na Itália, no século
XV e se expandiu por toda a Europa, trazendo renovação nas áreas de filosofia, política,
economia, cultura, artes, ciência, dentre outras
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** Mestranda em Linguística, na área de
Análise de Discurso. Possui graduação em
Letras- Habilitação em Português e Inglês
pela FESP-UEMG - Faculdade de Ensino
Superior de Passos- Universidade Estadual de
Minas Gerais. Possui Graduação em
Pedagogia pelo CENTRO UNIVERSITÁRIO
UNIFACVEST. Possui especialização em
Estudos Linguísticos e Literários pela
Universidade de Franca, em Gestão e
Supervisão Escolar pela Faculdade Barão de
Mauá, em Psicopedagogia- Alfabetização e
Letramento pela Faculdade de Educação São
Luís, em Orientação, supervisão e Inspeção
Escolar, pela Faculdade de Educação o Luís.
Atualmente compõe o quadro de professores
efetivos da Secretaria Estadual de Educação de
Minas Gerais, ministrando aulas de Língua
Portuguesa, na Escola Estadual Clóvis
Salgado, é coordenadora pedagógica da
secretaria municipal de educação de o
Sebastião do Paraiso, em efetivo exercício na
Escola Municipal Hilda Borges Pedrosa.
E-mail: aline.eloisa@educacao.mg.gov.br
https://orcid.org/0000-0001-5165-642X
Recebido em 07/03/21
Aprovado em 01/07/21
busca por esse equilíbrio não tinha finalizado na conquista de uma
inteligência e maturidade emocional. Nesse contexto surgiram no ambiente
acadêmico, o interesse e a compreensão de uma terceira inteligência, que vai
de encontro a respostas para o sentido da existência humana, colocando
ações e experiências num contexto mais amplo de sentido e valor. Trata-se
doQS, quociente de Inteligência Espiritual. O foco do QS é aalma. Danah
Zohar, uma física e filósofa americana foi a primeira a defender essa
bandeira na Academia, não obstante, seja uma experiência e realidade de
fé, na vida de centenas de pessoas desde tempos remotos e de forma
rotineira. O QS é a inteligência que busca dar sentido à vida, traz propósito
as ações realizadas e direciona às duas outras inteligências onde investir suas
energias. Estudos de Leonardo Boff, Theilhard de Chardin foram essenciais
para uma compreensão melhor acerca do assunto. O estudo traum breve
percurso da visão holística da espiritualidade, na integração entre si, o outro
e o universo, e da visão cristã, como sendo a mola propulsora para uma
vivência espiritual completa. A Espiritualidade é nuclear ao Cristianismo,
uma vez que, por meio da presença do Espírito Santo, isto é, o próprio
Espírito de Cristo, o homem é capacitado para o Bem e para toda Boa Obra,
como a justiça social, a solidariedade, o exercício da cidadania e o amor.
Palavras-chave: Espiritualidade. Cristianismo. Vivência. Prática.
Abstract: Spirituality is inherent to the human being. The term appeared in the
Renaissance period in the 15th century, based on some ideas of Plato, a
philosopher from the 4th century BC, who postulated about the body-soul
dualism, in which the soul would be imprisoned by the body. This thought
evolved into the idea of the triune human being, formed by the Body, Mind and
Spirit, inseparably, contained in a single unit, which is the body, created by a
Divine Being and therefore linked to Him. of the New Testament, Paul urges the
community of Corinthians to recognize that they are temples of the Spirit of
God, who dwells in every creature, The word spirituality whose etymological
root comes from the word spirit Latin spiritus, meaning breath or breath
and also courage and vigor, consists of an intimate experience of being, a
search to discover the meaning of life and existence. This article aims to
contribute to research related to the theme, bringing notes on the importance
and benefits that a spiritual experience from a Christian perspective can provide
to human beings. The relevance of this research is justified due to the instability
of the current society generated by the crisis of values such as respect, solidarity,
ethics, humility, a sense of justice. On the other hand, globalization, capitalism
and consumerism have created a false conception that man is a subject that can
be measured by what he has of tangible goods and values, and not by what is
increasingly distancing him from his identity and dignity of being unique created
in the image and likeness of the creator. Likewise, the educational culture, until
the mid-twentieth century, defined as intelligent the person who had a high
ability to solve technical problems, relegating to the background the ability to
manage emotion, altruism, the ability to mediate and solve problems. challenges
with resilience, interaction and engagement in interpersonal relationships. It
was there that studies from the end of the 90's pointed out that it was not
enough to be just intelligent in the cognitive aspect without taking into account
the aspects that involve the feelings, sensations and emotions of the human
being, which led to this same being the search for balance. But it still seemed that
the search for this balance had not ended in the conquest of an emotional
intelligence and maturity. In this context, the interest and understanding of a
third intelligence emerged in the academic environment, which meets the
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answers to the meaning of human existence, placing actions and experiences in
a broader context of meaning and value. This is the SQ, Spiritual Intelligence
quotient. The focus of QS is the soul. Danah Zohar, an American physicist and
philosopher, was the first to defend this flag in the Academy, however, it is
already an experience and reality of faith, in the lives of hundreds of people since
ancient times and in a routine way. The SQ is the intelligence that seeks
meaning in life, brings purpose to what we do and directs the two other
intelligences where to invest their energies. Studies by Leonardo Boff, Theilhard
de Chardin were essential for a better understanding of the subject. The study
will bring a brief journey of the holistic view of spirituality, in the integration
between itself, the other and the universe, and of the Christian view, as being
the driving force for a complete spiritual experience. Spirituality is core to
Christianity, since, through the presence of the Holy Spirit, that is, the Spirit of
Christ himself, man is enabled for Good and for every Good Work, such as
social justice, solidarity, the exercise of citizenship and love.
Keywords: Spirituality. Christianity. Experience. Practice.
INTRODUÇÃO
Questões relacionadas ao ser humano, quanto à existência de
um espírito, de uma alma, permeou a sociedade de todas as épocas e
em todas as camadas sociais. A esse respeito, o padre jesuíta, de
origem francesa, Teilhard de Chardin (1970) escreveu: Não somos
seres humanos vivendo uma experiência espiritual. Somos seres
espirituais vivendo uma experiência humana. A espiritualidade pode
ser entendida como a tentativa mais íntima de fazer a experiência do
Ser. Parte de uma necessidade pessoal, na busca de compreender as
experiências humanas em sua essência, de encontrar respostas para
questões existenciais, para o sentido da vida, se libertando da
autossuficiência, do egoísmo, dos medos, num despojamento e
desapego de tudo o que possa prejudicar essa busca.
As narrativas bíblicas mostram que essa necessidade surge no
ser humano, devido ao impulso e o sopro de vida que Deus inscreveu
no coração do homem. Em Gênesis (2,7), primeiro livro bíblico, que
relata a criação, a partir da perspectiva criacionista, já se encontra essa
alusão. O Senhor Deus, formou, pois, o homem do barro da terra, e
inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida, e o homem se tornou um
ser vivente. Igualmente, no novo testamento, as cartas paulinas
endereçadas a comunidade de Gálatas e dos Romanos essa
menção: A prova de que sois filhos é que Deus enviou aos vossos
corações o Espírito de seu filho, que clama: Aba, Pai! (Gl 3,6). Se o
Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele,
que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará vida aos vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós (Rm 8,11).
Vivência e práticas religiosas como Batismo Sacramental, a confissão
de em Deus, no seu Filho e no Espírito Santo, na oração, as
experiências litúrgicas, fundamentam a espiritualidade Cristã.
Theilhard de Chardin (1965) considera a Espiritualidade
essencialmente crística e observa que ela se edifica em três bases: a
encarnação, a e a evolução. Para o autor, a encarnação é a base do
universo, uma operação biológica que conecta o humano ao divino.
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p. 124-135, Jul./Dez./2021,
ISSN on-line: 2763-5201
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GARCIA, Luciana Carmona; DA SILVA, Aline Eloisa
A espiritualidade no cristianismo: A esncia do ser
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p.124-135, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.
De acordo com Lucarelli (2019), a encarnação se concretiza a partir da alma espiritualizada e
em sintonia com Jesus Cristo. A é o elemento que estabiliza e diviniza o humano. A evolução é
a continuação da crião, que nasce, cresce, evolui sob a égide da oniponcia Divina.
Conforme Boff (2001), a Espiritualidade é uma das fontes primordiais de inspiração
do novo, de esperança, de geração de um sentido pleno de capacidade de autotranscedência
do ser humano, o que permite que ele se vivencie como projeto infinito, numa dimensão
para além de sua natureza material que é finita. A Espiritualidade se demonstra em atitudes
que favorecem a expansão da vida em sua essência. Ela é capaz de potencializar qualidades
tão válidas como a inteligência, a confiança, o afeto e tão positivas quanto amar a vida, ser
capaz de perdão, misericórdia, de indignação diante das injustiças, e do cultivo do que é
próprio do Espírito. Uma disposição interior para a Verdade, para o Absoluto e para o Bem
Supremo. No Novo Testamento, o livro Bíblico de Gálatas, escrito pelo apóstolo Paulo, por
volta de 49 d.C. já trazia essa abordagem sobre os frutos do Espírito o fruto do Espírito é a
caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura,
temperança! (Gl 5,22-23).
ESPIRITUALIDADE COMO TRANSCENDÊNCIA
A transcendência diz respeito a algo que está além do mundo material, de conceitos
concretos e do plano físico. De acordo o filósofo Mondin, citado por Figueira (2014),
enumera três possíveis concepções de transcendência - egocêntrica, filantrópica e
teocêntrica, que compreendem diferentes feições do ser humano. No mundo físico, o ser
humano tem autoridade para exercer as suas potencialidades, habilidades e capacidades,
tudo está ao seu dispor: Dentro do plano da criação, ele exerce domínio sobre os outros
seres vivos (Gn 1,27-30). Contudo, chega um momento em que experimenta uma
incompletude, percebe-se carente, frágil, imperfeito. Analisando-se assim, sente a
necessidade de se aperfeiçoar, de buscar aprimoramento, novos conhecimentos, ou ainda,
melhorar seu bem-estar pessoal, seja físico ou mental. Essa sua percepção individualista é
positiva na perspectiva de torná-lo uma pessoa melhor, porém, se considerada isoladamente,
de forma egocêntrica, não irá satisfazê-lo plenamente, uma vez que o ser humano não foi
projetado para viver para si, basta analisar o elo vital que nos une ao outro.
De posse dessa compreensão, deixa de lado essa posição à qual se volta para si mesmo,
e lança-se em direção ao outro. Parte em combate às desigualdades, que afligem a sociedade
em geral. Sua luta é válida, porém, assim como em outros movimentos, o sentido tende a ser
temporário e a se esgotarem em determinado período de tempo, pela sua própria condição
de ser não permanente. Mesmo voltando-se para o outro, na esperança de achar nele o
significado da existência, a situação tende a se repetir.
Dessa forma, o homem entende que nem o eu e nem a humanidade são capazes de
fornecer um sentido para sua vida, de conferir significado a sua existência. Abre-se,então,a
uma força superior, compreendendo, portanto, que uma presença imaterial no seu
interior pode explicar esse seu poder de exercer tantas e variadas atividades pela sua
capacidade de superação diante do mundo do qual faz parte.
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[...] A singularidade do homem entre todos os produtos da natureza está em que
nele a natureza busca superar conscientemente os seus limites, não mais através
de uma atividade automática ou inconsciente, mas através de um esforço mental
e espiritual. [...] A única doutrina que pode jactar-se de possuir uma linguagem
antiquíssima intelectual é a que se baseia na ideia de que a condição ordinária do
homem não é a sua essência mais íntima, de que nele um em Si mais
profundo, quer se chame sopro vital ou espírito, alma ou mente. Em cada ser
habita uma luz que nenhuma potência pode atingir um espírito imortal, benigno
e tolerante, um testemunho silencioso nas profundezas do seu coração
2
.
RELIGIÃO E ESPIRITUALIDADE
A experiência da Espiritualidade nem sempre se com a adesão a uma confissão
religiosa formal ou na participação de uma instituição organizada. As religiões se mostram
como meio de acessar o Sagrado, o Divino. Existem pessoas espiritualizadas que não são
necessariamente religiosas, entretanto, a religiosidade está no escopo da realidade espiritual.
Nesse sentido, Silva (2014) ressalta que a questão fundamental do ser humano não é
compreender sua religião, e sim sua Espiritualidade, caracterizada pela intimidade do ser
humano com algo maior.
Está no santuário do ser, mesmo sem uma fórmula explícita. Ela é o gene da
criação, presente em cada criatura, quer tenha ou não uma religião. Viver a
espiritualidade é a forma apaixonada de sentir o tempo é ser capaz de ver Deus, o
mistério último, em toda parte
3
.
A Religião pode ser entendida como um conjunto de sistemas culturais e de crenças,
além de visões de mundo, relacionando o homem a sua espiritualidade e seus próprios
valores morais. De origem latina do verbo religar, a interpretação teológica é que a religião
religa o homem a Deus. Para Pereira
4
, a Religião pode ser definida como um conjunto de
crenças e práticas desenvolvidas no seio de uma comunidade, com rituais nos quais o ser
humano aproxima-se do sagrado.
As diversas expressões de religiosidade são formas de praticar a Espiritualidade,
entretanto, existem pessoas espiritualizadas que não são necessariamente religiosas, ainda
que a religiosidade esteja no escopo da realidade espiritual. Nesse sentido, observa-se que as
religiões nascem com o intuito de manter e consolidar certa forma de espiritualidade no
grupo de pessoas de e seguidores. É o senso da pertença com uma realidade maior,
superior, senso de fazer parte de algo maior do que si mesmo, mais profunda, e repleta de
significação. Para Silva (2014), a religião nos leva a aprender com as experiências de nossas
comunidades e é por meio da Espiritualidade que essas experiências o estimuladas e
saboreadas.
A religião tem uma dimensão cognitiva, e a Espiritualidade emocional. Os termos
estão ligados, contudo, não apresentam necessariamente as mesmas características. A
religião é uma forma de se praticar a Espiritualidade. Não obstante, haja uma diferença
entre as duas o fenômeno religioso, as manifestações religiosas, as práticas são capazes de
aproximar o homem da espiritualidade, contudo, são as experiências espirituais íntimas, por
meio de um mergulho interior, um encontro com o divino na essência, torna o homem um
ser espiritualizado.
2 Adriana B. dos Santos FIGUEIRA. A Espiritualidade na contemporaneidade: Uma busca do homem mergulhado em sua
subjetividade, p.76.
3 João Bernadino SILVA & Lorena Bandeira SILVA, Relação entre religião, espiritualidade e sentido da vida, p.204.
4 Valdelene N. de A. PEREIRA. Medicina e espiritualidade: a importância da fé na cura de doenças, p.34.
GARCIA, Luciana Carmona; DA SILVA, Aline Eloisa
A espiritualidade no cristianismo: A esncia do ser
Revista Teopxis,
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A ESPIRITUALIDADE NA CONTEMPORANEIDADE
De acordo com Pereira
5
, a espiritualidade está ligada tanto à busca do sagrado, por
meio de meditação e orações compenetradas, quanto à solidariedade destinada aos irmãos.
Este último pensamento se opõe ao panorama político civilizacional contemporâneo, cujas
bases privilegiam o predomínio do individual sobre o universal. As condutas, os modos de
produção, têm mostrado que grande parte da população vive um momento caracterizado
pela lógica do consumo excessivo, da mercantilização e da individuação.
De acordo com Bauman
6
, o consumo é uma característica e uma ocupação dos seres
humanos como indivíduos, o consumismo é atributo de uma sociedade cuja capacidade
profundamente individual de querer, almejar e desejar é tal como a capacidade de trabalho
dos produtores, responsáveis por manter a máquina em funcionamento, ou seja, a sociedade
do consumo em movimento a mantém em curso, como uma forma de convívio humano, ao
mesmo tempo em que estabelece as leis, regras e normas, criando estratégias eficazes que
manipulam as probabilidades de escolha e condutas individuais.
O consumismo está atrelado a uma tentativa de saciedade de desejos humanos,
por meio de bens não-duráveis e que excedem sobremaneira àqueles necessários
a sobrevivência. Nesse sistema, o consumismo, materializado nas relações do
mercado, é uma aguda oposição à vivência da Espiritualidade, pois associa a
felicidade e a satisfação à realização de um volume e uma intensidade de desejos
sempre crescentes, implicando no uso imediato e a rápida substituição dos
objetos destinados a satisfazê-los
7
.
A sociedade atual está fortemente marcada pelo materialismo, pelo consumismo e
pelo excesso da exposição nas redes sociais, provocando uma limitação e alienação em
grande escala. Uma sociedade individualista cujas bases estão alicerçadas no mercado e no
consumo. Percebe-se aí, uma abordagem que vai ao encontro da idolatria do mercado: o ter
em detrimento do ser e que se afasta de uma concepção de vivência da espiritualidade no
seu sentido pleno, uma vez que a felicidade é um estado durável de plenitude, satisfação e
equilíbrio físico e psíquico, não podendo ser mensurada ou quantificada, por meio de bens
não duráveis que uma pessoa possui. Nas palavras de Bauman:
Numa sociedade de consumidores, de maneira correspondente, a busca da
felicidade- o propósito mais invocado e usado nas campanhas de marketing
destinados a reforçar a posição dos consumidores para se separarem do seu
dinheiro tende a ser redirecionada do fazer coisas ou de sua apropriação para sua
remoção, tão logo seja necessário. Sim, é verdade que na vida agorista dos
cidadãos da era consumista, o motivo da pressa é, em parte, o impulso de
adquirir e juntar. Mas o motivo mais premente que torna a pressa de fato
imperativa é a necessidade de descartar e substituir
8
.
Esse individualismo crescente, o consumismo, aliados ao excesso de informação, têm
provocado uma alienação de grande parcela da sociedade, levando a um automatismo, um
círculo vicioso, uma busca desenfreada pela satisfação a todo custo. Para Bauman (2009), a
realidade, na contemporaneidade, revela uma situação que denuncia a necessidade de uma
nova ordem, pois se está diante de um círculo vicioso em que a indústria do consumo se
apresenta disposta a satisfazer as necessidades humanas, como também a criar outras. Esse
processo, associado à urbanização, ao imediatismo e à individualização, leva o homem a
viver na superficialidade.
5 Valdelene N. de A. PEREIRA. Medicina e espiritualidade: a importância da fé na cura de doenças, p.40.
6 Zygmunt BAUMAN, Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria, p.22-24.
7 Zygmunt BAUMAN, Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria, p.22-24.
8 Zygmunt BAUMAN, Vida para consumo: A transformação das pessoas em mercadoria, p.50-52.
GARCIA, Luciana Carmona; DA SILVA, Aline Eloisa
A espiritualidade no cristianismo: A esncia do ser
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Nesse cenário, que a sociedade aponta para várias direções, mas não se detém
particularmente em nenhuma, com valores deslizantes e instáveis o homem
contemporâneo, buscando compreender-se e compreender melhor o mundo em que vive
também se aproxima de questões relacionadas à sua própria espiritualidade, o que tem
gerado um renovado interesse pelas religiões e por experiências concernentes à
espiritualidade. Aproximações espirituais e religiosas diversificadas, voltada para a
metafísica de influência oriental, de crenças espiritualistas, animistas e paracientíficas,
geralmente, propondo um novo modelo de consciência moral, psicológica e social, para a
relação do meio da natureza, do cosmo, da física quântica etc. Na visão de Figueira
(2014) essas diferentes formas de expressão têm colocado à disposição das pessoas uma
infinidade de opções de escolha e a possibilidade de migrar de uma para outra, caso não se
sintam satisfeitas.
A física moderna caracterizada como orgânica, holística e ecológica, traz uma visão
voltada para a totalidade resultante da interdependência orgânica entre tudo tem, onde o
universo deixa de ser visto como uma máquina, composta de uma infinidade de objetos,
para ser descrito como um todo dinâmico, indivisível, cujas partes estão essencialmente
inter-relacionadas e podem ser entendidas como modelos de um processo smico.
Essa é uma concepção holística que, de acordo com Júnior (2006) tem como base o
esforço de surpreender o todo nas partes e as partes no todo. Tal maneira leva sempre a
descobrir uma síntese que organiza, ordena, regula e finaliza as partes num todo e cada
todo em outro todo maior.
A ecologia holística funda teoria e prática que relacionam e abrangem todos os
seres uns com os outros e com o meio ambiente, no ponto de vista imensamente
pequeno das partículas elementares, imensamente grande do espaço cósmico,
imensamente e infinitamente complexo dos sistemas vivos, do profundo
universo do coração humano e do mistério infinito do oceano de energia
originária que é gerador do provir de tudo
9
.
De acordo com Faria
10
a Espiritualidade holística se define como sendo um modo de
viver a e a relação com oSagrado, para além dos modos convencionais das religiões
institucionalizadas, isto é, de forma corpórea, integrada e afetiva. Nesse sentido, o Sagrado
passa a ser revisitado sob novo olhar, novas perspectivas. Umaespiritualidade holísticaé
aquela que considera a integração entre a razão, o corpo e os sentimentos, o modo de ver a
si mesmo, os outros e o mundo como um todo interligado, em relação e não separado.
A VIVÊNCIA DA ESPIRITUALIDADE AUXILIANDO A SAÚDE
A saúde é antes de tudo, harmonia do indivíduo, em corpo e espírito, com o ambiente
físico, social e cultural e que a doença é o oposto, ou seja, a desarmonia, o desequilíbrio, a
comunicação perturbada entre indivíduo e meio ambiente. De acordo com Pereira
11
, a
saúde pode ter seu conceito ligado à consciência de bem-estar, advindo do processo de
harmonização entre os comportamentos psíquicos, orgânicos, socioculturais, ambientais e
espirituais; A doença por sua vez aconteceria como resultado da fragmentação do ser em:
mente e corpo, visão de mundo e organização social.
Estudos empíricos ligados à área da saúde demonstraram que a vivência da
espiritualidade traz benefícios para a saúde física e mental, consistindo numa poderosa
9 Silvio Luiz JUNIOR & Wolitz de Almeida. Holismo e Espiritualidade Cristã, p.26.
10 Silvio Luiz JUNIOR & Wolitz de ALMEIDA. Holismo e Espiritualidade Cristã, 2021.
11 Valdelene N. de A. PEREIRA, Medicina e espiritualidade: a importância da fé na cura de doenças, p.42-43.
GARCIA, Luciana Carmona; DA SILVA, Aline Eloisa
A espiritualidade no cristianismo: A esncia do ser
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aliada no tratamento de doenças cardiovasculares e de outros órgãos. De acordo com a
cardiologista Lucélia Magalhães e outros profissionais da medicina, Ciência e
Espiritualidade se somam quando o assunto é saúde, visto que esta proporciona sentimentos
como perdão, gratidão, empatia e otimismo, responsáveis por produzir e a liberação de
substâncias antiestresse, como serotonina e endorfina, que são benéficos à saúde - vascular.
Um estudo desenvolvido no ano de 2000, pelos estudiosos Pargament, Koening e
Perez foi responsável por criar o conceito de Coping, que é a busca por definir como a
utilização da religião, espiritualidade e da para o manejo do estresse, representa um
importante aspecto na área da saúde com possíveis implicações no tratamento de doenças.
De acordo com Pereira (2015), o Coping é um vocábulo de origem inglesa, sem
correspondente literal na língua portuguesa, mas que diz respeito ao enfrentamento,
manejo e adaptação. Para Panzini e Bandeira
12
entendem que o Coping Religioso Espiritual
positivo é o estabelecimento de estratégias que proporcionam efeito benéfico ao praticante,
como por exemplo, procurar amor/proteção em Deus, buscar ajuda na literatura religiosa,
buscar perdoar e ser perdoado, orar pelos outros, resolver problemas com o auxílio de Deus
e ver no sofrimento uma oportunidade de crescimento espiritual e religioso.
Por meio de estudos empíricos, Andrew Newberg neurocientista americano, e
professor de Medicina Integrativa em uma abordagem neurológica pesquisou sobre os
rastros da espiritualidade no cérebro. Na pesquisa, utilizou-se a imagem cerebral, que
evidencia a influência da meditação e oração no processo cerebral. Usando imageamento
cerebral, observou o que acontece quando alguém medita ou reza. Medindo o fluxo da
corrente sanguínea dos voluntários, avaliou que áreas eram responsáveis pela sensação de
transcendência. Ele chegou à conclusão de que quanto mais as pessoas se aprofundam
nessas práticas de meditação e oração mais ativos ficam o lobo frontal e o sistema límbico.
O primeiro é onde se localiza nossa capacidade de concentração e atenção; o segundo é
onde sentimentos poderosos, como a resiliência, superação, aceitação são processados. Ao
mesmo tempo em que o lobo central e o sistema límbico ficam mais ativos. O
neurocientista postula que Deus não é resultado de um processo de raciocínio, Ele foi
descoberto misticamente, pelo próprio maquinário cerebral. O homem não inventou
Deus, o experimentou.
Do mesmo modo outros estudiosos, cientistas de diversas partes do mundo,
chegaram à conclusão que há uma parte em nós que responde pelo cultivo dessa totalidade.
Eles observaram que a base biológica da espiritualidade se situa no lobo frontal do cérebro,
eles a denominaram de ponto Deus, que é acionado, provocando uma aceleração das
vibrações dos neurônios localizados, sempre que uma experiência significativa de
totalidade, ou quando há uma abordagem de realidades últimas, ou realidades carregadas de
sentido e que produzem atitudes de adoração, veneração, devoção e respeito, em
experiências de meditação, contemplação e oração, ou ainda àquelas relacionadas ao
exercício e manifestação da criatividade.
De acordo com Boff
13
salienta que o ponto Deus se revela por meio de valores
intangíveis: mais compaixão, mais solidariedade, mais sentido de respeito e de dignidade,
não é apenas pensar Deus, mas senti-lo mediante esse órgão interior. O autor ainda coloca
que delimitar um lugar não significa dizer que Deus esteja apenas nesse ponto dos
neurônios, pois Deus abarca o todo.
De acordo com Kearns (2021, p.25), a finalidade de toda espiritualidade é facilitar
uma experiência de Deus e de seu amor em nossa vida. Para ele a espiritualidade é um
12 Valdelene N. de A. PEREIRA, Medicina e espiritualidade: a importância da fé na cura de doenças, p.32.
13 Leonardo BOFF, Espiritualidade: um caminho de transformação. Rio de Janeiro: Sextante, 2001.
GARCIA, Luciana Carmona; DA SILVA, Aline Eloisa
A espiritualidade no cristianismo: A esncia do ser
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p.124-135, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.
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processo em que descobrimos um Deus pessoal nos amando, que espera uma resposta de
amor e que desemboque no amor próximo.
ponto Deus é um órgão interno pelo qual percebemos a presença de Deus em
todas as coisas e em nós. Assim como a evolução caminhou de tal forma a
produzir em nós os vários órgãos os olhos para ver, o olfato para captar os
odores, os ouvidos para ouvir, o tato para sentir, a boca para comer e falar , e
com todos eles internalizarmos o universo para dentro de nós, ela também criou
essa capacidade interna que nos abre o acesso a Deus
14
.
Foi com base nesses estudos que a física e filósofa Danah Zohar desenvolveu uma
pesquisa sobre a existência de uma inteligência capaz de ampliar os horizontes das pessoas: a
Inteligência Espiritual. A respeito do ponto Deus, a autora afirma se tratar de uma espécie
de órgão interior pelo qual se capta a presença do Inefável dentro da realidade (2004).
Ainda de acordo com Zohar, o que caracteriza uma pessoa com uma Inteligência
Espiritual altamente desenvolvida é a capacidade de ser flexível, um elevado grau de
autopercepção, a capacidade de ser resiliente, de utilizar a dor e o sofrimento como
oportunidade de crescimento, e a qualidade de ser inspirado por valores positivos como
solidariedade, empatia, senso de justiça, ética. Um indivíduo com inteligência espiritual,
possivelmente também será um líder inspirado pelo desejo de servir, responsável por trazer
e agregar esses valores ao próximo e lhe mostrar como usá-los.
A ESPIRITUALIDADE NUCLEAR AO CRISTIANISMO
Até a Idade Média
15
, a sociedade era essencialmente teocêntrica (Deus no centro de
tudo), orientada e voltada para Deus em todas as suas ações, experiências e procedimentos.
Todas as perguntas para as quais o homem o tinha respostas se relacionavam ao
misticismo
16
, a sua crença e fé em Deus.
Esse pensamento foi abalado de forma profunda pelo Renascimento, pelo
Humanismo e pela Revolução Científica, ocorrida no século XV E XVI. A mudança do
estilo de vida, e as transformações ocorridas nesse período desenvolveram o
14 Leonardo BOFF, O cuidado necessário: na vida, na saúde, na educação, na ética e na espiritualidade, p.1.
15 Idade Média: período medieval na Europa, entre os séculos V e XV. Inicia-se com a queda do Império Romano do
Ocidente e termina durante a transição para a Idade Moderna.
16 Misticismo: Contato com o espiritual.
Figura 1: O cérebro humano e a localização do ponto Deus
https://institutodelongevidademag.org/longevidade-e-comportamento/ponto-de-deu
GARCIA, Luciana Carmona; DA SILVA, Aline Eloisa
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antropocentrismo. Essa concepção de mundo atribuiu ao ser humano uma posição de
centralidade a todo o universo, sugerindo que o homem deveria ser o centro das ações, das
expressões culturais, históricas e filosóficas, afastando o homem da ligação forte que
mantinha com o Sagrado, buscando assim, dar uma resposta racional para todas as coisas.
Atualmente, percebe-se uma quebra de valores e paradigmas, gerando mudanças em
diversos âmbitos da sociedade, levando o homem pós-moderno a sensação do vazio
existencial, e a procura de práticas espirituais diversas que o ajude a encontrar um sentido
para a existência.
Do ponto de vista cristão, homens espirituais são aqueles que estão cheios do Espírito
de Cristo, esse sopro de vida que preenche todo o ser da pessoa. A vida de Jesus é a boa
notícia, o verbo encarnado do qual procede dentro da fé cristã, à raiz de toda espiritualidade.
No Cristianismo, Jesus é o centro da Espiritualidade, porque a manifestação máxima da
expressão do Espírito, sua característica, seu parâmetro e fonte estão na pessoa de Jesus, em
sua vida e ensinamentos: Mas descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força; e sereis minhas
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e Samaria e até os confins do mundo (At 1,8)
A Espiritualidade Cristã é atribuída a todo homem que crê em Jesus Cristo. (Jo 3,34;
14,12). Uma dimensão da Espiritualidade Cristã que merece destaque é a Dimensão
trinitária: A vida do cristão procede e tende à comunhão com um Deus trino: Pai (criador
de todas as coisas), Filho (redentor do universo) e Espírito Santo (a união entre o Pai e o
Filho). Essa dimensão passa a ser vivida no recebimento do batismo sacramental,
sacramento que foi instituído por Cristo (Mt 3,11; 28,19).
O Encontro pessoal com Jesus reflete numa conversão de atitudes e valores. Acolher
Jesus no coração e direcionar a vida para Ele implica em buscar constantemente o Bem, o
perdão, a justiça, a solidariedade, a caridade, a paz, a brandura, a temperança e o amor.
Caminhar com Jesus, implica contribuir na construção de uma sociedade mais justa,
igualitária, que proporcione uma vida digna a todas as pessoas, essa vivência no
Cristianismo é possível por meio da presença do Espírito de Jesus Cristo em nós. Nas
Suas palavras: Sem Mim nada podeis fazer (Jo 15,1-5)
De acordo com Kerns
17
, a espiritualidade autêntica sempre termina na prática da
caridade. A espiritualidade cristã não é intimista, não é fechada apenas nas necessidades de
quem as pratica. Ao desenvolver a Espiritualidade, o ser humano também desenvolve a sua
fé. De acordo com Kerns
18
, sem a experiência do amor de Deus não fé, e sem não
espiritualidade nem a possibilidade de uma experiência de intimidade mútua.
A vista disso, James William Fowler, pesquisador e estudioso americano do
desenvolvimento humano e religioso elaborou, por volta de 1992, uma teoria que contemplasse
os estágios da . De acordo com Silva
19
, Fowler parte da concepção de uma fé humana, como
fundamental para o desenvolvimento de uma religiosa. A é interativa, parte integrante da
personalidade e emerge das primeiras experiências da vida humana. As sementes da
favorecem a busca do sentido da vida e do crescimento da espiritualidade no ser humano.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A história da humanidade é marcada pela construção de valores, cosmovisões e
paradigmas na tentativa de responder questionamentos sobre a condição existencial: de
onde viemos, para onde vamos, porque estamos aqui, qual o sentido da nossa vida. Por
17 Maria E.A. SILVA, O processo de desenvolvimento da é e a formação docente, a partir de James. W. Fowler, p.26.
18 Maria E.A. SILVA, O processo de desenvolvimento da é e a formação docente, a partir de James. W. Fowler, p.26.
19 Maria E.A. SILVA, O processo de desenvolvimento da é e a formação docente, a partir de James. W. Fowler, p.32.
GARCIA, Luciana Carmona; DA SILVA, Aline Eloisa
A espiritualidade no cristianismo: A esncia do ser
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meio das narrativas bíblicas, sobretudo, no livro de Gênesis, compreende-se que Deus é o
criador de todas as coisas, O Espírito de Deus pairava sobre as águas (Gn 1,1). E ao criar o
ser humano, inspirou-lhe nas narinas o sopro da vida (Gn 2,7). As histórias bíblicas
relacionadas ao plano da criação da redenção, do chamado de Abraão, Moisés e outros
profetas bíblicos nos mostram a vivência dessa espiritualidade da Criatura com o Criador. É
Deus quem vai ao encontro do ser humano, que o chama a fazer uma aliança, a viver na
amizade e na liberdade para com Ele.
O ensinamento, por mais imaginativo e popular que seja, é denso e profundo:
Deus é o criador do mundo e é distinto do universo. O mundo é bom. A
finalidade da Criação é a paz de Deus, figurado no repouso do sétimo dia. O
homem foi criado da terra, mas animado de um sopro de vida. Destina-se ele a
viver na amizade com Deus, que lhe concedeu a liberdade
20
.
Jesus Cristo, centro de toda espiritualidade cristã, filho de Deus, perfeito por excelência, se
fez Homem, a fim de ensinar os homens, a se encontrarem com Ele, por meio de uma vincia
espiritual autêntica e geradora de vida plena. Jesus ensinou seus dispulos e seguidores e
continua passando pelos caminhos, chamando a todos que o escutam a viver essa proposta,
arraigada no amor, na compaixão ao próximo, numa vida de doação e intimidade com Deus.
Um chamado que vai ao encontro da vivência de uma espiritualidade plena, que
combata o egoísmo, a superficialidade, e o individualismo. Que valorize e se comprometa
com a vida; que saia do vitimismo e encontre no sofrimento uma oportunidade de
ressignificação da vida. Uma espiritualidade enraizada no Cristo, é aquela que promove o
Bem, a justiça social, a solidariedade, a ética , que está firmada no Reino Celeste, podendo
ser vivida concretamente no plano terreno, mas que extrapola a realidade terrena, uma vez
que seu seguimento implique em cada vez mais se tornar um com Ele.
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