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No relatório, apresenta e defende como princípio fundamental, que a Educação deve
ser concebida como um processo dialético para toda a vida, que começa com uma viagem
interior, de autodescoberta, para abrir-se à descoberta do outro como companheiro de
viagem. Para cumprir este processo que é individualizado, mas também social-interativo,
o autor propõe que ela contemple e integre o que ele denomina de os quatro pilares da
educação: 1) aprender a conhecer: a educação precisa oferecer os instrumentos intelectuais
necessários à compreensão do mundo em que vivemos, para que se possa nele mover-se e
viver com dignidade; 2) aprender a fazer: A educação precisa voltar-se à formação
profissional para o mundo do trabalho, buscando desenvolver qualidades como a capacidade
de comunicar-se, de trabalhar com os outros, de gerir e resolver conflitos; 3) aprender a
viver juntos: a educação precisa promover a descoberta progressiva do outro, a partir da
convivência, favorecendo a participação em projetos comuns e 4) aprender a ser: a
educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa, contemplando espírito e
corpo, inteligência e sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade.
Brandão corrobora com esta perspectiva em seus escritos, fazendo crítica às
concepções de uma racionalidade instrumental, simplificadora e redutiva da educação. Em
seu livro “Minha casa, o mundo”, acentua que
A educação não existe pra treinar produtores de bens, mas para formar
criadores de suas próprias vidas e da vida social dos mundos em que vivem (...).
Nós nos educamos, antes de mais nada, para conviver e para ser. Não para o
desenvolvimento econômico, mas para o desenvolvimento humano, ao qual
devem servir todos os outros
8
.
Em “a flauta de Prata – escritos sobre o saber e a educação” anuncia alguns passos entre
caminhos de outra educação
9
, propondo reflexões sobre um ideário de princípios e de valores
voltados a uma educação humanista e humanizadora, transformada e transformadora
A finalidade da educação é essencialmente o desenvolvimento humano e, não, o
desenvolvimento econômico. A Pessoa Humana e não o mercado de trabalho
do mundo dos negócios é o seu destinatário e a razão do seu exercício
10
.
O mesmo autor destaca ainda que a educação deve voltar a ser, em cada pessoa, um
instrumento de criação do presente e do futuro, para que ela possa viver em plenitude, a
cada momento, a felicidade compartilhada, imerso em comunidades de vida. Para a
efetivação desse projeto, precisa desenvolver o senso de corresponsabilidade com o
mundo, capaz de abraçar todas as pessoas em uma vida de partilha da felicidade.
Ele defende que é tempo de reencantar a educação, em consonância com os
paradigmas emergentes nos campos de conhecimentos humanos, sejam os das ciências,
sejam os da própria vida. E, dentre eles, sugere que se considerem os conhecimentos
relacionados à emoção, fonte ordenadora de comportamentos e racionalidades as mais
distintas e fluidas. É na emoção compartilhada que se geram a confiança e o amor. Por fim,
salienta que devemos ousar pensar e praticar uma educação para um projeto de vida, fundado na
criação de culturas de paz, e de partilha amorosa da vida e da felicidade
11
.
Corroborando com tal entendimento, Maturana agrega outros conhecimentos
fundamentais à compreensão do humano e da educação, advindos de suas pesquisas no
campo da biologia. Para ele, assim como todos os animais, os humanos são embalados pelas
8 Carlos R. BRANDÃO, Minha Casa, o mundo, p.117.
9 Carlos R. BRANDÃO, A Flauta de Prata – escritos sobre o saber e a educação, p.153-159.
10 Carlos R. BRANDÃO, Minha Casa, o mundo, p.153.
11 Carlos R. BRANDÃO, A Flauta de Prata – escritos sobre o saber e a educação, p.154.
BEDIN, Silvio Antônio
Ousar Sonhar: Por uma Educação que Promova a Fraternidade
Revista Teopráxis,
Passo Fundo, v.39, n.132, p.47-55, Jan./Jun./2022. ISSN On-line: 2763-5201.