Este artigo es licenciado com a licea: Creative
Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0
International License.
O PERMANECER NO AMOR (CF.
JO 15,9) PARA SER MISSÃO
A autêntica Espiritualidade Cristã é
elemento imprescindível para a
identidade missionária da Igreja
e de cada el cristão
TO STAY IN LOVE" (CF. JN 15:9)
TO BE MISSION
Authentic Christian Spirituality is an
essential element for the missionary
identity of the Church and of every
Christian believer.
Daniel Luz Rocchetti*
Resumo: O artigo se propõe apresentar a missão como fruto mais autêntico
de uma espiritualidade cristã. Partindo da reflexão missiologia atual que
apresenta o conceito de Missio Dei, no qual reconhece-se em Deus a fonte da
missão e essa um atributo da divindade. Neste transbordamento divino sobre
a criação e a humanidade, Jesus Cristo é o ápice da missão de Deus. E é a
partir d'Ele que Igreja e cada fiel torna-se um colaborador da e na Missio Dei.
Assim para o fiel em particular, é a partir do encontro com Jesus Cristo, que
se decide como seu discípulo, busca-se configurar-se a Ele para que Ele
mesmo continue a Sua missão. Percorrendo os documentos missionários do
Magistério Pontifício recente e alguns documentos missionários da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, descobre-se a importância de
permanecer no amor de Deus, isto é, em comunhão e fidelidade a Ele para
ser um missionário, seja doando a vida, rezando pelas missões ou
contribuindo com elas.
Palavras-chave: Espiritualidade Missionária. Missio Dei. Magistério
Missionário. Identidade.
v. 38, n. 131, Passo Fundo,
p. 66-79, Jul./Dez./2021,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:https://doi.org/10.52451/teopraxis.v38i131.60
* Sacerdote Palotino (Sociedade do
Apostolado Católico); Bacharel em Filosofia
pelo Instituto Teológico do Mosteiro de São
Bento/RJ (1999); Bacharel em Teologia pela
Instituto Teológico do Mosteiro de São Bento/
RJ (nível eclesiástico 2003, convalidação
2015); Bacharel em Missiologia pela Pontifícia
Universidade Urbaniana Roma/Itália
(2008); Mestre em Missiologia pela Pontifícia
Universidade Urbaniana Roma/Itália
(2010); Doutor em Missiologia pela Pontifícia
Universidade Urbaniana Roma/Itália
(2015); Assessor da Comissão Episcopal
Pastoral para a Ação Missionária e
Cooperação Intereclesial da CNBB.
Email: danielrocchetti@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1247-1171
Recebido em 26/06/21
Aprovado em 16/08/21
Este artigo es licenciado com a licea: Creative
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Abstract: The article proposes to present the mission as the most authentic
fruit of a Christian spirituality. Starting from the current missiology
reflection that presents the concept of Missio Dei, in which the source of the
mission is recognized in God, and the mission, an attribute of divinity. In
this divine overflow on creation and humanity, Jesus Christ is the
culmination of God's mission. And it is from him that the Church and every
believer becomes a collaborator of and in Missio Dei. Thus, for the faithful, it
is from the encounter with Jesus Christ himself, which one decides to follow
as his disciple, seeking to configure himself to him so that He himself may
continue His mission. Through the missionary documents of the recent
Pontifical Magisterium and some missionary documents of the National
Conference of Bishops of Brazil, one discovers the importance of 'remaining
in the love' of God, that is, in communion and fidelity to Him to be a
missionary, whether donating life, praying for missions or contributing to
them.
Keywords: Missionary Spirituality. Missio Dei. Missionary Magisterium.
Identity.
INTRODUÇÃO
Três personagens importantes e singulares na história da Igreja
nos inspiram ao escrevermos este texto. São conhecidos dos meios e
ambientes missionários, porque já colocados sobre os altares como
padroeiros das missões: São Francisco Xavier, Santa Teresinha do
Menino Jesus e a Venerável Pauline Jaricot.
Suas vidas já nos são conhecidas, e sua ligação com a Igreja
missionária também. Sabemos que Francisco Xavier, com sua
disponibilidade em ir, serve de inspiração e exemplo a quem deseja
doar-se à missão, comprometendo toda a vida por esta causa, a ponto
de ir a fronteiras longínquas, despojando-se das seguranças que o
próprio lugar, a própria cultura e os próprios laços poderiam oferecer.
Santa Teresinha apresenta-se como modelo missionário de
outro tipo, tão importante quanto aquele acima relatado. Ela, dando-
se a Deus exclusivamente, consagrou a sua vida em uma clausura
carmelitana e direcionou esta entrega pela Igreja e a sua fecundidade
missionária, dando suporte oracional a quem, fora dos muros do
convento e no mundo de fronteiras desconhecidas, pudesse
testemunhar a fé. A oração, como a Pequena Flor do Carmelo ensina,
é já missão!
E ainda, a Venerável Pauline Jaricot, sendo alcançada pelas
notícias de missionários franceses em longínquas terras e sabendo das
realidades que enfrentavam para anunciar a Boa Nova do Evangelho,
além de mobilizar as amigas para rezarem por tais missionários,
compreenderam que poderiam ser missionárias contribuindo com as
missões. As doações faziam a missão acontecer e, ainda hoje, são
através delas que a Providência Divina se faz presente nos lugares mais
pobres e simples onde a Igreja se faz presente.
Mas porque recordamos destas três pessoas e poderiam ser
tantas mais aqui listadas? Porque se tornaram oficialmente padroeiros
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ISSN on-line: 2763-5201
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1 Adroaldo PALAORO, A Paixão pela missão nas periferias, Acesso em https://www.centroloyola.org.br/revista/outras-
palavras/espiritualidade/335-a-paixao-pela-missao-nas-periferias.
ROCCHETTI, Daniel Luz
O Permanecer no Amor (cf. Jo 15,9) para ser missão
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p. 66-79, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.
ou inspiradores da Missão? Não! Isto seria pouco. Apesar de tantos exemplos concretos
que cada um nos deixou, um algo especial e fecundo que alimenta as suas vidas. um
algo que une Francisco Xavier, Teresa do Menino Jesus e Pauline Jaricot que poderíamos
identificar em sua espiritualidade... uma espiritualidade missionária.
É bem verdade que hoje, na atualidade do Magistério de Papa Francisco e no
seguimento da vivência e das opções teológicas do Magistério Episcopal Latino
Americano, a realidade da periferia, do eixo-fora do centro, se tornou um lugar teológico.
É, de fato, como que um ponto de partida para a reflexão teológica e a missão. Assim
explica o autor Adroaldo Palaoro, jesuíta: Na vivência à missão, devemos ter sempre
diante dos nossos olhos a pessoa de Jesus Cristo. Com sua vida e sua palavra, Ele
descentraliza o mundo a partir da periferia, terra privilegiada, de onde podemos
contemplar a história e a própria humanidade. Cada passo na direção das periferias do
mundo também é um passo contemplativo em busca do encontro com o Senhor da
História, que nos chama de baixo e de fora’”
1
!
No entanto, o presente artigo se propõe mesmo acessar aquela mentalidade comum
e muito atual, identificada a partir da observação do autor, que postula apenas ser
suficiente uma relação com o Divino, com Jesus Cristo através dos momentos litúrgico,
sacramentais e oracionais, sem que estes transbordem necessariamente em um
compromisso ministerial, pastoral e missionária. A partir desta realidade o comum
encontrada em nossas paróquias e comunidades e recorrendo aos exemplos dos três
personagens apenas citados, por este artigo pretende-se ajudar a refletir que uma madura
relação discipular com Jesus Cristo, partindo do centro ou partindo da periferia, sempre
precisará transbordar na missão.
1 ACOLHER UM DEUS QUE VEM, SEGUIR UM DEUS QUE VAI
Quando estamos à margem de um rio caudaloso, vemos um movimento de águas
constantes. O rio desce e segue seu trajeto rumo ao oceano. Um pedaço de madeira ali
lançado segue o mesmo destino. Se lançarmos um barco, ele seguirá a corrente... Se
mergulharmos naquelas águas, também nós sairemos lá em baixo: a corrente das águas
nos levará. Teremos entrado, seremos levados, sairemos de cena e o rio corrente
continuará o seu percurso.
Relata os Atos dos Apóstolos que Paulo e Timóteo chegaram à Macedônia,
instalando-se em Filipos, que era uma colônia romana. Diz-se que passaram ali alguns
pares de dias. Em um bado, ambos saíram pela porta da cidade em direção a um rio,
onde pensavam que se pudesse fazer oração (Cf. At 16,13). Em alguma outra tradução,
diz-se que buscavam um lugar onde encontrar oração. À margem de um rio! Ali,
inspirados por aquela paisagem poderiam se retirar, refletir, meditar, salmodiar e levantar
louvores a Deus. E, porque não, inspirados pelo movimento daquelas águas, pensarem-se
alcançados pela graça de Deus, abraçados e carregados por Ele? Afinal, assim com um rio,
Deus vem ao nosso encontro, acolhe-nos e nos carrega, levando-nos e enviando-nos.
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1.1 Nosso Deus é Amor que vem!
Sabemos que a Igreja é, por sua natureza, missionária (AG 2). Este foi o desejo
expresso de Nosso Senhor Jesus Cristo quando Ele, Ressuscitado, enviou a Igreja em
missão: Ide, pois, e fazei discípulos todos os povos, batizando-os em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo (Mt 28,19; cf. Mc 16,16). Mas, sendo essencialmente
missionária, é interessante descobrir que não é a Igreja que tem uma missão, senão que é
a missão quem tem uma Igreja.
De fato, a origem da natureza missionária da Igreja encontra-se no amor fontal de
Deus, na caridade de Deus
2
. A origem da missão é Deus. Ela brota do coração da Trindade,
como Amor Fontal. Deus atua para fora de si criando, redimindo e santificando. Desde
sempre, portanto, Deus sai de si, buscando realizar o Seu projeto de vida, e vida
comunicada
3
. A Trindade é a fonte e a causa da missão:
A Igreja das origens, que vive muito da missão e se sente arrastada por uma dinâmica
missioria,o conhece qualquer definição missioria puramente pastoral. Utiliza,
pelo contrio, o conceito de missiones para exprimir como a Trindade se abre, a
partir de dentro, ao mundo, com o envio do Filho e do Espírito
4
.
Karl Barth, teólogo protestante, empenhou-se bastante em demostrar que a origem
da missão está ligada à essência mais profunda de Deus, que é Amor (cf. 1Jo 4,8). Karl Barth
conclui, então, que a missão não é obra humana, mas divina. É até mesmo um atributo
divino: Deus é um Deus missionário
5
.
David Bosch, uma refencia importantíssima na Missiologia Atual, ensina que missão
designa primordialmente a missio Dei (missão de Deus), isto é, a autorrevelação
de Deus como Aquele que ama o mundo, o envolvimento de Deus no e com o
mundo, a natureza e a atividade de Deus, que compreende tanto a igreja quanto
o mundo, e das quais a igreja tem o privilégio de participar. Missio Dei enuncia a
boa nova de que Deus é um Deus-para/pelas-pessoas
6
.
A missão como revelação de Deus e de sua realidade mais profunda foi demonstrada
de forma mais eminente e plena no envio do Filho para a salvação do mundo (cf. Jo 3,16).
Jesus Cristo, o Filho de Deus, Sumo Sacerdote e Apóstolo do Pai (cf. Hb 3,1) se tornou o
arquétipo e modelo de qualquer missão
7
. Ele, enviado do Pai, para revelar Deus, que é
Amor. Tudo o que podemos conhecer de Deus, aprendemo-lo graças à revelação de Cristo
e à obra do seu Espírito em nós. Ele foi mandado ao mundo pelo Pai para salvar o mundo
8
.
Panazzolo repercute que Jesus é o Único mediador, o revelador do mistério divino no
mundo, ou seja, revelador do grande plano do amor divino, a missão de Deus a Missio Dei!
E como tal, o autor debruça-se sobre a pessoa de Jesus e vai lançando luzes sobre Ele: Jesus é
o enviado do Pai, na força do Espírito Santo; Jesus fala do Pai; Jesus reza; Jesus ensina a
rezar; Jesus promete e envia o Espírito Santo; Jesus chama e envia em missão
9
.
2 CNBB, Programa Missionário Nacional, p.29.
3 Cf. João PANAZZOLO, Missão para todos. Introdução à Missiologia, p.13.
4 Giampetro DAL TOSO, A missio na Trindade, origem da missio da Igreja, p.58.
5 Cf. David BOSCH, Missão Transformadora Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, p.466-470.
6 David BOSCH, Missão Transformadora Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, p.28.
7 David BOSCH, Missão Transformadora Mudanças de Paradigma na Teologia da Missão, p.59.
8 Giampetro DAL TOSO, A missio na Trindade, origem da missio da Igreja, p.61.
9 Cf. João PANAZZOLO, Missão para todos. Introdução à Missiologia, p.35-50.
ROCCHETTI, Daniel Luz
O Permanecer no Amor (cf. Jo 15,9) para ser missão
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De tudo isso se conclui que a grande paixão de Jesus foi o Pai e que, portanto, a nossa
grande paixão também deve ser Ele: o Pai no mais íntimo de nosso coração. A intimidade de
Jesus com o Pai é modelo de nossa relão de confiança filial, de ternura e carinho com Ele. Se
não vos tornardes como crianças,o entrareis no Reino dosus (Mt 18,3), isto é, se do fundo
do nosso coração não soubermos chamar a Deus de Pai o entraremos no Reino dos us.
Foi a partir dessa intimidade que Jesus nos manifestou o plano do Pai, o plano salvífico
do Pai. E qual é esse plano? Que o Pai seja tudo em todos. assim todos seremos felizes
como o Pai é feliz. É isso o que constitui de fato o Reino de Deus: Deus Pai tudo em todos (cf.
1Cor 15,28). E o quanto necessitamos de um Pai... de um Pai que também é e (cf. Is 49,15)
10
!
O encontro com Jesus Cristo, então, é algo essencial para a vida cristã. É a condição
imprescindível para se descortinar ao homem, seja no coletivo e como no singular, todo
aquele plano divino: De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito,
para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3,16). Deus não faz
acepção de pessoas; Ele é para todos, sem exclusão alguma (cf. At 10,34-35; Rm 2,11; Tg
2,1): todos são convidados a estarem com Ele, entrarem em Sua intimidade, permanecerem
em Seu Amor (cf. Jo 9,15).
1.2 Jesus, Revelador do Amor do Pai
Foi o Papa Bento XVI quem escreveu, de forma tão clara, o que compreendíamos
sobre o início e toda a vida cristã. Disse ele:
Ao início do ser cristão, não uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que à vida um novo
horizonte e, desta forma, o rumo decisivo (DCE 1).
Em ambiente latino americano, os Bispos reunidos em Assembleia Episcopal em
Aparecida reafirmaram esta realidade e foram ainda mais incisivos, pois atrelaram à
experiência do encontro com Jesus à decisão de anuncia-Lo; a compasso daquela mesma
opção encontrada no Senhor, de um cuidado particularmente especial para com os pobres e
marginalizados, em tensão libertadora
11
:
Necessitamos de um novo Pentecostes! Necessitamos sair ao encontro das
pessoas, das famílias, das comunidades e dos povos para lhes comunicar e
compartilhar o dom do encontro com Cristo, que tem preenchido nossas vidas
de sentido, de verdade e de amor, de alegria e de esperança! Não podemos ficar
tranquilos em espera passiva em nossos templos, mas é urgente ir a todas as
direções, para proclamar que o mal e a morte não têm a última palavra, que o
amor é mais forte, que fomos libertos e salvos pela vitória pascal do Senhor na
história, que Ele nos convoca em igreja e quer multiplicar o número de seus
discípulos na construção do seu reino em nosso Continente (DAp 548)!
Partir de Cristo. Partir do encontro com Ele. Re-partir d'Ele. aqui uma
centralidade sublinhada na qual não se pode ignorar: a vida cristã gira em torno de Jesus
Cristo e acontece a partir d´Ele. A cristã é, primeiramente, acolhimento do amor de
Deus revelado em Jesus Cristo, adesão sincera à sua pessoa e uma livre decisão de caminhar
em seu seguimento
12
.
10 João PANAZZOLO, Missão para todos. Introdução à Missiologia, p.50.
11 Faz-se, aqui, referência a toda a caminhada da Igreja Latino-Americana com suas Conferências Episcopais (Rio de
Janeiro, Medellín, Puebla e Santo Domingo) e seus profetas e mártires.
12 PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO, Diretório para a Catequese, n.18.
ROCCHETTI, Daniel Luz
O Permanecer no Amor (cf. Jo 15,9) para ser missão
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Este encontro com Jesus Cristo somente é possível porque o Seu Espírito, derramado
sobre a Igreja desde em Pentecostes e hoje e continuamente, o permite e o promove. O
Papa Paulo VI vem ensinar que não seria possível haver evangelização senão sob a ação do
Espírito Santo, que desceu sobre Jesus de Nazaré, conduzindo-O em todo o Seu caminhar e
no anunciar do Seu Reino; quando ia ao encontro dos pecadores, dos pobres e de todas as
pessoas, naquelas periferias geográficas e existenciais; e também ali, na Cruz, quando se
cumpriam as Escrituras. Ali o Espírito de Cristo foi derramado sobre a Humanidade. Mais
tarde, segundo o Papa, este mesmo Espirito manifestou-se entre os discípulos e os
apóstolos, enchendo-os de coragem para partirem em todos as partes do mundo (EN 75).
Ele é a alma desta mesma Igreja. E ele que faz com que os fiéis possam entender
os ensinamentos de Jesus e o seu mistério. Ele é aquele que, hoje ainda, como nos
inícios da Igreja, age em cada um dos evangelizadores que se deixa possuir e
conduzir por ele, e põe na sua boca as palavras que ele sozinho não poderia
encontrar, ao mesmo tempo que predispõe a alma daqueles que escutam afim de
a tornar aberta e acolhedora para a Boa Nova e para o reino anunciado (EN 75).
Sendo o protagonista principal da evangelização, o Espírito Santo é aquele que impele
a anunciar o Evangelho e também é aquele que prepara o íntimo das pessoas para acolher
esta Palavra EN 75); e não como Palavra, mas como Pessoa, Jesus Cristo, Ressuscitado,
como ensinou Papa Bento XVI.
É o Espírito quem nos faz reconhecer em Jesus de Nazaré o Senhor (cf. 1Cor
12,3), que faz ouvir o chamado ao seu seguimento e nos identifica com Ele: Se
alguém não tem o Espírito de Cristo, não pertence a Cristo (Rm 8,9). É Ele
quem, fazendo-nos filhos no Filho, testemunha a paternidade de Deus, faz-nos
conscientes da nossa filiação e nos concede a audácia de chamá-lo Abá, ó
Pai (Rm 8,15). É Ele quem infunde o amor e gera a comunhão.
A missão de Deus, a Missio Dei, qual um rio, na plenitude dos tempos (cf. Gl 4,4)
manifestou-se na Encarnação, Vida, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo e na vida
da Igreja, que é seu Corpo. Ele é, na ação do Espírito Santo, a fonte que nasce e manifesta
água pura, vida em plenitude para que todos que se aproximam e matam sua sede. E esta
notícia deve se espalhar.
2 A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ É, POR ELA MESMA, ESPIRITUALIDADE MISSIONÁRIA
O Papa João Paulo II ensina que a espiritualidade missionária se refere diretamente a
Jesus Cristo. Quer dizer, portanto, que a espiritualidade missionária é a espiritualidade
cristã: experiência cristã e ardor missionário são, portanto, relativos um ao outro e devem
ser praticamente compreendidos como sinônimos (RM 88). Por sua vez, o Papa Francisco
ensina que a vida é missão (EG 15) e por isso, o que toca à vida cristã, toca também à
consciência e espiritualidade missionárias.
A espiritualidade que deve alimentar cada fiel é a do seguimento à pessoa de Jesus
Cristo. E por espiritualidade entende-se uma vida animada pelo Espírito, a partir daquele
encontro com Jesus que é decisivo. Deste encontro com Ele descortina-se um convite de
discipulado, de configuração e de missionariedade (PMN p.36). Nota essencial da
espiritualidade missioria é a comuno íntima com Cristo: o é posvel compreender e viver
a miso, seo na refencia a Cristo, como Aquele que foi enviado para evangelizar (RM 88).
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2.1 Encontrar-se com Cristo, ser seu Discípulo e configurar-se a Ele
foi dito que o início da vida cristã está no encontro com Jesus Cristo vivo,
ressuscitado, presente no mundo através de sua Igreja. Este encontro dá novo sentido à vida
de cada homem e de cada mulher.
Este encontro vem acompanhado de um convite de seguimento: Vem e segue-me (cf.
Mt 19,21). O Vinde e Vede (cf. Jo 1,38) que Nosso Senhor fala àquele que lhe perguntara
onde habitava, é um mesmo convite feito a cada um que foi encontrado por Ele. Vinde e
vede. Começa aí um caminho de seguimento que poderia ser chamado de discipulado ou de
iniciação à Vida Cristã, já que assim vai se buscando aprender sobre a fé e a viver conforme
os ditames desta mesma fé.
A evangelização é um processo eclesial, inspirado e sustentado pelo Espírito
Santo, por meio do qual o Evangelho é anunciado e se espalha pelo mundo. No
processo de evangelização, a Igreja:
Impulsionada pela caridade, impregna e transforma toda a ordem temporal,
assumindo as culturas e oferecendo a contribuição do Evangelho para que
possam ser renovadas a partir de seu interior;
Aproxima-se de todos com atitude de solidariedade, coparticipação e diálogo,
assim dando testemunho da novidade da vida cristã, para aquele que os
encontram possam ser provocados a se interrogar sobre o significado da
existência e sobre as razões de sua fraternidade e esperança.
Anuncia explicitamente o Evangelho por meio do primeiro anúncio,
chamando à conversão;
Inicia à e à vida cristã, mediante o itinerário catecumenal (catequeses,
sacramentos, testemunho de caridade, experiência fraternal), aqueles que se
convertem a Jesus Cristo, ou aqueles que retomam o caminho de seu
seguimento, incorporando alguns e reduzindo outros à comunidade cristã;
Mediante a educação permanente da fé, a celebração dos sacramentos e o
exercício da caridade, alimenta nos fiéis o dom da comunhão e suscita a missão,
enviando todos os discípulos de Cristo para anunciar o Evangelho no mundo,
com obras e palavras
13
.
O culmine deste caminho discipular é a missão, que compreendida em termos de
Missio Dei, é a colaboração da Igreja e de cada fiel ao agir missionário mesmo de Deus. O
discípulo, a compasso dos ensinamentos de Nosso Senhor e aberto à ão do Espírito
Santo vai se tornando configurado a Cristo, esvaziado de si tal como Ele, escolhendo os
encontros com os pobres e mais pobres e pecadores, e para que Ele enfim, continue Sua
missão. Esta é, segundo o Papa João Paulo II, o elemento mais característico da
Espiritualidade Missionária.
Tal espiritualidade exprime-se, antes de mais, no viver em plena docilidade
ao Esrito, e em deixar-se plasmar interiormente por Ele, para se tornar
cada vez mais semelhante a Cristo. Não se pode testemunhar Cristo sem
espelhar a Sua imagem, que é gravada em nós por obra e graça do Esrito.
A docilidade ao Espírito permitirá acolher os dons da fortaleza e do
discernimento, que o traços essenciais da espiritualidade missionária
(RM 87).
O Papa Francisco, em uma recente catequese sobre os sacramentos, ensinou que o
batismo permite que Cristo viva em nós e a nós que vivamos unidos a Ele, para colaborar na
Igreja, cada um segundo a própria condição, para a transformação do mundo. Ao ser
batizado, então, torna-se um missionário. E mais, ele ainda explicou que o Batismo
13 DIRETÓRIO PARA A CATEQUESE, n.31.
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cristifica-nos, quem recebeu o Batismo e é cristificado assemelha-se a Cristo, transforma-
se em Cristo, tornando-se deveras outro Cristo
14
.
2.2A Espiritualidade Missionária no recente Magistério Pontifício
Mesmo sendo claro que a espiritualidade cristã se refere à uma espiritualidade
missionária, no sentido de que, ao alimentar a e a relação com Cristo Jesus, torna-se Seu
discípulo e vai assumindo os Seus mesmos sentimentos (cf. Fl 2,5-8), cristificando-se,
tornando-se outro Cristo e por isso, sendo missão. Mesmo assim, algo que poderíamos
identificar como característicos de uma espiritualidade missionária.
O Decreto Ad Gentes sobre a atividade missionária da Igreja, ao reconhecer que a
caridade de Deus Pai, Princípio sem Princípio, é a fonte da missão ancora em realidades
espirituais o próprio agir missionário (AG 2). O próprio Deus Trinitário flui para o mundo,
a fim de nos abrir o caminho da salvação
15
. Sendo assim, o missionário tem a que ver com
uma espiritualidade autêntica, honesta e fecunda, no sentido de cultivo mesmo de
intimidade. Pois, o enviado entra, portanto, na vida e missão dAquele que a si mesmo se
aniquilou tomando a forma de servo (Fl 2,7). Por conseguinte, deve estar pronto a
perseverar toda a vida na vocação, a renunciar a si e a todas as suas coisas, e a fazer-se tudo
para todos (AG 24). Para tanto, a vida espiritual deverá ser terreno fértil para o cultivo das
características e qualidades do missionário e ser alimentada e promovida missionariamente
já desde o tempo da formação. Cheio de fé viva e esperança indefectível, o missionário seja
homem de oração (AG 25).
Algum tempo depois do evento conciliar, o Papa Paulo VI convoca um Sínodo dos
Bispos sobre o tema da Evangelização. As reflexões dos padres sinodais deram-lhe
elementos importantes para que ele escrevesse a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. E
nela, além de profundas reflexões e direcionamentos, abordou a temática do Espírito da
Evangelização, no capítulo VII do documento. E dentre os primeiros elementos desta
dimensão, o Paulo VI sublinha a precedência ativa do Espírito Santo na atividade
missionária. Nunca será possível haver evangelização sem ação do Espírito Santo (EN 75).
Desde Sua ação sobre a pessoa de Jesus Cristo em todo o correr da vida encarnada do Filho,
até à Epifania do Espírito no Cenáculo e Seu preenchimento na vida da Igreja, o Espírito
Santo agiu e age. Ele é alma desta Igreja (EN 75). E assim, Paulo VI ensina que será Ele a
fazer entender os ensinamentos de Jesus, agindo através da Igreja, conduzindo missionários
e missões, encontros e aberturas. O Sumo Pontífice vem ainda exortar que as técnicas de
evangelização são boas, obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam
substituir a ação discreta do Espírito Santo (EN 75).
Desde este ensino explícito de que o Espírito Santo é o agente principal da
evangelização, Paulo VI lança um olhar sobre os missionários e missionários, convidando-
os à uma abertura a este Espírito para tornarem-se testemunhas autênticas (EN 76), artífices
da unidade (EN 77), servidores da verdade (EN 78), animados pelo amor (EN 79) e seguindo
os exemplos fervorosos dos santos (EN 80).
Ouve-se repetir, com frequência hoje em dia, que este nosso século tem sede de
autenticidade. A propósito dos jovens, sobretudo, afirma-se que eles m horror
ao fictício, aquilo que é falso e que procuram, acima de tudo, a verdade e a
transparência.
14 FRANCISCO, Audiência Geral, 11 de abril de 2018. Acesso em: www.vatican.va/content/francesco/pt/audiences/
2018/documents/papa-francesco_20180411_udienza-generale.html
15 Giampetro DAL TOSO, A missio na Trindade, origem da missio da Igreja, p.60.
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Estes sinais dos tempos deveriam encontrar-nos vigilantes. Tacitamente ou
com grandes brados, sempre porém, com grande vigor, eles fazem-nos a
pergunta: Acreditais verdadeiramente naquilo que anunciais? Viveis aquilo em
que acreditais? Pregais vós verdadeiramente aquilo que viveis?
Mais do que nunca, portanto, o testemunho da vida tornou-se uma condição
essencial para a eficácia profunda da pregação. Sob este ângulo, somos, até certo
ponto, responsáveis pelo avanço do Evangelho que nós proclamamos (EN 76).
Celebrando os 25 anos do Decreto Conciliar Ad Gentes e os 15 anos da Exortação
Apostólica Evangelii Nuntiandi, o Papa João Paulo II escreveu outro importante documento
missionário: a Carta Encíclica Redemptoris Missio. Assim como Paulo VI, João Paulo II
dedicou um capítulo inteiro para abordar os temas específicos acerca da Espiritualidade
Missioria. E ele, por sua vez, confirma o protagonismo do Esrito Santo mas
atribui-Lhe uma responsabilidade e obra até então o explorada: o missiorio
deveria viver em plena docilidade ao Esrito, deixando-se plasmar interiormente por
Ele, para se tornar mais semelhante a Cristo. o se pode testemunhar Cristo sem
espelhar a Sua imagem, que é gravada em s por obra e graça do Esrito. A docilidade
ao Esrito permitirá acolher os dons da fortaleza e do discernimento, que o traços
essenciais da espiritualidade missionária (RM 87). Para o Papa João Paulo II, o
missiorio deveria viver o mistério de Cristo enviado de tal forma que encarnasse as
características aposlicas d´Ele (RM 88), amando a Igreja e os homens como Ele amou
(RM 89) e buscando uma santidade de vida que fosse eloquente por ela mesma, pois
mesmo que não houvesse possibilidade de pregar o Evangelho e mesmo fadado ao
sincio, a vida do missiorio evangelizaria por si (RM 90).
O Papa Bento XVI o dedicou um documento especificadamente à questão
missioria, mas deu importantes contribuições para esta reflexão através de outros
documentos, das Mensagens para o Dia Mundial das Missões e atras das suas
Catequeses. Pom, de forma tão especial e pxima a V Conferência Geral do
Episcopado da América Latina e Caribe, em Aparecida Brasil, no ano de 2017 se
tornou ocasião para importantes reflexões. Por causa do teor o missionário desta V
Conferência, o Papa Bento XVI apontou diversos pontos, ressaltando sempre a
primazia do encontro com Jesus como início de vida cris o que ele havia apontado
em sua primeira Enclica Deus Charitas Est, e da importância de compreender a
identidade missionária da Igreja, que a miso é paradigma de toda atividade
eclesial
16
. Na homilia de abertura para a V Confencia, ele ensinou que a Igreja é
discípula e missionária do Amor revelado por Cristo, missionário do Pai e que a Igreja
o faz proselitismo, mas cresce por atrão, pois está associada a Cristo que atrai para
si com a força de Seu amor
17
. Indispensável para uma vida cristã missionária fecunda, o
Pontífice defende que é necessário educar o povo para a leitura e a meditação da
Palavra de Deus: que ela se transforme no seu alimento para que, pela sua ppria
experiência, vejam que as palavras de Jesus o espírito e vida (cf. Jo 6,63). Caso
contrário, como podeo anunciar uma mensagem, cujo contdo e esrito não
conhecem profundamente? Temos que fundamentar o nosso compromisso missiorio
e toda a nossa vida na rocha da Palavra de Deus
18
. Para ele, o cultivo de uma
16 Cf. BENTO XVI, Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2012. Acesso em: www.vatican.va/content/benedict-xvi/
pt/messages/missions/documents/hf_ben-xvi_mes_20120106_world-mission-day-2012.html
17 Cf. BENTO XVI, Homilia na Santa Missa de inauguração da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e
do Caribe, 2007. Acesso em: www.vatican.va/content/benedict-xvi/pt/homilies/2007/documents/hf_ben-
xvi_hom_20070513_conference-brazil.html
18 BENTO XVI, Discurso na Sessão Inaugural dos trabalhos da V Conferência, 2007. Acesso em: https://www.vatican.va/
content/benedict-xvi/pt/speeches/2007/may/documents/hf_ben-xvi_spe_20070513_conference-aparecida.html
ROCCHETTI, Daniel Luz
O Permanecer no Amor (cf. Jo 15,9) para ser missão
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p. 66-79, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.
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espiritualidade que evidencie a centralidade de Jesus Cristo, do icio ao fim da vida de
um fiel, através da Liturgia e dos Sacramentos, do contato com a Palavra de Deus, da
vincia comunitária e a serviço dos necessitados é essencial para que a miso
aconteça.
O Papa Francisco, por sua vez, iniciou o seu pontificado colocando balizas e
chaves missiorias bem claras e evidentes. A Exortação Apostólica Evangelii Gaudium
abordou acerca do ancio do Evangelho no mundo atual e evidenciou a urgência da
Igreja compreender-se em sda, em movimento e em missão. A Alegria do Evangelho
enche o corão e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus. Quantos se
deixam salvar por Ele são libertados do pecado, da tristeza, do vazio interior, do
isolamento. Com Jesus Cristo, renasce sem cessar a alegria. Quero, com esta Exortação,
dirigir-me aos fis crisos a fim de os convidar para uma nova etapa evangelizadora
marcada por esta alegria e indicar caminhos para o percurso da Igreja nos próximos
anos (EG 1). Tamm neste documento há um capítulo, o Capítulo V, no qual ele
aborda elementos de uma espiritualidade missionária. Segundo ele, os evangelizadores
devem se abrir sem medo à ão do Esrito Santo, pois foi assim que Ele, como
protagonista da missão, sempre atuou na vida da Igreja desde os icios.
o Espírito Santo infunde a força para anunciar a novidade do Evangelho com
ousadia (parresia), em voz alta e em todo o tempo e lugar, mesmo
contracorrente. Invoquemo-Lo hoje, bem apoiados na oração, sem a qual toda a
ação corre o risco de ficar vã e o anúncio, no fim de contas, carece de alma. Jesus
quer evangelizadores que anunciem a Boa Nova, não com palavras mas
sobretudo com uma vida transfigurada pela presença de Deus (EG 259).
Confirmando a atuão protagonista e prioritária do Espírito Santo, o Papa
Francisco arguiu, tal qual Bento XVI, que o encontro pessoal com o amor de Jesus
que nos salva é a primeira grande motivação missionária (EG 264) e é o que preenche
de alegria e brilho a vida do missionário (EG 2-3). Para isso, o exercício de uma vida
de oração sincera, colocando-se diante de Nosso Senhor, em contato com os
Sacramentos e a Sua Palavra, encontrada nas Sagradas Escrituras, nos eventos da
História, e entre os pobres. Tamm, o Santo Padre indica que outra fonte desta
espiritualidade missioria é o reconhecer-se povo, estando em meio a ele, fazendo-
se um com ele, tendo prazer espiritual em ser povo (EG 271). É, segundo ele, uma
aproximão às chagas do Senhor, tocando-as porque ainda estão abertas, quando
tocamos a miséria humana (EG 270). Para tal, para tocar as misérias do humano e o
se prejudicar por elas, mas servir e transfor-las, curando-as, o missiorio
professa uma fé na sutil naquela ação silenciosa e misteriosa do Ressuscitado e do Seu
Espírito. Segundo ele, a Ressurreição não é algo do passado, mas tem uma força de
vida que penetrou no mundo (...). É uma força sem igual (EG 276). Enfim, completa
a sua exposição sobre temas referentes à uma Espiritualidade Missionária referindo-
se a São Paulo como grande intercessor, além de missiorio e pregador. Segundo ele
e o exemplo do Apóstolo, a intercessão é uma das formas de oração que não distancia
da realidade, mas ao contrio, faz o missionário emergir ainda mais naquela situação
para fazê-la crescer aos olhos e no coração de Deus, pois a intercessão é como
fermento no seio da Trindade (EG 283).
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O Permanecer no Amor (cf. Jo 15,9) para ser missão
Revista Teopxis,
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2.3 A Espiritualidade Missionária nas atuais Diretrizes Gerais para Ação
Missioria da Igreja do Brasil 2019-2023 e no Programa Missionário
Nacional 2019-2023
As atuais Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-
2023 são de grande teor missionário. O seu objetivo geral é marcadamente
missionário, pois aponta à evangelizão neste ps cada vez mais urbano, pelo
ancio da palavra de Deus, formando discípulos e discípulas de Nosso Senhor,
formando comunidades eclesiais missionárias, coerentes com a oão evanlica
pelos mais pobres, no cuidado da Casa Comum e testemunhando o Reino de Deus
(DGAE 2019-2023 p.13), que não é comida e bebida, mas justiça, paz e alegria no
Espírito Santo (cf. Rm 14,17).
As Comunidades Eclesiais Missiorias, objetivo concreto das DGAE 2019-
2023 e contrastantes nesta atual realidade individualista, foram propostas a partir da
imagem da Casa, para promover um ambiente de lar, propício como é a
relacionamentos sauveis e vitais. Esta Igreja nas Casas, tendo a casa como
ilustração é a imagem de maior proximidade às pessoas, o lugar onde vivem, mesmo
àquelas que só m a rua como casa. Ela indica a proximidade relacional entre as
pessoas que ali convivem. Indica igualmente a necessidade da Igreja se fazer cada
vez mais presente nos locais onde as pessoas estão, seja onde for (DGAE 2019-
2023, 6). Assim, a imagem de uma casa com suas colunas foi então apresentada para
ilustrar este objetivo eclesial: o pilar da Palavra, contemplando a iniciação à vida
eclesial e a animação bíblica da vida e da pastoral; o pilar do Pão, apresentando a
liturgia e a espiritualidade como espaço de fortalecimento; o pilar da Caridade, a
serviço à vida plena e o pilar da Ação Missionária, entendendo que a Igreja precisa
se autocompreender em estado permanente de missão.
No tocante ao pilar do Pão, onde frisam-se a liturgia e a espiritualidade como
espaços de restauração e fortalecimento, identifica-se a necessidade de o fiel cristão
missionário acessar constantemente esta força provinda do encontro e da unidade
com Jesus Cristo e o Espírito Santo, atras da vida eucarística, sacramental e
comunitária (DGAE 2019-2023, 93). A Palavra de Deus com sua centralidade vai
normatizando a vida da comunidade, pois apresenta Jesus Cristo como o orante por
excelente e a Sua oração como paradigma de toda oração (DGAE 2019-2023, 95).
Esta oração é iluminadora para a vida da Igreja, pois da contemplação parte-se à
ação, como Jesus ensinou; no entanto
na pastoral, é preciso superar a ideia de que o agir é uma forma de oração.
Quando confundimos agir com rezar, chegamos a abreviar ou dispensar os tempos
de oração e de contemplação. Quando reduzimos tudo ao fazer, corremos o risco
de nos contentar apenas com reuniões, planejamentos e eventos. Estes são
importantes no cotidiano pastoral, mas não substituem a vida de oração. Ao
contrário, devem decorrer dela e a ela conduzir (DGAE 2019-2023, 97).
Esta espiritualidade de seguimento a Jesus, que vive da intimidade com Ele e a partir d'Ele,
inspira miso, cuidado e compaio é a que se pode identificar no rol dos santos e beatos desta
Igreja do Brasil: São José de Anchieta, no encontro com os indígenas; Santa Dulce dos Pobres, a
servo dos mais necessitados; Santa Paulina, cuidadora dos escravos libertos e deixados à ppria
sorte; Beata Nhá Chica, intercessora e catequista de tantas pessoas (DGAE 2019-2023, 98)...
Todos partem de uma profunda experncia de e de comunidade cristã e transbordam em uma
saída efetiva do seu lugar ao lugar onde o outro se encontra (DGAE 2019-2023, 99).
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O Programa Missionário Nacional 2019-2023 (PMN), documento que nasceu ao lado
das DGAE 2019-2023 e a ela está intimamente ligado, contempla algumas de suas páginas
ao tema da Espiritualidade Missionária. Mais especificadamente, o PMN une a reflexão
missiológica à espiritualidade para iluminar, lançando luzes sobre as realidades e os desafios
que se apresentam à Igreja e para propor prioridades, atividades e ações missionárias.
Naquelas páginas, o PMN confirma que espiritualidade é vida animada pelo Espírito e que
desde o encontro com Jesus, decisivo, dão-se passos de discipulado, configuração a Cristo e
envio ao mundo. E ensina, reassumindo e sintetizando tudo o que foi dito até agora pelo
Magistério Missionário Pontifício e pela Conferência Episcopal dos Bispos do Brasil, isto é,
que a espiritualidade missionária alimenta-se da escuta da Palavra de Deus, da docilidade ao
impulso do Espírito Santo, da vida sacramental, da vivência eucarística em comunidade, da
caridade apostólica, do testemunho profético inspirado em quem ofereceu sua vida, da
santidade de vida, da abertura à universalidade da missão e da fidelidade a Deus, a exemplo
de Maria (PMN p.36-41).
CONCLUSÃO
O Papa Francisco, em uma de suas mensagens para o Dia Mundial das Missões, foi
cirúrgico e direto: A missão é uma paixão por Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, uma paixão
pelas pessoas. E completou:
Quando nos detemos em oração diante de Jesus crucificado, reconhecemos a
grandeza do seu amor, que nos dignifica e sustenta e, simultaneamente,
apercebemo-nos de que aquele amor, saído do seu coração trespassado,
estende-se a todo o povo de Deus e à humanidade inteira; e, precisamente
deste modo, sentimos também que Ele quer servir-Se de nós para chegar
cada vez mais perto do seu povo amado e de todos aqueles que O procuram
de coração sincero. Na ordem de Jesus Ide , estão contidos os cenários e
os desafios sempre novos da missão evangelizadora da Igreja. Nesta, todos
o chamados a anunciar o Evangelho pelo testemunho da vida
19
.
Há, nitidamente uma importância singular da vida espiritual para que a Missão de
Deus, a Missio Dei, que é Amor que transborda sobre a humanidade, se realize alcançando as
pessoas e a humanidade inteira através de quem se dispõe a acolher este transbordamento.
A espiritualidade é como seiva de vida que norteia a existência do cristão. E este,
apaixonando-se por quem lhe amou por primeiro (cf. Rm 8,5), acaba por testemunhar a
cristã, com obras e com palavras, partilhando a vida para gerar mais vida.
Esta dinâmica da missão que nasce do Amor Infinito e Incondicional de Deus, que
envia, irradia, expande, dilata, transborda e se difunde, alcança as pessoas e as convida à
Sua intimidade, ao Seu seguimento e à Sua colaboração. Todos são envolvidos neste
movimento de Amor que é recebido, vivido e compartilhado. E cada um o faz a seu
modo, seguindo sua vocão e estado de vida.
Quando este artigo comava a ser escrito, ts personagens foram recordados:
o Francisco Xavier, Santa Teresinha do Menino Jesus e a Venevel Pauline Jaricot.
Sem dúvida alguma, todos os três fizeram a mesma e única experncia, própria de uma
honesta espiritualidade cris e missionária: desde um encontro com Jesus, a decio de
empreender um caminho de discipulado, cuja abertura ao Espírito configurasse o fiel a
Nosso Senhor e por fim, ocorresse o envio. Mas cada um dos apenas citados, foi
missionando a seu modo, segundo o próprio estado de vida que abrou. Todos, no
19 FRANCISCO, Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2015. Acesso em: www.vatican.va/content/francesco/pt/
messages/missions/documents/papa-francesco_20150524_giornata-missionaria2015.html
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entanto, missiorios... porém cada um a seu modo!
Assim, podemos ver o Francisco Xavier doando a sua vida em fronteiras
geogficas e existenciais no território asiático; e encontramos Santa Teresinha
enclausurando-se num Carmelo e oferecendo suas orões pela Igreja Missioria; por
fim, vemos outra jovem francesa, Pauline Jaricot, reunindo suas amigas para rezarem,
oferecerem sacricios e recolherem doões para os missiorios em terras distantes.
Assim, a vida doada, as orações feitas e as doações entregues o três formas diferentes
de colaboração missioria que expressam, por sua vez, a única e mesma identidade
missioria.
Conclui-se, portanto, que é permanecendo no Amor do Senhor (cf. Jo 15,9) que
se produzem os diversos e numerosos frutos missionários. E foi o que disse Jesus,
afirmando que quem c em mim. Conforme diz a Escritura: do seu interior fluio
rios de água viva (Jo 7,38). E Ele ainda completa: quem c em mim, fa as obras que
eu fo, e fa ainda maiores do que estas (Jo 14,12).
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