Este artigo está licenciado com a licença: Creative
Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0
International License.
REFLEXÕES SOBRE A
METODOLOGIA CATEQUÉTICA
um caminho de aproximação,
escuta e presença
REFLEXIONS ABOUTTHE
CATECHETICAL METHODOLOGY
a path of approximation,
listening and presence
Maria Aparecida B arboza*
Paulo Cesar Gil**
Resumo: A metodologia catequética parte da pedagogia divina e tem por
princípio a fidelidade à Palavra de Deus e à realidade da experiência
humana. A transmissão da às novas gerações requer uma metodologia
catequética processual. Os desafios do nosso tempo, exigem uma
metodologia no horizonte da Pedagogia da Presença que propõe itinerários e
processos como caminhos de aproximação, encontro com a Pessoa, com a
Palavra de Deus e com a Comunidade. Uma metodologia que vai além do
estabelecer metas e objetivos, mas que considere a realidade dos interlocutores,
as ciências pedagógicas e a psicologia das idades e que favoreça um processo
interativo de amadurecimento na fé, de experiência do encontro com Jesus
Cristo, da pertença comunitária e do compromisso social.
Palavras-chave: Metodologia. Catequese. Escuta. Pedagogia da presença.
Abstract: The catechetical methodology is based on divine pedagogy and
has, as its principles, delity to the Word of God and the reality of human
experience. The transmission of faith to new generations requires a
procedural catechetical methodology. The challenges of our time demand a
methodology that be within the scope of the Pedagogy of Presence, which
proposes itineraries and processes as paths of approximation, encounter
with the person, with the Word of God and with the Community. Such
methodology goes beyond establishing goals and objectives, taking into
account the reality of its interlocutors, the pedagogical sciences and the
psychology of the ages; thus fostering an interactive process of maturation
in, and within, the faith, of experiencing the encounter with Jesus Christ,
of community belonging and of social commitment.
Key-words: Methodology. Catechism. Listening. Pedagogy of Presence.
v. 39, n. 133, Passo Fundo,
p. 19-29, Jul./Dez./2022,
ISSN on-line: 2763-5201
DOI:dx.doi.org/10.52451/teopraxis.v39i133.85
* Religiosa da Congregação das Irmãs do
Imaculado Coração de Maria; Conselheira
geral da Animação Missionária na
Congregação; Mestra em Teologia Bíblia,
especialista em pedagogia-catequética;
doutoranda em Teologia na PUC-RS;
membro do grupo de reflexão bíblico-
catequética (GREBICAT) da CNBB e
coordenadora da Iniciação à Vida Cristã na
arquidiocese de Porto Alegre. Tem
experiência nas áreas: Bíblia, Catequese e
Teologia Pastoral.
E-mail: barboza.icm@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-5025-7486
** Presbítero da Arquidiocese de São Paulo,
formado em Teologia e Pedagogia,
especialista em Psicopedagogia e Terapia
Familiar Sistêmica. Assessor para a
Animação Bíblico-Catequética na
Arquidiocese de São Paulo. Professor
convidado em escolas regionais, diocesanas e
universidades.
E-mail: ppaulogil17@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6072-4818
Recebido em 06/07/2022
Aprovado em 15/08/2022
20
INTRODUÇÃO
Falar da metodologia catequética em tempos de complexidade e de fragmentação
pastoral é colocar-se na dinâmica de uma viagem e percorrer caminhos que possibilitam
revisitar a fonte: a pedagogia divina ou mistério da encarnação. Dessa fonte emana: a
solidez, a garantia e a convicção de que estamos num caminho seguro para os processos e,
quando alicerçados numa raiz profunda, jamais deixam de produzir seus frutos. O
Diretório para a catequese acentua que
o mistério da encarnação inspira a pedagogia catequética, e tem suas implicações
para a metodologia da catequese, que deve ter por referência a Palavra de Deus
e, ao mesmo tempo, assumir as instâncias autênticas da experiência humana.
Trata-se de viver a fidelidade a Deus e às pessoas, a m de evitar qualquer
oposição, ou separação, ou neutralidade entre e método e conteúdo
1
.
A metodologia catequética tem sua raiz fundamentada na pedagogia de Jesus que em
sua íntima comunhão com o Pai e o Espírito Santo interage com seus interlocutores,
dando um novo sentido à vida. Na verdade, ela “não depende tanto de grandes programas
e estruturas, mas de homens e mulheres novos que encarnem essa tradição e novidade,
como discípulos de Jesus Cristo e missionários de seu Reino” (DAp 11).
Metodologia enquanto expressão, origina-se do grego e é composta por duas
palavras: método e logos μέθοδος (méthodos) e λo.γος (logos) que pode ser traduzido
por “ciência, estudo, tratado”. Portanto, método também pode ser definido como a ciência
do método. Assim sendo, podemos compreender o método como caminho que indica a
direção, as estratégias, metas e os objetivos que se desejam alcançar.
No tocante à catequese, e, sobretudo a catequese a serviço da Iniciação à vida cristã, o
método é sempre processual, pois, além de estabelecer metas e objetivos, considerando a
realidade dos interlocutores, as ciências pedagógicas e a psicologia das idades, possibilitam
um caminho interativo de amadurecimento na fé: na experiência do encontro com Jesus
Cristo e no crescimento de pertença comunitária e do compromisso social.
Diante da pluralidade de métodos que são riquezas para a catequese e a
evangelização, o Diretório para a Catequese chama atenção para a metodologia da
catequese, que tem por referência a Palavra de Deus e, por isso o princípio da fidelidade à
Palavra e à realidade da experiência humana
2
.
Ao mesmo tempo, acentua que a catequese valoriza a pluralidade desde que sejamos
guiados pelo princípio do Evangelho:
A Igreja, mantendo viva a primazia da graça, sente com responsabilidade e
sincero cuidado educacional a atenção aos processos catequéticos e ao método.
A catequese não tem um método único, mas está aberta a valorizar diferentes
métodos, relacionando-se com a pedagogia e didática, e permitindo-se guiar
pelo Evangelho necessário para reconhecer a verdade do ser humano. No
decorrer da história da Igreja, muitos carismas de serviço à Palavra de Deus
geraram diferentes itinerários metodológicos, um sinal de vitalidade e riqueza
3
.
A metodologia catequética propõe um caminho processual que conduz o
catequizando ao encontro com Jesus Cristo que dá o verdadeiro sentido da vida.
1 PONTIFICIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA EVENGELIZAÇÃO. Diretório para a catequese, n.194.
2 Uma metodologia que requer coerência, testemunho e vivência na fidelidade a Deus e às pessoas, a fim de evitar
qualquer oposição, ou separação, ou neutralidade entre método e conteúdo (DPC 194).
3 PONTIFICIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA EVENGELIZAÇÃO. Diretório para a catequese, n.195.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
21
O episcopado brasileiro em seu Documento Catequese Renovada, alerta para a
necessidade de uma metodologia que leve em consideração o princípio metodológico da
interação fé e vida.
Na catequese realiza-se uma inter-ação (= um relacionamento tuo e eficaz)
entre a experiência de vida e a formulação da fé; entre a vivência atual e o dado
da Tradição. De um lado, a experiência da vida levanta perguntas; de outro, a
formulação da é busca e explicitação das respostas a essas perguntas. De um
lado, a propõe a mensagem de Deus e convida a uma comunhão com ele; de
outro, a experiência humana é questionada e estimulada a abrir-se para esse
horizonte mais amplo
4
.
Assim sendo, nosso artigo situa-se dentro do contexto de uma metodologia de inspiração
catecumenal que proe uma catequese blico-vivencial, que provoque a experncia do
encontro pessoal e comunirio com Jesus Cristo, o pertencimento comunirio e a
transformão da sociedade. Para isso, pretende-se percorrer o itinerário de uma metodologia
cateqtica que acentua o caminho de aproximação: encontro com a Pessoa, o caminho de escuta:
encontro com a Palavra e o caminho da pedagogia da presea
5
: o encontro com a Comunidade.
1 NOVOS TEMPOS, NOVAS METODOLOGIAS
Para atender as demandas do nosso tempo é urgente uma metodologia catequética
mais apropriada. Ou seja, uma metodologia catequética processual, que favoreça os meios
e os instrumentos adequados para o anúncio e a vivência do querigma, que acompanham
os processos e itinerários catequéticos inspirados na pedagogia de Jesus que é marcada pela
valorização da pessoa, pela acolhida, pela presença, pela proximidade e pelo diálogo. Por
isso, ela possui duplo objetivo: fazer amadurecer ainicial e educar os catequizandos para
uma vida discipular em Jesus Cristo, mediante um conhecimento mais aprofundado e
sistemático da Pessoa e da mensagem de Cristo
6
.
Os novos tempos requerem uma metodologia cateqtica que vai além dos recursos
tecnológicos “é muito mais que uma técnica: é a mística do discípulo missionário”.
7
Ela não se
prende às regras e normas técnicas de um método pastoral com rigor cientíco, ela conduz à
experiência do encontro com Jesus que dá sentido à vida e desperta para o encantamento discipular.
Assim, é possível perceber que mais do que um método, faz-se necessário estabelecer
o princípio metodológico, que perpasse todo o processo iniciático da e que garanta
fidelidade na transmissão dos conteúdos e a interação com os interlocutores. Para isso, faz-
se necessário o conhecimento dos interlocutores, do conteúdo e das estratégias:
Conhecer, valorizar e respeitar as diferentes idades dos catequizandos.
Conhecer os conteúdos da catequese para poder adaptar às diferentes realidades
dos catequizandos e conhecer bem os recursos necessários para a transmissão da
fé, utilizando diferentes textos e estratégias na catequese, mas sempre
adequados aos temas e à realidade dos catequizandos, possibilitando a
participação de todos num processo permanente de educação da de forma
dinâmica, atraente e comprometida
8
.
4 CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Catequese renovada - Orientações e conteúdo, n. 113.
5 O termo Pedagogia da Presença, foi utilizado pelo pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa com relação a projetos
sociais na área de educação, onde afirma que a pedagogia da presença, enquanto teoria implica os fins e os meio de
uma modalidade de ação educativa, se propõe a viabilizar este paradigma emancipador, através de uma correta
articulação do seu ferramental teórico com propostas concretas de organização das atividades práticas (Pedagogia da
Presença-da Solidão ao Encontro, p.34).
6 JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica, Catechesi Tradendae, n.19.
7 Elli BENINCÁ; Rodinei BALBINOT, Metodologia pastoral, p.5.
8 Paulo Cesar GIL, Metodologia catequética, p.20.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
22
Esse artigo, sem a pretensão de dar resposta aos novos desafios, traz uma
colaboração no horizonte da metodologia não tanto fixada em técnicas, mas em processos
que abordam a Metodologia Catequética como um caminho de aproximação, escuta e presença
9
.
Para uma melhor compreensão da Metodologia Catequética no horizonte da
Pedagogia da Presença, buscamos dialogar com o pedagogo Antonio Carlos Gomes da Costa,
que na década de 70, desenvolveu um trabalho com educandos em situação de risco pessoal e
profissional na defesa da convivência social dos educandos. Partindo do processo educativo e
da convivência social ele sistematizou os fundamentos da pedagogia da presença, como base
para o desenvolvimento da relação entre educador e educando como força motora do
processo. Para ele, a inspiração nasceu do pensamento: Quem não sentiu, em algum momento de
sua vida, a presença de quem estava longe e a ausência de quem estava perto
10
. É um inteirar-se
pelo cotidiano das pessoas. É mais que um estar presente, é um SER PRESENÇA.
O Papa Francisco em 2003, também abordou esse tema da Pedagogia da Presença em
sua carta anual aos catequistas, ainda como cardeal em Buenos Aires
11
em cada ano ele
acentuava um tema e recordava aos catequistas a importância da fidelidade ao chamado, do
anúncio do querigma, da Igreja em saída, do deixar-se encontrar por Jesus para poder
ajudar no encontro, na proximidade e na acolhida ao outro, como também, no recomeçar
sempre a partir de Cristo.
Para ele, a pedagogia da presença se caracteriza pela capacidade de acolher, cuidar do
outro e do empenhar-se para que ninguém fique à margem do caminho, assim ele
escreveu: “Convido-te a renovar tua vocação de catequista e colocar toda tua criatividade
em “saber estar” próximo de quem sofre, realizando uma “pedagogia da presença”, para que
a escuta e a proximidade não sejam apenas um estilo, mas um conteúdo da catequese”.
Na verdade, a pedagogia da presença “é parte do esforço coletivo na direção de um
conceito e de uma prática menos irreais e mais humanos de educação, pois sua realização
permite ao educando superar o isolamento e a solidão”
12
.
Pode ser definida também, por uma metodologia segundo a qual o educador precisa
estar sempre junto do educando para que o aprendizado aconteça. Ela permite a
interatividade onde a pessoa interage com o meio em que vive com habilidades e
capacidades para escutar, dialogar, falar, participar e propor soluções conjuntas.
Na verdade, na pedagogia da presença não existe ausência. O ser humano, que é um
ser de relação, por natureza, é um ser sempre presente. Portanto, num mundo onde o ser
humano é visto e valorizado pelo sucesso do poder e do fazer, é necessário acentuar a
dimensão do SER. Na verdade, na ação evangelizadora o SER vale muito mais que o
FAZER. São as atitudes e as posturas que revelam quem somos e o que fazemos.
A relão entre catequista, catequizando, falias, comunidade e sociedade, do ponto de
vista da pedagogia da presea, baseiam-se nos princípios: abertura, acolhida, proximidade,
reciprocidade, empatia e compromisso. O outro é um irmão e irmã, companheiro de viagem, um
aprendiz sempre. Todos agem com responsabilidade e compromisso com a promoção e defesa
da vida e da casa comum. A metodologia cateqtica compreendida pelo horizonte da Pedagogia
da Presea fará grande diferea no processo inictico da fé bem como, na ação pastoral.
9 A palavra presença, embora não seja de uso frequente no domínio da pedagogia, apresenta um conteúdo relacional
que faz dela a mais exigente das realidades e desafios do nosso tempo. Segundo esse enfoque, na Pedagogia da
Presença, cada membro da Família, Sociedade e Comunidade tem sua importância fundamental e são respeitados e
valorizados em sua essência e dignidade.
10 Antonio Gomes da COSTA, Pedagogia da Presença-da Solidão ao Encontro, p.55.
11 Jorge Mário BERGOGLIO, Queridos catequistas. Cartas, homilías y discursos. Editorial: Promoción Popular Cristina,
2013. Tradução em português. Papa Francisco. Aos catequistas: Sai, buscai, batei! São Paulo: Fons Sapientiae, 2020.
12 Antonio Gomes da COSTA, Pedagogia da Presença-da Solidão ao Encontro, p.34.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
23
2 CAMINHO DE APROXIMAÇÃO COM A PESSOA (ENCONTRO)
Enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a
caminhar com eles” (Lc 24,15)
A pedagogia de Jesus, proposta pela comunidade lucana, leva o leitor a perceber um
itinerário de maturão da fé que se dá pelo processo de um itinerário que provoca encontro
com a pessoa (Lc 24,13-24), um encontro com a Palavra (Lc 24,25-27) e um encontro com a
Comunidade (Lc 24,28-35). No itinerário proposto pela comunidade lucana percebe-se todo
um processo de iniciação no conhecimento de que Jesus, com o peregrino que se aproxima
através da pedagogia da presença. É a Palavra que faz arder o coração dos discípulos, arranca-os
da escuridão, da tristeza e do desânimo, suscita neles o desejo de pertencimento: permanece
conosco, pois cai a tarde e o dia declina (Lc 24,29) e o encantamento pela missão: naquela
mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém (Lc 24,33).
Jesus se aproxima e caminha com eles, primeira atitude de abertura para que o
verdadeiro encontro aconteça. A iniciativa é do Senhor! Aproximar, caminhar e dialogar,
são atitudes fundamentais da metodologia catequética
13
.
Para a experiência humana de viver e conviver é fundamental que a pessoa esteja
disponível para o encontro com outro. Ao nascer, o ser humano chega para uma aventura
humana, nem sempre tranquila, como a quietude intrauterina. No ventre materno, em
ambiente interativo, envolvente e estimulante ao desenvolvimento da vida, o bebê passa
por inúmeras vivências multissensoriais para a sua adaptação até o nascimento. Depois de
um período tão especial, a criança vem ao mundo para interagir e viver a longa jornada de
interação com o mundo, com as pessoas e com si mesmo. É nessa fase de encontro com
pessoas importantes e significativas para a criança, que ela descobre o amor. Um amor que
se revela na sensação de confiança, segurança e afeto. Essa iniciação ao afeto e ao amor
verdadeiro é a base para a construção de uma relação com Deus.
O ambiente familiar é espaço de vida, amor e fé. A interação entre os membros da
família torna-se fundamental na arte de viver. Quando uma família participa ativamente
da vida de seus membros, de forma saudável e assertiva, contribui muito como fonte de
apoio social. O bom funcionamento da família e a qualidade das interações entre seus
membros favorecem a rica experiência do encontro.
Ao pensar a ação catequética, cabe ressaltar que toda atividade, em diferentes
dinâmicas e funcionamento, deve levar o catequizando: criança, jovem ou adulto, ao
encontro pessoal e íntimo com o Jesus Cristo. Um encontro que acontece também no
encontro entre as pessoas e delas com o Mestre.
Jesus, o catequista da Palestina, nos deixou essa lição, amar e servir, anunciar a Boa
Notícia de Deus que é a salvação para todos. “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu
Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna. De
fato, Deus o enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o
mundo seja salvo por ele” (Jo 3,16-17).
A metodologia catequética, sempre aberta para valorizar e adequar diferentes
métodos na ação educativa da catequese propõe diferentes caminhos para apresentar e
aprofundar o conteúdo e mensagens adequadas a cada idade e realidade dos catequizandos.
A Palavra de Deus é sempre a mesma, mas os diversos serviços e fases da catequese
geraram diferentes itinerários metodológicos.
13 Jesus se a conhecer numa metodologia simples; Ele aproxima-se das pessoas, dando-se a conhecer a partir das
necessidades concretas de cada situação.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
24
A idade e o desenvolvimento intelectual dos cristãos, bem como o seu grau de
maturidade eclesial e espiritual e muitas outras circunsncias pessoais exigem que a
catequese adote métodos muito diversos». A comunicação da na catequese,
que também passa pela mediação humana, continua sendo um evento da graça,
realizado pelo encontro da Palavra de Deus com a experiência da pessoa
14
.
Os caminhos propostos pela metodologia catequética, podem garantir um novo agir,
criativo, atualizado e envolvente. Todas as ferramentas, técnicas e recursos, serão
fundamentais para o processo de crescimento da e para a interação dos catequizandos e
famílias no engajamento pastoral, na vida cristã, em comunidade de vida e fé. Todos os
caminhos devem ser construídos e revelam o jeito de a Igreja compreender a si mesma e de
acolher o mundo como campo de missão.
Na história da catequese, sempre fiel à missão da Igreja que é evangelizar, é
possível destacar diferentes metodologias para uma efetiva caminhada
catequética. Diferentes métodos em diferentes momentos históricos foram
inspiradores para a Catequese em sua missão de formar discípulos missionários
de Jesus Cristo. Ele mesmo percorreu um longo caminho para formar uma
comunidade que nasceu do anúncio da Palavra
15
.
Mas todo caminho, como processo de educação da fé, favorece a rica experiência do
encontro com o Senhor e ao encantamento pela sua pessoa, pensamento e ensinamentos
que abrem a mente e o coração de quem aproxima-se dele na busca de conversão. Esse
encontro é um acontecimento para a vida inteira.
Ao início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o
encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que à vida um novo
horizonte e, desta forma, o rumo decisivo
16
.
Não podemos deixar de olhar para a missão de transmitir a cristã, sem considerar
a alegria do encontro entre as pessoas e delas com Deus.
Como um dos caminhos propostos pela metodologia catequética, o caminho do
encontro é envolvente e acolhedor porque diminui a distância entre todos nós e aproxima
as pessoas no encontro com o Senhor.
Encontramos Jesus enquanto caminhamos na direção do seu amor e na busca de suas
palavras para acolhermos a Boa Nova do Reino. E com ele podemos resgatar o que de fato
traz sentido a nossa vida. Todo catequista, mediador e educador da fé, favorece a
comunhão com a pessoa de Jesus
17
.
Como mediador o catequista também é o acompanhador. Ele caminha com seus
catequizandos levando-os no caminho do discipulado, podendo “partilhar a missão de
fazer acontecer o Reino no mundo de hoje”
18
. Com uma metodologia adequada, a catequese
prepara-se para um novo tempo. Estamos diante de um desafio que requer novas
iniciativas para orientar a vida dos catequizandos, pautado nos valores do Evangelho.
O caminho do encontro é sustentado pelo exemplo de Jesus que se aproxima das
pessoas para um convite especial: pensar e agir com coerência e liberdade, mas também,
viver e anunciar o que se crê e assumir uma vida comunitária e solidária.
14 PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA NOVA EVANGELIZAÇÃO, Diretório para a Catequese, n.195.
15 Paulo Cesar GIL, Metodologia catequética, p.10.
16 BENTO XVI, Carta Encíclica Deus Caritas Est, n.1.
17 A finalidade definitiva da catequese é a de fazer que alguém se ponha, não apenas em contato, mas em comunhão, em
intimidade com Jesus Cristo: somente Ele pode levar ao amor do Pai no Espírito e fazer-nos participar na vida da
Santíssima Trindade (CT n.5)
18 CNBB, Iniciação à vida cristã: itinerário para formar discípulos missionários, n.39.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
25
O encontro com Jesus é uma grande oportunidade para se sentir livre e para
viver e celebrar a alegria do amor. Estar com Ele é uma experiência inspiradora
e motivadora para a simplicidade, pois Deus se torna simples querendo
encontrar e relaciona-se com cada pessoa humana. Assim, o encontro entre as
pessoas deveria se dar na mesma disposição... Quando pessoas se encontram,
vidas se encontram
19
.
O encontro entre nós e com nossos catequizandos, faz o caminho do discipulado
tornar-se mais fecundo. O cristão, discípulo missionário do Mestre e Senhor Jesus, se
torna mais que um ouvinte, é um aprendiz que aprende enquanto caminha. Não é o
método que realiza o encontro, mas a disponibilidade para encontrar Jesus: Caminho,
Verdade e Vida (Jo 14,6).
3 CAMIN HO DE ENCONTRO COM A PALAVRA
E, começando com Moisés e percorrendo todos os Profetas, interpretou-lhes em todas as
Escrituras o que a ele dizia a respeitos” (Lc 24,27)
A catequese de Jesus começa pela memória da Palavra de Deus, para relembrar aos
discípulos que o caminho percorrido pelo Cristo, já estava previsto nelas: E, começando por
Moisés e passando por todos os profetas, explicou todas as Escrituras, as passagens que se referiam a
ele (Lc 24,27).
Por meio da pedagogia da presença, Jesus faz com que os discípulos gradativamente
abram os olhos para enxergar os acontecimentos com o um novo olhar. O olhar das
Escrituras. Palavra que aquece o coração e desperta o encantamento para a missão.
Recorrendo às Escrituras, Jesus faz a narrativa da pedagogia divina, do plano salvífico do
Pai. Do mesmo modo se dirige a nós, discípulos desta época em mudanças, para
descobrirmos diante de nossos olhos e nosso coração a boa nova do evangelho que
sentido às situações vitais e recria a esperança de um novo tempo.
O encontro com a Palavra de Deus gera novos discípulos missionários de Jesus
Cristo em comunidades eclesiais missionárias
20
com espírito de pertencimento, adesão e
acolhida à Palavra que requer esforço para compreender e testemunhar a mensagem.
A Bíblia, palavra de Deus, ocupa lugar especial na vida dos ouvintes: nela, a Igreja
reconhece o testemunho autêntico da Revelação divina. Por isso, a grande insistência
desde João Paulo II “a fonte na qual a catequese busca a sua mensagem é a Palavra de Deus.
A catequese de haurir sempre o seu conteúdo na fonte viva da Palavra de Deus,
transmitida na Tradição e na Escritura” (CT 27). Na mesma linha insistia Bento XVI: “a
atividade catequética implica em abeirar-se das Escrituras na e na Tradição da Igreja, de
modo que aquelas palavras sejam sentidas vivas, como Cristo está vivo hoje onde duas ou
três pessoas se reúnem em seu nome (Mt 18, 20)” (VD 74).
A Palavra provoca um encontro que contagia. A Igreja é uma comunidade que
escuta e anuncia a Palavra de Deus. Ela não vive de si mesma, mas do Evangelho; e do
Evangelho tira, sem cessar, orientação para o seu caminho.
Por isso, a insistência dos bispos no Brasil em acentuar a Leitura Orante da Bíblia
como caminho de encontro com a Palavra que um novo rumo à vida de quem se deixa
encontrar-se por ela. O discípulo missionário é convidado a redescobrir o contato pessoal e
19 Paulo Cesar GIL, Metodologia catequética, p.54.
20 O termo Comunidades Eclesiais Missionárias (CEM) é utilizado pelo Episcopado Brasileiro nas Diretrizes Gerais da
Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil 2019-2023, na 57ª Assembleia Geral em Aparecida, 01 a 10 de maio de 2019,
para acentuar a importância das comunidades como espaço acolhida, formação de discípulos missionários e do
vínculo de pertença comunitária.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
26
comunitário com a Palavra de Deus como lugar privilegiado de encontro com Jesus Cristo.
Na verdade, a Leitura Orante da Palavra de Deus é um recurso muito importante para
iniciar novos cristãos e, ao mesmo tempo, manter toda a comunidade no caminho da
escuta obediente da Palavra.
A Igreja hoje tem consciência de que “particularmente as novas gerações têm
necessidade de ser introduzidas na Palavra de Deus através do encontro e do testemunho
autêntico do adulto, da influência positiva dos amigos e da grande companhia que é a
comunidade eclesial” (VD 97).
O processo catecumenal propõe uma catequese “impregnada e embebida de
pensamento, espírito e atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um contato assíduo com
os próprios textos sagrados” (VD 74).
Narrar, explicar as Escrituras é lembrar a prática, a missão e os ensinamentos de
Jesus. Essa prática pedagógica de Jesus ensinar gerou uma mudança de mentalidade e de
atitude nos discípulos a ponto de voltar para a missão em comunidade. Retornam pelo
mesmo caminho, mas com um novo olhar. “Uma comunidade que assume a iniciação
cristã renova sua vida comunitária e desperta seu caráter missionário” (DAp 291).
O percurso realizado por Jesus com os discípulos de Emaús, é um modelo
inspirador para a inicião à vida cristã em seu núcleo essencial, pois trata-se de um
encontro vital com o Senhor, ampliando a audição e compreensão de sua palavra, a
adesão ao seu projeto e a celebrão da fé. Assim diz Aparecida: a iniciação cris dá a
possibilidade de uma aprendizagem gradual no conhecimento, no amor e no seguimento
de Cristo. Ela forja a identidade cristã com as convicções fundamentais e acompanha a
busca do sentido da vida” (DAp 291).
Tornemos a nossa catequese cada vez mais narrativa. O evangelho é uma narrativa
catequética da vida e dos ensinamentos de Jesus. A catequese, e, sobretudo, a catequese de
inspiração catecumenal, precisa ser narrativa, ou seja, partir dos atos e palavras de Jesus
que, nele, Deus se revela, e não, somente, expor ideias e doutrinas. Não se trata apenas de
contar a vida de Jesus, mas de mostrar que em Jesus o caminho da de Israel, chega à sua
plenitude e revela o caminho salvador de Deus, presente desde sempre de diversas formas.
Além dos discípulos de Emaús, encontramos no Novo Testamento vários exemplos
de pessoas que, ao fazerem a experiência da no encontro com Jesus Cristo, seus sonhos
foram alimentados e suas vidas transformadas. Vejamos alguns deles: Nicodemos e sua
ânsia de vida eterna (Jo 3,1-21); O cego Bartimeu, modelo de discipulado que acolhe a cura
e se torna seguidor de Jesus: No mesmo instante recuperou a vista e O seguiu no caminho (Mc
10,52). Zaqueu, com sua vontade de ser diferente, passa por uma mudança radical: Senhor,
eis que dou a metade de meus bens aos pobres, e se desfraudei a alguém, restituo-lhe o
quádruplo (Lc 19, 8); O cego de nascimento e seu desejo de luz interior (Jo 9); A
Samaritana e seu desejo de saciar sua sede. Ela pede da água da Vida e se torna missionária
entre o seu povo: Senhor, -me desta água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha que vir
aqui para tirá-la(...) a Mulher, então, deixou seu cântaro e correu à cidade, dizendo: Vinde ver
um homem que diz tudo o que fiz (Jo 4,15.28-29). Todos eles, graças a esse encontro, foram
iluminados e recriados, porque se abriram à experiência da misericórdia do Pai, que se
oferece por sua Palavra de verdade e vida (DAp 249).
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
27
4 CAMINHO DE ENCONTRO COM A COMUNIDADE
Entrou então paracar com eles. E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-
o, depois partiu-o e deu-o a eles. Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para
Jerusalém, onde a comunidade estava reunida” (Lc 24,29-30.33)
A acolhida, a proximidade e o caminhar, juntos, são pequenos gestos que fazem toda a
diferença na ação evangelizadora. O Papa Francisco insiste numa Igreja que vai ao
encontro das pessoas:
a Comunidade missionária experimenta que o Senhor tomou a iniciativa,
precedeu-a no amor (cf. Jo 4,10), e, por isso, ela sabe ir à frente, sabe tomar a
iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às
encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos. Convida mesmo para
atitudes corajosas: Ousemos um pouco mais no tomar iniciativa! (EG 24).
Acolher e evangelizar são objetivos que requerem atitudes concretas de conversão.
“O pondo de partida da conversão missionária é sair, aproximar-se das pessoas e acolhê-las
nas situações em que se encontram” (EG 177).
Quando se aproximam da aldeia, os discípulos, então, tomam a iniciativa e
convidam Jesus para permanecer com eles. Jesus agora, já o é mais o peregrino,
estrangeiro, mas o hóspede esperado. Na tradição bíblica, convidar uma pessoa para entrar
na casa e fazer uma refeição junto, se faz com amigos e familiares. Quando cresce a
confiança se estabelecem relações. O tempo é favorável para uma refeição: é tarde e o dia
declina (Lc 24,29). Ao cair da tarde, aquela ceia dos discípulos de Emaús com Jesus (Lc
24,30) é a fração do pão” (At 2,42), que o evangelista Lucas apresenta quase com os
mesmos verbos empregados no relato da instituição da Eucaristia (Lc 22,19). A palavra é
compreendida a partir da experiência concreta do partir o pão. Não estava ardendo nosso
corão quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?(Lc 24,32). A palavra
aquece o coração, a eucaristia, gesto da partilha, abre os olhos para a missão.
Jesus ao narrar as Escrituras e ao partir o pão, aquece o coração dos Discípulos que
retomam no caminho de volta para Jerusalém com novo sentido de vida. Com o coração
aquecido, eles se põem a caminho, ao encontro dos outros discípulos, para contar a alegria
do encontro, assumir a missão de formar comunidades e anunciar a boa nova de Jesus
Cristo. Os discípulos voltam à comunidade com um novo olhar. Refazem o caminho, com
espírito novo e com melhor compreensão da missão.
As Escrituras indicam o caminho a seguir. Os discípulos de Emaús reconhecem o Mestre
e expressam seu entusiasmo dizendo:Não estava ardendo nosso coração...?”. O corão aquecido os
impulsionou para o dinamismo, para a missão. É com renovado ardor pela presea e
proximidade com o Ressuscitado que os olhos se abrem e o coração se aquece. Agora, o novo
ardor se espalha. Sai do coração e chega à mente, à conscncia e desce aos s daqueles que
evangelizam (Is 52,7). Eles compreendem e interpretam o caminho percorrido e essa tomada de
conscncia, interpretando o próprio itinerio, é fundamental no processo evangelizador.
A rotina pastoral, catequética e celebrativa, em lugar de atrair, muitas vezes afasta as
pessoas. O Documento de Aparecida ressalta que nenhuma comunidade deve isentar-se de
entrar decididamente, com todas as forças, nos processos constantes de renovação missionária e de
abandonar as ultrapassadas estruturas, que não favoreçam a transmissão da (DAp 365). É
necessário criatividade e entusiasmo dos evangelizadores e da própria comunidade, pois a
conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera
conservação para uma pastoral decididamente missionária” (DAp 370).
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
28
A Eucaristia é comunhão com a Palavra e com o Corpo do Senhor, o corpo
sacramental, que é o pão eucarístico, e com corpo eclesial, que é a Igreja. Em cada
celebração eucarística “o encontro com o Ressuscitado se realiza mediante a participação
na dupla mesa da Palavra e do Pão da Vida” (DD 39).
No encontro com Jesus Cristo, os discípulos são reconduzidos no caminho de volta
para Jerusalém. O encontro com Jesus devolve a eles as condições para a sua reintegração
na comunidade, espaço vital onde se pode fazer a experiência do Ressuscitado e ambiente
que sustenta e legitima a proclamação da em Cristo vivo. “A comunidade é o lugar por
excelência da catequese. É o lugar da iniciação à vida cristã e da educação na das
crianças, adolescentes, jovens e adultos batizados e não suficientemente evangelizados”
21
.
É a partir de Jerusalém que o querigma precisa ser anunciado: Mas vós recebereis o
poder do Espírito Santo que virá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, por toda
a Judeia e Samaria, e até os conns da terra” (At 1,8).
O caminhar e o permanecer de Jesus com os discípulos possibilitaram o itinerário da
iniciação à fé. O Papa Francisco nos adverte afirmando que o olhar de Jesus gera uma
atividade missionária, de servo, de entrega.
De fato, o discípulo missionário é um itinerante, está sempre a caminho. A narrativa
não termina no rito gestual de partilha, nem na emoção do encontro ou na celebração,
mas relata a mudança de atitude na vida dos discípulos. O encontro com o Ressuscitado
transforma o medo em coragem; a fuga, em empolgação; o retorno, em nova iniciativa; o
egoísmo, em partilha e compromisso até a entrega da vida. Assim, mais do que o relato de
um encontro de discípulos com Jesus, o texto de Lucas é proposta de resposta, de
comunhão, de comunidade, de missão e de entrega até o fim.
Assim, todo o batizado é constitutivamente discípulo missionárionão existe missão
sem iniciação. A iniciação à vida cristã trata-se, de um novo estilo de vida. O processo se
de forma interativa, com criatividade e ousadia da iniciativa. O iniciado é
comprometido e próximo da realidade em que se encontra (envolver-se); acolhedor e
disponível para fazer caminho com todos (acompanhar); paciente para recolher os frutos da
sua ação no tempo oportuno (fruticar); capaz de celebrar os pequenos e os grandes passos
da vida (festejar) (EG 24).
CONCLUSÃO
Ao percorrer o caminho da metodologia catequética pelo horizonte da pedagogia da
presença foi possível perceber que falar ao coração das novas gerações requer criatividade,
ousadia e coragem na busca de uma metodologia que seja sólida e eficaz em suas metas e
estratégias.
A metodologia catequética tem sua raiz fundamentada na pedagogia de Jesus que em
sua íntima comunhão com o Pai e o Espírito Santo interage com seus interlocutores,
dando um novo sentido à vida. Na verdade, ela “não depende tanto de grandes programas
e estruturas, mas de homens e mulheres novos que encarnem essa tradição e novidade,
como discípulos de Jesus Cristo e missionários de seu Reino” (DAp 11).
Por isso, é real a necessidade de aprofundar o tema e propor uma metodologia
cateqtica que acentua o caminho de aproximação e encontro com a Pessoa, o caminho de escuta
e encontro com a Palavra e o caminho da pedagogia da presea e o encontro com a Comunidade.
21 CNBB, Diretório Nacional de Catequese, n.301.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.
29
No tocante à catequese, e, sobretudo a catequese a serviço da Iniciação à vida cristã, o
método é sempre gradual, pois além de estabelecer metas e objetivos, considerando a
realidade dos interlocutores, das ciências pedagógicas e da psicologia das idades, possibilita
um caminho interativo de amadurecimento na fé, da experiência do encontro com Jesus
Cristo e do crescimento na pertença comunitária e no compromisso social.
A pedagogia da presença vem de encontro com a metodologia de inspiração
catecumenal que pressupõe uma catequese bíblico-vivencial, que provoca a experiência do
encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, o pertencimento comunitário e a
transformação da sociedade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BENINCÁ, Elli; BALBINOT, Rodinei. Metodologia pastoral: mística do discípulo missionário. São
Paulo: Paulinas, 2009.
BERGOGLIO, Jorge Mario. Papa Francisco. Aos catequistas: S, buscai, batei! São Paulo: Fons
Sapientiae, 2020.
BÍBLIA SAGRADA Tradução Oficial da CNBB. Brasília: Edições CNBB, 2019.
CALANDRO, Eduardo. Pedagogia da presença: o saber estar, saber sentir, saber servir do catequista/Pe.
Eduardo Calandro, Pe. Jordélio Siles Ledo, Pe. Rafael Gonçalves. 1.ed., São Paulo: Paulus, 2020.
Coleção Pedagogia Catequética.
CNBB. Catequese renovada - Orientações e conteúdo. Documentos da CNBB, n.26. o Paulo:
Paulinas, 1983.
CNBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil: 2019-2023. Documentos da CNBB,
n.109. Brasília: Edições CNBB, 2019.
CNBB. Iniciação à Vida Cristã: Itinerário para formar discípulos missionários. Documentos da CNBB,
n.107. Brasília: Edições CNBB, 2015.
CELAM. Documento de Aparecida. Brasília: Edições CNBB; São Paulo: Paulus/Paulinas, 2007.
COSTA, Antonio Gomes da. Pedagogia da Presença-da Solidão ao Encontro. Editora: Modus Faciendi,
2ª ed., Belo Horizonte, 2001.
FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. São Paulo: Paulinas, 2013.
GIL, Paulo Cesar. Metodologia catequética: caminhos para iluminar e comunicar a . Petrópolis:
Editora Vozes, 2021.
SANTOS, Maria de Fátima. Pedagogia da presença: uma estratégia para o sucesso escolar. Dissertação de
Mestrado. Universidade Federal da Paraíba, 2016.
BARBOSA, Maria Aparecida; GIL, Paulo Cesar
Reflexões sobre a Metodologia Catequética: um caminho de aproximação, escuta e presença
Revista Teopxis,
Passo Fundo, v.39, n.133, p. 19-29, Jul./Dez./2022. ISSN On-line: 2763-5201.