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1.1 Nosso Deus é Amor que vem!
Sabemos que a Igreja é, por sua natureza, missionária (AG 2). Este foi o desejo
expresso de Nosso Senhor Jesus Cristo quando Ele, Ressuscitado, enviou a Igreja em
missão: “Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19; cf. Mc 16,16). Mas, sendo essencialmente
missionária, é interessante descobrir que não é a Igreja que tem uma missão, senão que é
a missão quem tem uma Igreja.
De fato, “a origem da natureza missionária da Igreja encontra-se no amor fontal de
Deus, na caridade de Deus”
2
. A origem da missão é Deus. Ela brota do coração da Trindade,
como Amor Fontal. Deus atua para fora de si criando, redimindo e santificando. Desde
sempre, portanto, Deus sai de si, buscando realizar o Seu projeto de vida, e vida
comunicada
3
. A Trindade é a fonte e a causa da missão:
A Igreja das origens, que vive muito da missão e se sente arrastada por uma dinâmica
missionária, não conhece qualquer definição missionária puramente pastoral. Utiliza,
pelo contrário, o conceito de ‘missiones’ para exprimir como a Trindade se abre, a
partir de dentro, ao mundo, com o envio do Filho e do Espírito
4
.
Karl Barth, teólogo protestante, empenhou-se bastante em demostrar que a origem
da missão está ligada à essência mais profunda de Deus, que é Amor (cf. 1Jo 4,8). Karl Barth
conclui, então, que a missão não é obra humana, mas divina. É até mesmo um atributo
divino: Deus é um Deus missionário
5
.
David Bosch, uma referência importantíssima na Missiologia Atual, ensina que missão
designa primordialmente a missio Dei (missão de Deus), isto é, a autorrevelação
de Deus como Aquele que ama o mundo, o envolvimento de Deus no e com o
mundo, a natureza e a atividade de Deus, que compreende tanto a igreja quanto
o mundo, e das quais a igreja tem o privilégio de participar. Missio Dei enuncia a
boa nova de que Deus é um Deus-para/pelas-pessoas
6
.
A missão como revelação de Deus e de sua realidade mais profunda foi demonstrada
de forma mais eminente e plena no envio do Filho para a salvação do mundo (cf. Jo 3,16).
Jesus Cristo, o Filho de Deus, Sumo Sacerdote e Apóstolo do Pai (cf. Hb 3,1) se tornou o
arquétipo e modelo de qualquer missão
7
. Ele, enviado do Pai, para revelar Deus, que é
Amor. “Tudo o que podemos conhecer de Deus, aprendemo-lo graças à revelação de Cristo
e à obra do seu Espírito em nós. Ele foi mandado ao mundo pelo Pai para salvar o mundo”
8
.
Panazzolo repercute que Jesus é o Único mediador, o revelador do mistério divino no
mundo, ou seja, revelador do grande plano do amor divino, a missão de Deus – a Missio Dei!
E como tal, o autor debruça-se sobre a pessoa de Jesus e vai lançando luzes sobre Ele: Jesus é
o enviado do Pai, na força do Espírito Santo; Jesus fala do Pai; Jesus reza; Jesus ensina a
rezar; Jesus promete e envia o Espírito Santo; Jesus chama e envia em missão
9
.
2 CNBB, Programa Missionário Nacional, p.29.
3 Cf. João PANAZZOLO, Missão para todos. Introdução à Missiologia, p.13.
4 Giampetro DAL TOSO, A missio na Trindade, origem da missio da Igreja, p.58.
5 Cf. David BOSCH, Missão Transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, p.466-470.
6 David BOSCH, Missão Transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, p.28.
7 David BOSCH, Missão Transformadora – Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, p.59.
8 Giampetro DAL TOSO, A missio na Trindade, origem da missio da Igreja, p.61.
9 Cf. João PANAZZOLO, Missão para todos. Introdução à Missiologia, p.35-50.
ROCCHETTI, Daniel Luz
O “Permanecer no Amor” (cf. Jo 15,9) para ser missão
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p. 66-79, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.