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Revista Teopráxis, Passo Fundo, vol.37, n.129, Jul./Dez./2020, ISSN: 2763-5201
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que fica bem apenas “a portas fechadas”. Porque há uma Igreja
que sempre esteve “de portas fechadas” mesmo quando as portas
estavam bem abertas. Uma Igreja que ficou fechada em
condutas antigas, em palavras antigas, em fórmulas antigas. E
justamente agora ela se vê melhor porque realiza, plenamente, a
si mesma, graças à epidemia. E também realiza isso com uma
ingenuidade simples e, às vezes, com uma arrogância sem
pudor.
Mas não há só isso. Há, também, e bem viva, uma Igreja que
precisa urgentemente recuperar os grandes discursos, que a
oficialidade eclesial teve a força de fazer abertamente e
solenemente há 60 anos atrás e que hoje parece tão confusa
quando tem que repeti-los de forma credível. Há, porém,
aqueles que o sabem fazer. E se encontra justamente naquele
ponto alto da pirâmide que está de forma invertida
3
.
Precisamente por causa dessa condição invertida, muito antes da
atual pandemia que desertifica o mundo, mesmo quando o Papa
Franciso ainda saía no meio da multidão festiva, numa Praça de
São Pedro aberta, ele já havia aparecido gigantemente sozinho,
buscando viver numa igreja de portas abertas, mesmo que ela
preferisse continuar de portas fechadas. É aquela mesma Igreja
que se revitaliza hoje, que se permite fazer sem o povo, se
permite o substituir em tudo, por meio de um carimbaço ou de
um decreto. Se tivermos a paciência para ler os discursos
escritos nas últimas semanas por muitos dos que estão em
contatos próximos com esta cúpula da pirâmide de forma
3 Segundo o teólogo Andrea Grillo, a forma invertida quer significar que quanto
maior e mais alto grau é o ministério, tanto mais na base deve estar. Ele entende
que todo o ministério deve ser colocado a serviço. O verdadeiro ministério,
principalmente o do alto da pirâmide, deve estar embaixo, na base. Por isso usa a
expressão pirâmide invertida (rovesciata), literalmente virada, de cabeça para
baixo. É uma inspiração do Papa Francisco que insistentemente pede uma Igreja
de comunhão, do serviço, da sinodalidade. De cabeça para baixo significa que o
vértice se encontra abaixo da base e desta obtém a sua autoridade, uma autoridade
que se coloca a serviço.