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CHRISTUS VIVIT
novidades na evangelização da juventude
CHRISTUS VIVIT
news in the evangelization of youth
Luis Duarte Vieira*
Diego Isotton**
Resumo: A mudança de época tem colocado à Igreja vários desafios para a
evangelização, exigindo da mesma um movimento de ruptura com a
pastoral de manutenção para ser uma Igreja em Saída, com renovado ardor
missionário e profético. Cresce a consciência de que é preciso encontrar
caminhos para que a Boa-Nova seja comunicada às pessoas hoje e que a
Civilização do Amor seja plenamente realidade. A Pastoral Juvenil também
é chamada a inserir-se nesse processo de ser e construir uma Igreja em
saída, pobre e para os pobres. E é nesse contexto que o Papa Francisco
escreveu a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit, publicada em 2019.
O presente artigo, mediante pesquisa bibliográfica, teve como objetivo
analisar as novidades que a Christus Vivit apresenta para a Evangelização da
Juventude. A análise das orientações pastorais contidas na Exortação
permitiu identificar algumas novidades no campo da Evangelização da
Juventude e, dentre elas, é possível citar o reconhecimento da juventude
como realidade teológica, o ser pastoral juvenil popular e o ser uma
pastoral sinodal. Essas novidades dialogam com o universo educacional,
quando se analisa este em sua relação com as juventudes.
Palavras-Chave: Juventude. Evangelização. Christus Vivit.
Abstract: The change of epoch has posed to the Church several challenges
of evangelization, demanding from it a movement of rupture, with the
maintenance pastoral to be an outgoing Church, with animated and
prophetic renewer. It grows the awareness that is necessary to find ways
for the Good News to be communicated to people today and that the
Civilization of Love is fully reality. Youth Ministry is also called to be part
of this process of being and building an outgoing Church, poor and for the
poor ones. And it is in this context that Pope Francis wrote the Post-
Synodal Apostolic Exhortation Christus Vivit, published in 2019. This article,
through bibliographic research, aimed to analyze the novelties that Christus
Vivit presents for the Evangelization of Youth. The analysis of pastoral
guidelines contained in the Exhortation allows to identify some novelties
in the field of Youth Evangelization, and, among them, it is possible to
mention the recognition of youth as theological reality, being a popular
youth ministry and being a synodal ministry. These novelties dialogue with
the educational universe, when it is analyzed in its relationship with youths.
Keywords: Youth. Evangelization. Christus Vivit.
v. 39, n. 132, Passo Fundo,
p. 81-88, Jan./Jun./2022,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v39i132.75
* Doutorando em Ensino de Ciências e
Matemática pelo Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências e
Matemática da Universidade de Passo Fundo
- UPF. Mestre em Ensino de Ciências e
Matemática pela mesma instituição (2020).
Possui graduação em Matemática pela
Universidade Estadual de Goiás (2016).
E-mail: duarteluis05@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-9153-7393
** Licenciado em Filosofia Universidade
Federal da Fronteira Sul e Bacharel em
Teologia Itepa Faculdades. Vigário
Paroquial, Paróquia Santa Inês, Diocese de
Chapecó - SC.
E-mail: diego_isotton@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0001-6603-0171
Recebido em 23/01/2022
Aprovado em 14/04/2022
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INTRODUÇÃO
O mundo mudou radicalmente nos últimos anos, fruto de diferentes, diversos,
desiguais e complexos processos. Assim sendo, aquele modo de compreender o mundo, a
religião, a família, a educação, a sociedade, a política, a escola, a Igreja e as relações também
mudou drasticamente. O Documento de Aparecida, em 2007, falava de uma mudaa de
época: “vivemos uma mudança de época, e seu nível mais profundo é o cultural. Dissolve-se a
concepção integral do ser humano, sua relação com o mundo e com Deus” (DAp 44).
Todo esse processo de mudança de época, afeta a vida da Igreja. Os bispos reunidos
na Conferência de Aparecida assim afirmavam:
No fiel cumprimento de sua vocação batismal, o discípulo deve levar em
consideração os desafios que o mundo de hoje apresenta à Igreja de Jesus, entre
outros: o êxodo de fiéis para seitas e outros grupos religiosos; as correntes
culturais contrárias a Cristo e à Igreja; a desmotivação de sacerdotes frente ao
vasto trabalho pastoral; a escassez de sacerdotes em muitos lugares; a mudança
de paradigmas culturais; o fenômeno da globalização e a secularização; os graves
problemas de violência, pobreza e injustiça; a crescente cultura da morte que
afeta a vida em todas as suas formas (DAp 185).
É fato que a mudança de época tem colocado à Igreja vários desafios para a
evangelização, exigindo da mesma um movimento de ruptura com a pastoral de manutenção
para ser uma Igreja em Saída, com renovado ardor missionário e profético. Cresce a
consciência, nesse contexto, de que é preciso encontrar caminhos para que a Boa-Nova seja
comunicada às pessoas hoje e que a Civilização do Amor seja plenamente realidade.
Essas mudanças que se processaram e processam constantemente no mundo e que
desafiam a Igreja, também afetam os jovens e afetam igualmente os processos educativos.
O próprio processo do Sínodo sobre “Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”,
realizado em 2018, apontou diversos aspectos da realidade que os jovens vivem e como
essas mudanças todas afetam a vida dos mesmos.
E é nesse contexto que o Papa Francisco escreveu a Exortação Apostólica Pós-
Sinodal Christus Vivit, publicada em 2019. O presente artigo, mediante pesquisa
bibliográfica, teve como objetivo analisar as novidades que a Christus Vivit apresenta para a
Evangelização da Juventude.
1 EXORTAÇÃO APOSTÓLICA CHRISTUS VIVIT
A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit é um documento pontifício,
escrito pelo Papa Francisco aos Jovens e a todo o povo de Deus, a partir das reflexões
Sínodo sobre “Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”, realizado em 2018. É o
terceiro documento desenvolvido no processo sinodal. O primeiro elaborado foi o
Instrumentum Laboris, que reúne as escutas dos jovens feito no período preparatório, o
segundo foi o Documento Final com as conclusões da XV Assembleia Ordinária do Sínodo
dos Bispos. Sobre a Christus Vivit o Papa Francisco descreve:
Escrevo a todos os jovens cristãos com carinho esta Exortação apostólica, isto é,
uma carta que recorda algumas convicções de nossa e que ao mesmo tempo
nos encoraja a crescer em santidade e no compromisso com a própria vocação.
Mas como se trata de um marco dentro de um caminho sinodal, dirijo-me ao
mesmo tempo a todo o povo de Deus, a seus pastores e fiéis, porque a reflexão
sobre os jovens e para os jovens convoca e estimula a todos nós. Por isso, em
alguns parágrafos falarei diretamente para os jovens e em outros oferecerei
abordagens mais gerais para o discernimento eclesial (ChV 3).
VIEIRA, Luis Duarte; ISOTTON, Diego
Christus Vivit: novidades na evangelizão da juventude
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.132, p.81-88, Jan./Jun./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
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Francisco comenta e aprofunda os conteúdos da XV Assembleia Geral Ordinária do
Sínodo dos Bispos. Na Exortação, apresenta a sua leitura do Sínodo, depois de ouvir
atentamente os jovens e os padres Sinodais. Francisco se dirige a cada jovem com um
fraterno apreço, falando-lhe ao coração, também se dirige à Igreja e às pessoas de boa
vontade, visto que “a reflexão sobre os jovens e para os jovens convoca e estimula a todos
nós” (ChV 3) As motivações de Francisco em escrever a exortação advém de todo processo
sinodal, e alerta que algumas propostas, devem ser consultadas nos documentos anteriores.
Logo, para Francisco, todos os documentos produzidos e todo o processo Sinodal têm seu
valor, a fala dos jovens, sejam eles católicos ou o, foram valorizadas e acolhidas pelo
Papa. Segundo o Papa Francisco:
Deixei-me inspirar pela riqueza das reflexões e dos diálogos do nodo do ano
passado. Não poderei recolher aqui todas as contribuições que vocês poderão
ler no Documento Final, mas tratei de assumir na redação desta carta as
propostas que pareceram mais significativas para mim. Deste modo, minha
palavra está carregada de milhares de vozes de fiéis de todo o mundo que
fizeram chegar suas opiniões para o Sínodo. Mesmo os jovens não fiéis, que
quiseram participar com suas reflexões, propuseram questões que me
apresentaram novas perguntas. (ChV 4).
O Papa promoveu, por meio do Sínodo, um amplo caminho de diálogo, o com
os jovens católicos, mas com todos os jovens, independentemente de sua crença.
Procurou-se ouvir também os não crentes. Todos os jovens puderam ter vez e voz em
algum momento do processo sinodal. Aqui uma inspiração para uma educação que
deseja ser integral: dar vez e voz aos sujeitos que participam dos processos educativos.
Francisco coloca em destaque um jeito sinodal de ser Igreja e propõe esse método para
toda a Igreja universal adotar junto à Pastoral Juvenil e nos processos educativos que
efetiva. Na Christus Vivit Francisco aponta a Pastoral Sinodal como um dos horizontes a
serem adotados a partir de agora na evangelização da juventude. O processo sinodal do
Sínodo sobre os Jovens representou como é possível desenvolver a sinodalidade com os
jovens, para isso, é preciso que a Igreja em todas suas instâncias promova a escuta e o
diálogo com os jovens, possa acolher e ir ao encontro dos mesmos, confiar no seu
protagonismo e acompanhá-los com ternura e misericórdia. A vivência educacional pode,
inclusive, ser uma vivência educacional.
A Christus Vivit possui nove capítulos nos quais o Papa Francisco reflete e convida os
jovens a refletir. Segue os capítulos da exortação (2019):
1. O que a palavra de Deus diz sobre os jovens?
2. Jesus Cristo sempre jovem
3. Vocês são o agora de Deus
4. O grande anúncio para todos os jovens
5. Caminhos de Juventude
6. Jovens com Raízes
7. A Pastoral dos Jovens
8. A vocação
9. O discernimento
Sinteticamente, a exortação percorre um caminho que passa pela Palavra de Deus,
dialoga sobre a realidade juvenil, aponta diretrizes e possibilidades pastorais e reflete sobre
a vocação e o discernimento vocacional, sempre no horizonte de gerar vida aos jovens,
pois, como afirma Francisco: Cristo “vive e quer-te vivo!” (ChV 1).
VIEIRA, Luis Duarte; ISOTTON, Diego
Christus Vivit: novidades na evangelizão da juventude
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.132, p.81-88, Jan./Jun./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
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2 A IGREJA E OS JOVENS: REFLEXÕES DA EXORTAÇÃO
A Igreja tem plena ciência que quem é jovem hoje, vive a própria condição neste
mundo, diferente das gerações dos seus pais e educadores. Essa consciência precisa
existir nas instituições educativas: os jovens de hoje não são os mesmos jovens do
passado e nem do futuro.
Os jovens sentem a necessidade de figuras de referências próximas, credíveis,
coerentes e honestas, bem como lugares favoráveis para a vivência e integração com as
pessoas e seus coetâneos
1
.
Nesse caso entra a Igreja, como um ambiente para os jovens matarem sua sede de
convivência e relações. Mas nem sempre os espaços eclesiais são receptivos com os jovens,
pelo contrário, não são poucos casos que os condenam e não possuem a paciência de
adentrar em suas vidas e acompanhar os seus processos de vida que muitas vezes diferem
com aqueles constituído pelos católicos participantes.
Nesse sentido, a Igreja instituição passa a ser olhada pelos jovens com ressalvas, com
desconfiança e até indignação diante de posturas de julgamento, perseguição, abusos,
contratestemunho e corrupção. Os jovens não deixam de se aproximar de Jesus, mas se
desencantam com aqueles que anunciam Jesus, visto, estes, o conformarem suas vidas
com aquilo que pregam (ChV 40).
Mesmo diante do contratestemunho de alguns integrantes da Igreja, a Igreja confia,
sem reservas que ainda é o ambiente saudável para o crescimento pessoal e espiritual de
cada jovem, em vista da vida em plenitude que cada um é chamado a viver. Paulo VI na
Mensagem do Concílio Vaticano II aos jovens disse que a Igreja possui: “aquilo que faz a
força e a beleza dos jovens: a capacidade de alegrar-se por aquilo que começa, de doar-se
sem reservas, de renovar-se e de novamente partir para novas conquistas”
2
. Assim, a Igreja
possui as riquezas da sua tradição espiritual que continua sendo um recurso infalível e um
auxílio no acompanhamento da maturidade da consciência dos jovens em vista de uma
opção vocacional autêntica e livre
3
.
Os jovens durante o processo sinodal reconheceram e ressaltaram a importância e o
valor dos clérigos, religiosos e religiosas, lideranças que os acompanham e que oferecem seu
tempo, suas vidas e recursos nanceiros para acompanhá-los (ChV 99). Assim, no Sínodo a
Igreja reconhece os seus erros diante dos jovens, pede desculpas, evidencia que não é esse o
seu caráter e pergunta aos jovens como desenvolver uma pastoral juvenil coerente:
a Igreja decidiu perguntar-se sobre como acompanhar os jovens para
reconhecer e acolher o chamado ao amor e à vida em plenitude, e também para
pedir aos próprios jovens para ajudá-los a identificar as modalidades hoje, mais
eficazes para anunciar a Boa Nova. Por meio dos jovens, a Igreja poderá
perceber a voz do Senhor que ressoa também hoje
4
.
Nesse sentido, para o Sínodo dos Jovens, a Igreja anuncia e reitera a sua missão
diante dos jovens que é: “o desejo de encontrar, acompanhar e cuidar de cada jovem, sem
exceção. Não podemos nem queremos abandoná-los à solidão e às exclusões às quais o
mundo lhes expõe”
5
. A Igreja não pode ter as mesmas atitudes da cultura do descarte e da
1 SÍNODO DOS BISPOS, Documento preparatório (com questionário anexo) com Carta do Papa Francisco aos Jovens p.21.
2 Papa PAULO VI, Mensagem do Papa Paulo VI na conclusão do Concílio Vaticano II aos Jovens 1965. Disponível em: <http://
www.vatican.va/content/paulvi/pt/speeches/1965/documents/hf_p-vi_spe_19651208_epilogo-concilio-
giovani.html>. Acesso em 02nov2020.
3 SÍNODO DOS BISPOS, Documento preparatório (com questionário anexo) com Carta do Papa Francisco aos Jovens, p.14.
4 NODO DOS BISPOS, Documento preparatório (com questionário anexo) com Carta do Papa Francisco aos Jovens, p.13.
5 NODO DOS BISPOS, Documento preparatório (com questionário anexo) com Carta do Papa Francisco aos Jovens, p.27.
VIEIRA, Luis Duarte; ISOTTON, Diego
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indiferença, pelo contrário, deve ser a casa da ternura e da misericórdia, para que a alegria
na vida dos jovens seja completa. Este mesmo convite é feito às instituições educativas:
serem espaços que contribuem com os projetos de vida dos/as jovens e lhes permitam
encontrar sentidos.
3 A PASTORAL JUVENIL
A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit convida à reflexão, mas também à ação.
Por isso, propõe orientações e diretrizes para a Pastoral Juvenil no mundo. O capítulo sete da
Christus Vivit denominado “A Pastoral dos Jovens” reúne oito indicativos ou reflexões feitas
pelo Papa para serem levadas em questão na organização da Pastoral Juvenil nas Igrejas
Particulares. Esses indicativos necessariamente não são puramente uma novidade para
algumas realidades eclesiais, para algumas Igrejas Particulares sim, para outras não.
O Sínodo congregou várias experiências de evangelização da juventude de toda a
Igreja e os documentos do Sínodo reuniu as diversas e exitosas experiências e vivências de
evangelização juvenil espalhadas pelo mundo. Assim uma das contribuições da Christus
Vivit é apresentar iniciativas pastorais que estão dando resultados na evangelização da
juventude neste tempo histórico de mudança de época. Outros elementos, o Papa
Francisco recuperou da história da Igreja e os acentuou.
A Christus Vivit apresenta indicativos pastorais, mas salienta que estes não o
receitas prontas a serem aplicadas de forma literal em cada diocese (ChV 65). De imediato,
percebe-se que o Papa não tem interesse de apresentar uma ideia fechada. O próprio Papa
Francisco salienta: “Exorto as comunidades a realizarem com respeito e com seriedade um
exame de sua própria realidade juvenil mais próxima para poder discernir os caminhos
pastorais mais adequados” (ChV 103). Cada realidade eclesial deverá conhecer o público
jovem de suas cercanias e desenvolver uma ação pastoral de acordo com esse grupo. O
mesmo convite e desafio pode e precisa ser feito às Instituições Educativas: conhecer a
realidade juvenil dos jovens que dela participam e a partir dessa realidade realizar o
planejamento de sua ação educativa.
Mesmo o Papa dirigindo algumas palavras sobre a Pastoral dos Jovens, no capítulo
sétimo, a Exortação não elimina o que cada um, em seu respectivo espaço e situação
eclesial, deve fazer. A Christus Vivit não fecha a reflexão sobre os jovens, ela exorta para
acontecerem outras, de modo sinodal, em cada realidade. Havendo uma aprofundada
análise do mundo juvenil, em cada território, favorecerá preparar linhas pastorais mais
adequadas. Dessa forma, a Exortação indica um modo de fazer pastoral, aquele refletido
localmente, não propõe uma unicidade universal homogeneizante da Pastoral Juvenil.
É importante ressaltar que ao tratamos da Pastoral Juvenil, estamos falando de uma
pastoral que visa encontrar o Cristo no jovem. Ele mora na localidade onde os jovens se
encontram, vivem e se socializam. Ou seja, encontrar o jovem em todos os espaços, não
somente na Igreja, ou nos locais considerados “santos para estar-se com os jovens”. O
encontro com o Jesus, ou o anúncio e o testemunho Dele, pode ser na mesa de um bar, em
uma boca de fumo, em uma escola. Nesses lugares os jovens também se encontram e
precisam experimentar a alegria completa oriunda de Deus.
Portanto: “A Pastoral Juvenil, tal como estávamos acostumados a levá-la adiante,
sofreu embate das mudanças sociais e culturais. Os jovens, nas estruturas atuais, muitas vezes
não encontram respostas para suas inquietações, necessidades, problemáticas e feridas” (ChV
202). A Igreja deve ser presença nos espaços onde os jovens se encontram, ser receptiva a
todos os jovens, não só aqueles que estão no redil, ou dentro de suas cercanias geográficas, é
VIEIRA, Luis Duarte; ISOTTON, Diego
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preciso a coragem evangélica de romper com todas as iniciativas seletivas e excludentes, é
preciso ouvir as inquietações dos jovens e colocá-las como pauta pastoral.
4 METODOLOGIA
Para refletir sobre as novidades da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Christus Vivit para
a evangelização da juventude realizou-se uma pesquisa qualitativa e bibliográfica. Para Gil
a este tipo de trabalho “é desenvolvido com base em material elaborado, constituído
principalmente de livros e artigos científicos”
6
.
Nesse contexto de pesquisa, tomou-se como referência os documentos de todo o
processo sinodal que refletiu sobre “Os Jovens, a Fé e o Discernimento Vocacional”.
5 RESULTADOS
Ao analisar a exortação em busca de novidades para a Evangelização da Juventude,
foi possível identificar alguns elementos, mas destacam-se três: o reconhecimento da juventude
como realidade teológica, o ser Pastoral Juvenil Sinodal e o ser Pastoral Juvenil Popular.
Ao propor os indicativos pastorais, Francisco pede que cada Igreja particular analise
se a Pastoral Juvenil que desenvolve está dentro do seu tempo. Caso as ações o atendem
mais as demandas, precisa ser encerrada e dar abertura aos novos horizontes, por meio da
sinodalidade, diálogo, escuta, acolhida, protagonismo, acompanhamento, anúncio e
testemunho. Se antes pensava-se uma pastoral para os jovens, a Christus Vivit pede para
ser, para, com e pelos jovens. Os jovens o são os receptáculos da evangelização, pelo
contrário, são os agentes promotores do Anúncio. Eles são os evangelizadores dos seus
coetâneos, no trabalho, na escola, na universidade, na balada, nas atividades esportivas, nas
iniciativas caritativas e solidárias, nas lutas em prol da ecologia e dos direitos humanos etc.
Diante disso, é preciso desenvolver uma Pastoral Juvenil Sinodal, que confia na
capacidade dos jovens serem os agentes da pastoral da evangelização da juventude.
“Existem jovens que sabem discernir os sinais do nosso tempo que o Espírito aponta.
Ouvindo as suas aspirações podemos vislumbrar o mundo de amanhã que vem ao nosso
encontro e os caminhos que a Igreja é chamada a percorrer”
7
. Por muito tempo a Pastoral
Juvenil no mundo não contou com a presença ativa dos jovens na evangelização voltada a
eles mesmos. Agora o Papa pede para a Igreja, sem demora, rever suas metodologias e
lançar-se a novas estratégias no Espírito de caminhar juntos, respeitando a tradição e os
carismas oferecidos pelo Espírito Santo aos jovens.
Essa atitude é aquela, descrita pelos Bispos Sinodais no Documento Final (DF)
vivenciada no Sínodo: “caminhamos juntos e colocando-nos à escuta da voz do
Espírito” (DF 1). “Caminhamos juntos, com o sucessor de Pedro, que nos confirmou na fé e
nos fortaleceu o entusiasmo...” (DF 1). Assim, a Pastoral Sinodal, em última instância, é
caminhar juntos, sem excluir ninguém jovens, idosos, adultos, crianças, religiosas,
religiosos, leigos, padres e bispos, no mesmo itinerário, com o mesmo compasso.
Ninguém à frente nem atrás, nem cima nem embaixo, nem perto demais nem distante;
mas juntos, na mesma sintonia, em espírito comunitário. Cada um contribuindo com seu
dom, virtudes e carismas.
A Igreja reconheceu a novidade de ter a juventude no centro do debate pastoral e
ainda mais, tendo os jovens como interlocutores do processo, lado a lado com os padres
6 Antonio Carlos GIL, Como elaborar projetos de pesquisa, p. 44.
7 NODO DOS BISPOS, Documento preparatório (com questionário anexo) com Carta do Papa Francisco aos Jovens, p.13.
VIEIRA, Luis Duarte; ISOTTON, Diego
Christus Vivit: novidades na evangelizão da juventude
Revista Teopráxis,
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sinodais. Toda essa iniciativa é um grande sinal de reconhecer a graça batismal de todos os
fiéis, sem excluir ninguém, sem menosprezar a contribuição do batizado mais jovem. Nas
palavras dos Bispos:
A presença dos jovens representou uma novidade: por meio deles, a voz de toda
uma geração ressoou no Sínodo. Caminhando com eles, peregrinos ao túmulo
de Pedro, experimentamos que a proximidade cria as condições para que a
Igreja seja um espaço de diálogo e testemunho de fraternidade que fascina. A
força dessa experiência supera toda dificuldade e fraqueza (DF 1).
Esse desafio da sinodalidade também é posto à educação. Nossas instituições
educacionais precisam ser sinodais, ou seja, precisam caminhar junto com os jovens,
construindo com eles o percurso formativo.
Além de ser sinodal, segundo o Papa Francisco, a Pastoral Juvenil precisa ser Popular
(ChV 230). Essa proposta é especialmente instigante porque parte da consideração de que
os ambientes habituais da pastoral (igrejas, centros de juventude, escolas, associações,
movimentos) conseguem atender uma parcela do mundo juvenil e, infelizmente, excluem
outras. Os jovens de outras religiões e os não crentes, e aqueles que muitas situações são
marcadas por dúvidas, traumas ou erros, teriam dificuldades para se integrar na pastoral
ordinária, mas nem por isso têm menos necessidade de encontrar portas abertas e de
serem apoiados para realizar o bem possível.
Uma outra perspectiva de ação para a Pastoral Juvenil é a Pastoral Juvenil Popular.
Através dessa proposta o Papa chama a Igreja à ousadia, instigando-a a sair dos seus
esquemas e reorganizar outros para atender aqueles jovens que não encontram espaço nos
planos pastorais. A Pastoral Juvenil Popular deve atingir os jovens populares sem
ressalvas, ir ao encontro deles e acompanhá-los nos locais onde vivem, se inserindo em
seus contextos, encontrando uma linguagem que estabeleça a comunicação.
A Pastoral Juvenil Popular não se caracteriza em arrebanhar jovens para a Igreja,
pelo contrário é acompanha-os para que estes possam ter a vida em plenitude, pois nem
todos jovens são católicos e isso não deve ser empecilho para acompanhá-los. O Papa
Francisco provoca a Igreja para esta ser coerente na sua evangelização indo a todos os
povos, sem discriminação de classe, religião, cor e cultura. A maioria da população jovem é
pobre e vive em realidade adversas e por estarem nessas condições são considerados
desajustados para a assistência da Pastoral Juvenil e não são evangelizados. O Papa pede o
inverso, todos os jovens devem ser assistidos pela Igreja. Por isso é urgente a Pastoral
Juvenil Popular.
Não haverá uma Pastoral Juvenil Popular sem diálogo com as Instituições
educativas, formais e o formais. Estas instituições, em via de regra, estão em todas as
realidades e encontram jovens que normalmente não estão nos ambientes eclesiais.
A Pastoral Juvenil será sinodal e popular se reconhecer firmemente a juventude
como realidade teológica. O Sínodo e o Papa Francisco o fazem. Francisco convida e
convoca toda a Igreja a esse reconhecimento.
CONCLUSÃO
O mundo passa por constantes mudanças e transformações. A educação igualmente
tem se alterado profundamente. A Igreja em sua missão evangelizadora é afetada por essas
mudanças. A Pastoral Juvenil também. Assim sendo, é preciso coragem e profecia para
avançar e ser sempre mais uma Pastoral Juvenil que reconhecimento o Divino no Jovem é
sinodal e popular. O desafio é grande, mas é o Espírito que guia a missão da Igreja.
VIEIRA, Luis Duarte; ISOTTON, Diego
Christus Vivit: novidades na evangelizão da juventude
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.132, p.81-88, Jan./Jun./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
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REFERÊNCIAS BIBLI OGRÁFICAS
CELAM. Documento de Aparecida: texto conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-
Americano e do Caribe. Brasília: Edições CNBB, 2007.
GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4ªed. São Paulo: Atlas, 2002.
PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Pós-Sinodal do Papa Francisco: Christus Vivit - para os
jovens e para Todo o povo de Deus. Trad. Décio José Walker. Brasília: Edições CNBB, 2019.
PAPA PAULO VI. Mensagem do Papa Paulo VI na conclusão do Concílio Vaticano II aos Jovens
1965. Disponível em: <http://www.vatican.va/content/paulvi/pt/speeches/1965/documents/
hf_p-vi_spe_19651208_epilogo-concilio-giovani.html>. Acesso em 02nov2020.
SÍNODO DOS BISPOS. Documento preparatório (com questionário anexo) com Carta do Papa
Francisco aos Jovens. Trad. D. Hugo C. da S. Cavalcante. Brasília: Edições CNBB, 2017.
SÍNODO DOS BISPOS. Os jovens, a e o discernimento vocacionalDocumento Final (DF). Trad.
João Victor Gonzaga. Brasília: Edições CNBB, 2019.
VIEIRA, Luis Duarte; ISOTTON, Diego
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Passo Fundo, v.39, n.132, p.81-88, Jan./Jun./2022. ISSN On-line: 2763-5201.