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E
DITORIAL
Rogério L. Zanini*
Organizador
É com satisfação e alegria que apresentamos a edição da revista
Teopráxis denominada: Espiritualidade, Compromisso e Missão. Tema
pertinente e necessário em tempos que as compreensões da
espiritualidade se proliferam e ganham os diferentes rumos, mas nem
sempre manifestando fidelidade ao Espírito do crucificado-
ressuscitado. Como lembra o Papa Francisco: a católica de muitos
povos encontra-se hoje perante o desafio da proliferação de novos
movimentos religiosos, alguns tendentes ao fundamentalismo e outros
que parecem propor uma espiritualidade sem Deus (EG 63). Para tal
fenômeno, Papa Francisco, indica duas causas. Uma, trata-se do
resultado duma reação humana contra a sociedade materialista,
consumista e individualista. A outra, fruto de um aproveitamento das
carências da população que vive nas periferias e zonas pobres (EG 63).
Muito próximo, ou mesmo como consequência imediata da distorção
da espiritualidade, está o esfriamento do compromisso e da missão
cristã. É o próprio Papa que faz este reconhecimento: quando mais
precisamos dum dinamismo missionário que leve sal e luz ao mundo,
muitos leigos temem que alguém os convide a realizar alguma tarefa
apostólica e procuram fugir de qualquer compromisso que lhes possa
roubar o tempo livre (EG 81). É no caldo destas questões que se
debruçam os textos desta edição da revista Teopráxis.
A seção abre com o artigo: Espiritualidade cristã e compromisso
social: Um desaio de amor. Os autores Dom Sílvio Guterres Dutra,
padre Elisandro Guindani e o seminarista Renan Paloschi Zanandréa
da Diocese de Vacaria, se debruçam em compreender e defender que a
espiritualidade cristã sempre esteve vinculada com o cuidado da vida.
Desde os primórdios, partindo da vida de Jesus até os nossos tempos, a
compreensão evangélica é de cuidado total com a vida. Contudo, foi
com Leão XIII, no século XIX, que o Magistério da Igreja publicou o
primeiro documento de cunho social. Os autores destacam que a Igreja
na América Latina também contribuiu para a reflexão. Concluem,
afirmando que é preciso colocar em prática os princípios evangélicos.
O Bispo da Diocese de Caçador, Dom Cleocir Bonetti,
recentemente ordenado, e o diácono Leonardo Fávero, da Diocese de
Erechim, refletem sobre os fundamentos para uma espiritualidade
sacerdotal à luz do magistério recente da Igreja. O artigo tem por objetivo
investigar em alguns dos principais documentos do Magistério pós
Concílio Vaticano II sobre a espiritualidade sacerdotal, juntamente
com algumas manifestações dos Papas João Paulo II, Bento XVI e
Francisco. Finalizam afirmando que o sacerdote precisa mostrar
profundo amor pela Igreja, viver com alegria a pertença eclesial,
testemunhando com a vida a comunhão com o Papa, os bispos, com o
presbitério e com todos os fiéis leigos.
v. 38, n. 131, Passo Fundo,
p. 4-6, Jul./Dez./2021,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v38i131.69
* Doutor e mestre em Teologia pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul,
PUCRS, especialista em Metodologia Pastoral
pela Universidade Regional Integrada do Alto
Uruguai e das Missões - URI. Graduado em
Teologia pelo Instituto de Teologia e Pastoral
(
Itepa) e em História pela Universidade do
Oeste de Santa Catarina - UNOESC.
Professor do Instituto de Teologia e Pastoral
(Itepa).
E-mail: zaninipastoral@hotmail.com
http://orcid.org/0000-0001-8771-37991
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O biblista Isidoro Mazzarolo investiga Paulo e a integração: cultura, religião, corporalidade e
espiritualidade. Destaca que Paulo é um homem versátil, aberto e decidido em tudo o que diz e
faz. Ele pode ser definido como teólogo, filósofo, político e místico. O autor se propõe a
percorrer alguns tópicos de reflexão em torno da importância do pensamento de São Paulo
como contributos concretos para a integração da espiritualidade e da sociedade.
Seguindo nosso percurso, o professor Ivanir Antonio Rampon, escreve: Francisco de
Assis, a paz vem do beijo na face do irmão leproso. Debruçando-se sobre a teologia narrativa,
faz uma leitura histórico-crítica da vida de Francisco. Sem preocupar-se com as exegeses
das fontes franciscanas, narra, brevemente, como surgiu e como se desenvolveu a opção
pelos pobres na vida de Francisco e como ele viveu a espiritualidade do seguimento a Jesus
Cristo, na conformidade com os pobres. Finaliza, afirmando que Francisco de Assis escutou
a voz de Deus, escutou a voz dos pobres, escutou a voz do enfermo, escutou a voz da
natureza. E transformou tudo isso num estilo de vida.
Daniel Luz Rocchetti, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação
Missionária da CNBB, brinda-nos com o texto: O Permanecer no Amor (cf. Jo 15,9) para ser
missão: A autêntica espiritualidade cristã é elemento imprescindível para a identidade missionária
da Igreja e de cada iel cristão. O texto parte da reflexão missiológica atual, que apresenta o
conceito de missão proveniente do seio do próprio Deus cristão e passa em relevo os
documentos missionários do Magistério Pontifício recente e alguns documentos
missionários da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Neste itinerário investigativo,
Rochetti realça a importância de permanecer no amor de Deus. Conclui, afirmando que é
necessário permanecer no Amor do Senhor (Jo 15,9) para se produzir os diversos e
numerosos frutos missionários.
A santidade laical à luz da Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate: uma santidade
ordinária, simples e para todos é o artigo da doutora, mãe e leiga Vitoria Bertaso Andreatta De
Carli. Partindo do significado da santidade para o fiel cristão leigo, identifica alguns dos
principais traços da santidade que os fiéis cristãos leigos à luz da Exortação Apostólica
Gaudete et Exsultate são chamados a viver no mundo atual. Termina sua reflexão com as
palavras do Papa: o caminho da santidade é para todos e que não tenhamos medo de andar
por ele, despertando de fato o desejo da santidade e de compartilharmos uma felicidade que
o mundo não poderá tirar-nos (GE 177).
Mística e missão de acompanhadores: testemunhas do pertencimento à comunidade de é, é o
texto que investiga os elementos do magistério do Papa Francisco para a atuação do
catequista acompanhador, tendo como referência a vida em comunidade. Artigo de três
mãos, Ariél Philippi Machado, Clelia Peretti e Noêmia Fátima Lopes da Silva Debastiani
apresentam a convicção do caminho da continuidade e da criatividade que o Espírito é capaz
de despertar na evangelização através do processo de Iniciação à vida Cristã. Para eles, o
ministério do acompanhamento é antigo, se pensarmos nas primeiras comunidades que
tinham o costume de ouvir o ensinamento dos apóstolos, partir o pão e socorrer as
necessidades dos empobrecidos (At 2,42-47; 4,32-35; 5,11-16).
Mari Teresinha Maule, com seu texto: Cuidado, partilha, resiliência: princípio da
igualdade e a violência de gênero, tensiona a perspectiva da igualdade de gênero presente
inclusive no artigo 5º, da Constituição Federal de 1988. Este princípio traz em seu bojo a
interpretação que, pessoas colocadas em situações de vulnerabilidade diferentes, sejam
tratadas de forma desigual. Partindo deste princípio constitucional, e utilizando-se do
método da revisão bibliográfica, investida como se apresentam as relações interpessoais de
gênero na sociedade, expondo o projeto chamado circu(LAR), como experiência inovadora
na superação de realidades de violência.
ZANINI, Rogério L.
Editorial
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p. 4-6, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.
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Leitura bíblica sob a ótica da mulher: espiritualidade e empoderamento das mulheres é a
contribuição que Simone Furquim Guimarães e Luísa de Lucas trazem para a discussão.
Assumem o desafio de refletir sobre a experiência de um curso com a temática Mulheres na
Bíblia no Primeiro Testamento, organizado e realizado pela Itepa Faculdades, através da
plataforma Google meet. O texto partilha impressões constatadas através das manifestações,
depoimentos e escritos das mulheres envolvidas no curso, o progressivo processo de
empoderamento pessoal e comunitário. Terminam dizendo: reafirmamos nossa fidelidade
a Deus que através da Palavra se fez carne segundo as Escrituras para salvar/libertar todas
as pessoas que estão nas periferias, no ocultamente, sem palavra, excluídas da sociedade e
que na sua grande maioria, são mulheres sem voz e sem vez.
O cimo e último artigo reflete: A espiritualidade no cristianismo: a essência do ser das
autoras Luciana Carmona Garcia e Aline Eloisa Da Silva. A espiritualidade é inerente ao ser
humano. O termo surgiu no período renascentista no século XV, baseado em algumas
ideias de Platão, filósofo do século IV a.C., que postulava sobre o dualismo corpo-alma, em
que a alma estaria aprisionada pelo corpo. Nos textos bíblicos do Novo Testamento, Paulo
exorta a comunidade de Coríntios a reconhecer que são templos do Espírito de Deus, que
habita toda criatura. As autoras declaram que o artigo visa contribuir com as pesquisas
relacionadas à temática, trazendo apontamentos sobre a importância e os benefícios que
uma vivência espiritual a partir da ótica cristã, pode proporcionar ao ser humano. Finalizam
afirmando que a espiritualidade é nuclear ao cristianismo, uma vez que, por meio da
presença do Espírito Santo, o ser humano é capacitado para o Bem e para toda Boa Obra,
como a justiça social, a solidariedade, o exercício da cidadania e o amor.
Almejamos que todos e todas que tenham acesso a estes textos encontram substancial
aprofundamentos, em especial para que juntos possamos crescer na espiritualidade do
seguimento, no compromisso com a causa dos pobres e na missão de fecundar comunidades cristãs
consequentes com os valores do Reino de Deus e sua justiça, como exigência do Evangelho
(Mt 6,33). Fica a provocação do Papa Francisco: perante as várias formas atuais de eliminar
ou ignorar os outros, sejamos capazes de reagir com um novo sonho de fraternidade e
amizade social que não se limite a palavras (FT 6).
ZANINI, Rogério L.
Editorial
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.38, n.131, p. 4-6, Jul./Dez./2021. ISSN on-line: 2763-5201.